29/07/2019

Povo Munduruku expulsa madeireiros de seu território durante autodemarcação

Munduruku dão continuidade ao processo de fiscalização da Terra Indígena Sawre Muybu, no Médio Tapajós, e denunciam devastação de madeireiros e garimpeiros

Foto: povo Munduruku

Foto: povo Munduruku

Por Assessoria de Comunicação do Cimi

O povo Munduruku do Médio e do Alto Tapajós realizou, recentemente, a quinta etapa da autodemarcação da Terra Indígena (TI) Sawre Muybu, chamada pelos indígenas de território Daje Kapap Eipi. Os Munduruku afirmam ter encontrado aberturas e vários ramais de madeireiros e palmiteiros no interior da terra indígena, e expulsado os invasores da área, durante uma expedição de mais de cem quilômetros território adentro.

“Nós expulsamos dois grupos de madeireiros que invadiram o nosso território. Ficamos muito revoltados por ver as nossas árvores derrubadas e as nossas castanheiras como torra de madeira em cima de um caminhão”, relatam os Munduruku, em comunicado da Associação Indígena Pariri publicada nesta segunda (29).

A Associação afirma que os indígenas deram um prazo de três dias para que os invasores retirassem seu maquinário de dentro da terra. “E com muita pressão, eles passaram a madrugada toda retirando 11 máquinas pesadas, 2 caminhões, 1 quadriciclo, 1 balsa e 8 motos. Todos sem placa”, aponta a nota.

“Os invasores estão matando a nossa vida e derramando a sangue da nossa floresta. A nossa vida está em perigo”

Foto: povo Munduruku

Foto: povo Munduruku

Os indígenas também contam que tiveram beber “água suja do rio Jamanxim”, em função da poluição provocada pelo garimpo ilegal.

“Sozinhos conseguimos expulsar madeireiros que nem o ICMBio, Ibama e Funai conseguiram”, criticam os Munduruku. “Os invasores estão matando a nossa vida e derramando a sangue da nossa floresta. A nossa vida está em perigo”.

“Será que vai precisar morrer outros parentes, como aconteceu com a liderança Wajãpi, para que os órgãos competentes atuem?”

Foto: povo Munduruku

Foto: povo Munduruku

Em 2014, o povo Munduruku iniciou a autodemarcação da TI Sawre Muybu, cujo relatório circunstanciado de identificação e delimitação foi publicado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) apenas em 2016, após muita pressão dos indígenas. No mesmo ano, o Ibama arquivou o processo de licenciamento da Usina Hidrelétrica (UHE) São Luís do Tapajós, que seria construída no curso médio do rio Tapajós e afetaria diretamente o território Munduruku, alagando inclusive algumas aldeias. Apesar do arquivamento, os planos de construção da hidrelétrica seguem presentes e ainda ameaçam demarcação da área.

Nos últimos anos, os indígenas vêm lutando contra os grandes projetos e denunciando as invasões de madeireiros, garimpeiros e palmiteiros na terra indígena. “Será que vai precisar morrer outros parentes, como aconteceu com a liderança Wajãpi, para que os órgãos competentes atuem?”, questionam os Munduruku.

“Vamos continuar mostrando a nossa resistência e a nossa autonomia. Estamos aqui defendendo o que é nosso e não dos pariwat”

Foto: povo Munduruku

Foto: povo Munduruku

Leia a nota na íntegra:

Comunicado dos Munduruku

A nossa autodemarcação e defesa do nosso território continua

Nós o povo Munduruku do Médio e Alto Tapajós continuamos a autodemarcação do nosso território Daje Kapap Eipi, conhecido como Terra Indígena Sawre Muybu. Nós andamos mais que 100 km no nosso território, na terra que já possui o Relatório Circunstancial de Identificação e Delimitação publicado no diário oficial desde abril de 2016. Organizados em 5 grupos– os guerreiros Pusuru Kao, Pukorao Pik Pik, Waremucu Pak Pak, Surup Surup e a guerreira Wakoborun– continuamos defendendo o nosso território sagrado. Assim sempre foi a nossa resistência. Como nossos antepassados sempre venciam as batalhas e nunca foram atingidos pelas flechas dos inimigos, nós também continuamos limpando os nosso picos, fiscalizando, formando grupos de vigilância e abrindo novas aldeais, como Karoebak no Rio Jamanxim.

Durante essa quinta etapa da autodemarcação e nossa retomada, nós encontramos novas aberturas e vários ramais de madeireiros e palmiteiros dentro da nossa terra. Nós expulsamos dois grupos de madeireiros que invadiram o nosso território. Ficamos muito revoltados por ver as nossas árvores derrubadas e as nossas castanheiras como torra de madeira em cima de um caminhão. E nós sabemos que quando retiram madeira, vão querer transformar nossa terra em um grande pasto para criar gado. Por isso, demos um prazo de 3 dias para os invasores retirarem todo o equipamento deles. Nós estávamos armados com nossos cânticos, nossa pintura, nossas flechas e a sabedoria dos nossos antepassados. E com muita pressão, eles passaram a madrugada toda retirando 11 máquinas pesadas, 2 caminhões, 1 quadriciclo, 1 balsa e 8 motos. Todos sem placa. Na retomada, andamos 26 km vigiando os ramais que os madeireiros fizeram no nosso território e bebendo água suja do rio Jamanxim que está poluída pelo garimpo. Sozinhos conseguimos expulsar madeireiros que nem o ICMBIO, IBAMA e FUNAI conseguiram. E sabemos que dentro da Flona de Itaituba II, tem pista de pouso.

Os invasores estão matando a nossa vida e derramando a sangue da nossa floresta. A nossa vida está em perigo. Mas por isso, nós vamos continuar mostrando a nossa resistência e a nossa autonomia. Somos capazes de cuidar e proteger o nosso território para nossos filhos e as futuras gerações. Ninguém vai fazer medo e ninguém vai impedir porque nós mandamos na nossa casa que é nosso território. Estamos aqui defendendo o que é nosso e não dos pariwat. Por isso sempre vamos continuar lutando pelas demarcações dos nossos territórios. Nunca vão nos derrubar. Nunca vamos negociar o que é sagrado.

Será que vai precisar morrer outros parentes, como aconteceu com a liderança Wajãpi, para que os órgãos competentes atuem?

 

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