PF apreende veículos que retiravam madeira da Terra Indígena Karipuna
Ação é resultado das recorrentes denúncias feitas pelo povo, tanto no Brasil como fora, e explicita a importância do Estado de proteger as terras indígenas
Um contingente de 50 policiais federais e soldados do Exército cumpriu mandados de busca e apreensão nesta terça-feira (29) no distrito de União Bandeirantes (RO). Localizado na fronteira oeste da Terra Indígena (TI) Karipuna, este é o principal reduto de madeireiras naquela região.
Um trator e uma pá carregadeira utilizados para retirar madeira de dentro da TI foram confiscados durante a operação. Ninguém foi preso, mas ao menos três pessoas investigadas serão indiciadas e responderão pelos crimes de desmatamento ilegal e roubo de madeira, dentre outros.
O foco desta operação, segundo a Polícia Federal, foi identificar quem, efetivamente, financia estas invasões, incentivadas pela promessa de que haverá a legalização de loteamentos dentro da TI Karipuna. As investigações da Operação Kuraritinga, realizada em setembro de 2018, já haviam constatado que propriedades rurais localizadas ao redor da TI têm sido utilizadas para armazenar máquinas de grande porte que retiram a madeira ilegalmente dentro da área indígena. Além disso, segundo a investigação, ficou evidente que agricultores não envolvidos com as atividades criminosas são ameaçados pelos madeireiros para colaborar com eles.
Crime organizado
“Agir com inteligência é urgente e necessário para enfrentar o crime organizado que financia e promove o saque das terras indígenas no Brasil, em especial na Amazônia. O Estado brasileiro tem a obrigação de, o quanto antes, sinalizar aos criminosos que não haverá espaço para qualquer quebra da ordem constitucional”, afirma Danicley de Aguiar, da campanha Amazônia do Greenpeace.
O Greenpeace e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) protocolaram, em julho de 2018, no MPF-RO, uma denúncia de que a destruição da floresta na TI Karipuna era quase quatro vezes maior do que os dados oficiais do Estado consideravam: 10.463 ha de florestas foram degradados e desmatados dentro da TI Karipuna desde 1988, sendo que mais de 80% desta destruição ocorreu entre 2015 e 2018.
Os Karipuna já fizeram inúmeras outras denúncias aos órgãos competentes, mas a TI Karipuna continua sendo invadida. Em 2018, eles foram à Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra e Nova Iorque, denunciar a destruição de sua terra e a ameaça de genocídio que o povo sofre. Infelizmente, as invasões às terras indígenas que ameaçam os Karipuna não se tratam de um caso isolado.
“Queremos respostas!”
“A gente quer uma resposta dos órgãos de fiscalização do Estado brasileiro pra tirar estes invasores da nossa terra. A operação realizada hoje foi para retirar os madeireiros, mas o loteamento que os invasores estão fazendo também destrói nossas florestas. Existe muita gente se beneficiando e usando o nome do governo do estado pra promover estas invasões. Precisamos saber: quem é que tá registrando o Cadastro Rural dentro da nossa terra, homologada desde 1988; quem é que tá liberando os planos de manejo que abastecem as madeireiras de União Bandeirantes. Temos que ter a garantia da proteção do nosso território”, exigiu Adriano Karipuna, uma das lideranças de seu povo.
Ele manifestou sua indignação em uma reunião realizada nesta terça-feira (29), mesmo dia da operação da PF, em que estiveram presentes o governador de Rondônia, coronel Marcos Rocha; o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Franklimberg Ribeiro de Freitas; e representantes do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, do Ministério Público Federal (MPF) e dos povos indígenas Karipuna, Karitiana, dentre outros.
As autoridades presentes se comprometeram a unir suas forças no sentido de implementarem diálogo e ações integradas e contínuas contra as invasões na TI Karipuna, assim como nas TI Uru Eu Wau Wau e Karitiana, também de Rondônia. “É fundamental que seja feita a retirada dos invasores destas terras. Até o momento as ações têm sido tímidas e não suficientes para coibir os mais diversos crimes dentro delas”, conclui Laura Vicuña Manso, missionária do Regional do Cimi em Rondônia.