22/04/2019

“Não negociaremos um milímetro de nossas terras”, afirma Conselho Indígena de Roraima

Em carta, Conselho Indígena de Roraima (CIR) repudia declarações sobre povos indígenas e as terras de Roraima feitas pelo presidente Jair Bolsonaro

Lideranças indígenas reunidas na 48ª Assembleia do Conselho Indígena de Roraima. Foto por José Rosha

Lideranças indígenas reunidas na 48ª Assembleia do Conselho Indígena de Roraima. Foto: José Rosha/Cimi Norte I

O Conselho Indígena de Roraima (CIR) divulgou uma carta em que repudia o discurso feito pelo presidente Jair Bolsonaro em um vídeo transmitido ao vivo em suas redes sociais na última quinta-feira (17). “Raposa Serra do Sol é uma terra livre. Sua riqueza está preservada por causa dos povos indígenas que respeitam a natureza”, afirma a organização, que representa mais de 49 mil indígenas de 241 comunidades e oito povos de Roraima.

Além de Bolsonaro, participaram da “live” alguns indígenas, o senador Chico Rodrigues (DEM-RR) e o secretário de assuntos fundiários Nabhan Garcia, pecuarista e ex-presidente da União Democrática Ruralista (UDR).

Para o CIR, as manifestações de Bolsonaro em favor da abertura das terras indígenas à exploração minerária, aos grandes empreendimentos e ao agronegócio durante a transmissão são “um ataque aos direitos constitucionais e o modo de vida dos povos indígenas”. Na avaliação da organização, com seu discurso o presidente incentiva a invasão das terras indígenas, ignora a diversidade cultural e alimenta o preconceito contra os povos indígenas em Roraima, ao afirmar que suas terras são entraves ao desenvolvimento do estado.

“Não negociaremos nenhum centímetro de nossa terra indígena, aliás, nenhum milímetro de nossa terra”, afirma a carta, fazendo referência às manifestações de Bolsonaro na campanha eleitoral, durante a qual afirmou que não demarcaria “um centímetro” de terras indígenas e, quando questionado, corrigiu-se dizendo que na verdade não demarcaria “nenhum milímetro”.

“Nossas terras não estão à disposição para empresas mineradoras, setores do agronegócio e nem para construção de hidrelétricas. Não aceitaremos nenhum empreendimento desse porte porque vai matar nossos rios, matas, lavrados e toda biodiversidade”

As 35 terras indígenas de Roraima, afirma a carta, “não estão à disposição para as empresas mineradoras, setores do agronegócio e nem para construção de hidrelétricas. Não aceitaremos nenhum empreendimento desse porte porque vai matar nossos rios, matas, lavrados e toda biodiversidade”.

Mais uma vez, Bolsonaro disse que os indígenas de Roraima são “pobres” e “escravizados por ONGs” e que deseja “a liberdade” dos indígenas. “Raposa Serra do Sol é uma terra livre”, responde o CIR. “Sua riqueza está preservada por causa dos povos indígenas que respeitam a natureza”.

Clique aqui para baixar o pdf ou leia a carta do CIR abaixo, na íntegra:

 

Posicionamento do CIR sobre o encontro de indígenas de Roraima com o presidente Bolsonaro

Conselho Indígena de Roraima
Boa Vista 18 de Abril de 2019

O discurso do Presidente Jair Bolsonaro contra nós povos indígenas de Roraima, não é novidade. Também não é de hoje que parlamentares de Roraima tentam dividir nosso movimento indígena, através de promessas econômicas. Na quinta, 17, em uma transmissão ao vivo na página do facebook, o presidente incentivou mais uma vez a invasão das terras indígenas, ignorando a diversidade cultural, e alimentando o preconceito aos povos indígenas ao afirmar que o Estado de Roraima não cresce economicamente porque não explora os recursos minerais, apontando que essas riquezas estão nas terras indígenas.

Por isso o Conselho Indígena de Roraima, organização indígena que defende há mais de 48 anos os direitos dos povos indígenas, representante de 241 comunidades, com uma população de 49 mil indígenas, vem manifestar seu REPÚDIO contra mais um ataque aos direitos constitucionais e o modo de vida dos povos indígenas Macuxi, Wapichana, Ingarikó, Taurepang, Patarnona, Wai Wai, Yanomami, Sapará.

As 35 terras indígenas, Senhor Presidente Bolsonaro e Senador Chico Rodrigues não estão à disposição para as empresas mineradoras, setores do agronegócio e nem para construção de hidrelétricas. Não aceitaremos nenhum empreendimento desse porte porque vai matar nossos rios, matas, lavrados e toda biodiversidade. Além de causar danos a toda população indígena e não indígena.

Não negociaremos nenhum centímetro de nossa terra indígena, aliás, nenhum milímetro de nossa terra. Essas ameaças contra os nossos direitos não nos calará e muito menos nos curvaremos diante desses ataques.

É mentira e falsa essa afirmação que os povos indígenas estão saindo das terras indígenas para morar nas periferias da cidade de Boa vista. É mentira também que os povos indígenas estão morrendo de fome. O problema das periferias de Boa vista senhor Senador Chico Rodrigues, é falta de investimento e políticas públicas do Estado. É a corrupção que destrói o estado de Roraima.

Raposa Serra do Sol é uma terra livre. Sua riqueza está preservada por causa dos povos indígenas que respeitam a natureza. Porque na época que os invasores – Rizicultores estavam ocupando ilegalmente a terra indígena, os nossos rios Cotingo e Surumu estavam sendo mortos pelo agrotóxico. Depois que os fazendeiros e rizicultores saíram, as comunidades estão trabalhando e livre das perseguições. Os povos indígenas foram libertos quando Raposa Serra do Sol foi homologada em área contínua.

Respeitamos os indígenas de Roraima que se reuniram com o presidente Bolsonaro no dia 17, mas eles não representam as 241 comunidades indígenas do estado de Roraima. O documento Final da 48ª Assembléia Geral dos povos indígenas realizado dos dias 11 a 14 de março de 2019 está claro o posicionamento contra a mineração, hidrelétricas, agronegócio e arrendamento das terras indígenas.

 

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