29/07/2019

“Continuamos muito preocupados com os invasores na nossa terra indígena”, afirmam Wajãpi em nova nota

Indígenas divulgaram nota pedindo apoio da Funai para que as buscas por invasores na Terra Indígena Wajãpi continuem

Povo Wajãpi, durante comemoração dos vinte anos da demarcação da TI, em 2016. Foto: Rede de Cooperação Amazônica (RCA)

Povo Wajãpi, durante comemoração dos vinte anos da demarcação da TI, em 2016. Foto: Rede de Cooperação Amazônica (RCA)

Por Assessoria de Comunicação do Cimi

Na tarde desta segunda-feira (29), o Conselho das Aldeias Wajãpi – Apina divulgou nova nota, atualizando as informações sobre as investigações policiais na Terra Indígena (TI) Wajãpi. Após o assassinato da liderança Emyra Wajãpi, na semana passada, os indígenas afirmam que seguem apreensivos com a presença de invasores em seu território.

“Continuamos muito preocupados com os invasores que estão na região norte da nossa Terra Indígena. Nas aldeias desta região as famílias estão com muito medo de sair para as roças ou para caçar”, afirmam os Wajãpi.

Também nesta segunda, a Funai afirmou, em nota, que a equipe da Polícia Federal que esteve na terra indígena informou, ontem à noite, “não haver nenhum indício, até o momento, da presença de grupo (s) armado (s) no local”.

Equipes da Polícia Federal e do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope) chegaram à terra indígena na manhã de domingo. Os Wajãpi, em sua nota, relatam que os policiais foram até a aldeia Yvytotõ, de onde indígenas fugiram após a chegada de homens armados, e a outro local onde os invasores haviam se escondido, mas que, “quando chegaram lá, não tinha mais ninguém no local, apenas rastros”.

“Continuamos muito preocupados com os invasores que estão na região norte da nossa Terra Indígena”

Os indígenas informam que os policiais não seguiram os rastros dos invasores apontados pelos Wajãpi na mata. Segundo a nota, os policiais afirmaram que a região “é de difícil acesso e que não tinham condições de permanecer lá e dar continuidade às buscas pelas dificuldades de deslocamento e alimentação”.

No sábado, um Gabinete de Gerenciamento de Crise (GGC) foi constituído pelo Ministério Público Federal (MPF), pela PF, pelo Ministério Público do Amapá, pelo Exército, pela Funai e pela Secretaria de da Justiça e Segurança Pública do Amapá para investigar a invasão e o assassinato da liderança na terra indígena.

Segundo o Apina, a polícia já deixou a terra indígena e informou que passará a estudar a região por meio de imagens de satélite e, caso elas identifiquem sinais de garimpo na região, serão feitos sobrevoos de averiguação. Os Wajãpi, por outro lado, reforçam que seguem preocupados com a presença de invasores e pedem apoio da Funai para continuar as buscas no solo.

“Algumas comunidades saíram de suas aldeias para se juntar com famílias de outras aldeias para se sentirem mais seguras. Por isso nossos guerreiros de todas as regiões da TI estão se organizando para ajudar os guerreiros da região do Mariry, que continuam procurando os invasores, e pedimos apoio da Funai para isso”, afirma a nota.

Em manifestação anterior, os indígenas já haviam confirmado a presença de invasores em diferentes aldeias no interior da TI Wajãpi. Eles também afirmaram ter encontrado “rastros e outros sinais” de que a morte da liderança Emyra Wajãpi, ocorrida no dia 23, “foi causada por pessoas não-indígenas, de fora da terra indígena”.

Leia o documento na íntegra:

2ª NOTA DO APINA SOBRE A INVASÃO DA TERRA INDÍGENA WAJÃPI

Nós do Conselho das Aldeias Wajãpi – Apina queremos divulgar as informações que temos hoje, dia 29 de julho de 2019, sobre a invasão da Terra Indígena Wajãpi.

Domingo, dia 28/07, as equipes de polícia chegaram à aldeia Mariry no início da tarde e seguiram para a aldeia Yvytotõ acompanhados por nossos guerreiros. Quando chegaram lá, não tinha mais ninguém no local, apenas rastros dos invasores. Os policiais marcaram os pontos no GPS e tiraram fotos. Os guerreiros levaram a equipe da polícia até um local onde os invasores tinham se escondido no dia 26, mas lá também não tinha mais ninguém. Depois disso, os policiais disseram que não poderiam procurar os invasores dentro da mata seguindo os rastros que mostramos e voltaram para a aldeia Mariry e depois para o posto Aramirã, onde chegaram por volta das 21h30.

No Aramirã, os policiais se reuniram com representantes da Funai, do Apina, das aldeias da região do Aramirã e da Prefeitura de Pedra Branca. Eles falaram que a região da aldeia Yvytotõ é de difícil acesso e que não tinham condições de permanecer lá e dar continuidade às buscas pelas dificuldades de deslocamento e alimentação. Na reunião, o delegado falou que vai estudar a região ao redor da aldeia através de imagens de satélite, para verificar se tem sinais de garimpos dentro da Terra Indígena Wajãpi. Se as imagens mostrarem sinais, vão fazer sobrevoos para verificar. Depois da reunião, as equipes de polícia retornaram para Macapá.

Nós Wajãpi continuamos muito preocupados com os invasores que estão na região norte da nossa Terra Indígena. Nas aldeias desta região as famílias estão com muito medo de sair para as roças ou para caçar. Algumas comunidades saíram de suas aldeias para se juntar com famílias de outras aldeias para se sentirem mais seguras. Por isso nossos guerreiros de todas as regiões da TIW estão se organizando para ajudar os guerreiros da região do Mariry, que continuam procurando os invasores, e pedimos apoio da Funai para isso.

Se tivermos informações novas, iremos fazer outras notas.

Posto Aramirã – Terra Indígena Wajãpi, 29 de julho de 2019.

 

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