30/08/2019

Bolsonaro incentiva queimadas ao dar “sinal de impunidade para a prática de crimes ambientais”, afirmam organizações

Organizações divulgam declaração sobre crise ambiental no Brasil, entregue por liderança indígena ao presidente Macron, da França, após reunião do G7

Imagem de queimadas na Serra do Cachimbo, Reserva Biológica em Altamira, PA. Foto: Victor Moriyama/Greenpeace

Por Ascom Cimi

Organizações da sociedade civil tornaram pública na última segunda-feira (26) uma declaração que expõe o agravante quadro de desmatamento e queimadas na Amazônia. Após o assunto ser pauta da reunião de cúpula do G7, na França, o texto foi entregue pelo cacique Kayapó Raoni Metuktire diretamente ao presidente daquele país, Emmanuel Macron. A liderança reforçou a demanda do grupo de mais de 50 organizações, que exige que o governo brasileiro adote uma “postura responsável, liderando um conjunto de esforços de atores públicos, privados e da sociedade civil no enfrentamento desse gravíssimo problema”.

A catastrófica política ambiental de Bolsonaro esteve na pauta da reunião do Grupo dos Sete quando Emmanuel Macron, presidente da França, indicou a possibilidade de bloquear o acordo comercial da União Europeia com o Mercosul. O convênio foi posto em risco devido a “Bolsonaro não dizer a verdade” sobre a preservação da Amazônia. A criação de medidas que garantam barreiras internacionais para exportação de commodities “oriundos de áreas com desmatamento recente e com violações dos direitos humanos na Amazônia” é um dos conclaves aos países membros do G7 expostos no documento assinado por 55 entidades. Leia a nota na íntegra

Jair Bolsonaro, desde quando era candidato, sinalizava para a flexibilização no marco legal de licenciamento ambiental a fim de permitir empreendimentos de infraestrutura, mineração e do agronegócio de altíssimo risco e impacto ambiental. Hoje presidente, assume como política de governo um “claro sinal de impunidade para a pratica de crimes ambientais”, segundo o texto.

O que soa irônico para as organizações é que “ações, omissões e discursos” do presidente não apenas “tornaram o Brasil um pária global numa área em que ele era protagonista”, mas também ameaçam o “futuro do próprio agronegócio do Brasil, setor que o presidente diz defender”. Através da fumaça, Bolsonaro deixa nebulosa a economia de exportação. No setor do couro, mais de 18 marcas internacionais avaliam suspender compras devido à política ambiental brasileira.

“A posição do Bolsonaro incentiva fazendeiros a atear fogo, porque eles sentem respaldados por um chefe de Estado”, denunciou Raoni Metuktire a jornalistas, após a reunião que teve com Macron.

Sucateamento dos Órgãos Ambientais

A política de desmonte das instituições de fiscalização dos órgãos públicos responsáveis pela gestão socioambiental, os cortes orçamentários e a perseguição a funcionários de órgão ambientalistas são consequências das políticas assumidas pelo governo federal, indicam as entidades. Um dos exemplos citado na nota é o “abandono do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAm)”, responsável pela queda dos índices de desmatamento entre 2005 e 2012.

O texto lembra ainda das “tentativas [por parte do governo] de descredenciar as instituições técnicas do governo responsáveis por informar sobre a situação ambiental, como o Inpe”. Jair Bolsonaro demitiu Ricardo Galvão, presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), após desacreditar dados científicos que indicaram o aumento de 212% do desmatamento de junho, comparado ao mesmo mês do ano de 2018.

” Bolsonaro tem incentivado a criminalização de movimentos sociais e ONGs, chegando ao absurdo de culpá-las pelo aumento das queimadas na Amazônia”

Bolsonaro promove “desmonte sistemático e deliberado da capacidade operacional do IBAMA e de outros órgãos federais responsáveis pela fiscalização de atos ilegais de grilagem de terras públicas, derrubadas e queimadas, e exploração madeireira e mineral”, pontua o documento. As entidades denunciam também o “aparelhamento dos órgãos públicos responsáveis pela gestão socioambiental do país, com a indicação de pessoas ligadas aos interesses imediatistas dos ruralistas e outros setores regulados”.

Terras Indígenas

A nota pontua a recusa em demarcar terras indígenas por parte do governo, em “investidas para abri-las para exploração por mineradoras, hidrelétricas e pelo agronegócio”. O que aclara o texto é uma conjuntura anti-indígena anunciado desde o primeiro dia de governo, quando Bolsonaro assinou a MP 870 que retirava da Funai as suas principais atribuições, de proceder aos estudos de identificação e delimitação de terras. A medida foi derrotada no Supremo Tribunal Federal (STF).

 

As ações do Estado promovem “o aumento do desmatamento e queimadas na Amazônia, em conjunto com a grilagem de terras e a exploração ilegal de madeira e outros recursos naturais”. Para as organizações, são medidas que estão “diretamente vinculado ao aumento de atos de violência contra povos indígenas, comunidades tradicionais e movimentos sociais”.

Foto: Tiago Miotto/Cimi

Foto: Tiago Miotto/Cimi

Entre as medidas urgentes apontadas pela declaração está o “apoio efetivo a ações urgentes de combate a crimes ambientais associados à grilagem de terras públicas, desmatamento, queimadas e exploração ilegal de recursos naturais”, o “destravamento de processos de demarcação e homologação de territórios indígenas, assim como os direitos territoriais de comunidades quilombolas e outras populações tradicionais”, e o “congelamento de projetos legislativos que retrocedam na proteção ambiental, em linha com a proposta recente dos ex-ministros do Meio Ambiente do Brasil”.

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