18/02/2019

“É totalmente inaceitável que, mesmo após Mariana, episódio semelhante tenha se repetido em Brumadinho”, afirma Feivim

Em pronunciamento, Fórum Ecumênico e Interreligioso de Vigilância à Mineração cobra do Legislativo a aprovação de leis rígidas que coloquem a vida acima dos interesses dos especuladores

Indígenas Pataxó Hã-hã-hãe observam o rio Paraopeba antes do rompimento da barragem. Foto: Reprodução de vídeo da comunidade

Por Verônica Holanda*

Tendo em vista a tragédia humana e ambiental de Brumadinho, o Fórum Ecumênico e Interreligioso de Vigilância à Mineração (Feivim) emitiu um pronunciamento pedindo fiscalização e cumprimento das normas de segurança das práticas de mineração. No texto, responsabilizam a Vale pela repetição da catástrofe acontecida em Mariana em 2015 e pelos danos irreversíveis causados tanto às famílias quanto ao meio ambiente.

Relembram também que a empresa tinha pleno conhecimento do risco de rompimento da barragem e nem por isso tomou as providências necessárias. “A tragédia de Brumadinho não foi um acidente casual e imprevisível, mas um crime fruto do descaso e da falta de compromisso com a vida em seu sentido mais amplo (vida humana, vida da flora e da fauna) da mineradora Vale que privilegiou a contenção de despesas com segurança das barragens, com o fito de gerar mais dividendos para seus investidores/especuladores”.

“Aguardamos do Legislativo a aprovação de leis rígidas que coloquem a vida acima dos interesses dos especuladores, leis essas que extingam essa prática torpe e gananciosa de praticar a atividade de mineração e que privilegie novas práticas sustentáveis ambientalmente e que preservem a vida”, relatam na carta.

Leia o texto na íntegra abaixo:

 

A GANÂNCIA ROMPE BARRAGENS E MATA A VIDA

Pronunciamento do Fórum Ecumênico e Interreligioso de Vigilância à Mineração – FEIVIM*

“Eu vim para que tenham vida,
e a tenham em abundância” (João 10.10b)

 

O Fórum Ecumênico e Interreligioso de Vigilância à Mineração – FEIVIM, diante da tragédia humana e ambiental de Brumadinho causada pelo rompimento de barragem de rejeito de minério do Córrego do Feijão, da mineradora Vale, repetição ampliada, dolorosa e inaceitável do flagelo de Mariana em 2015, com o rompimento da barragem de Fundão, de propriedade da mesma mineradora Vale, vem, publicamente, fazer aos poderes constituídos deste país, aos empresários e investidores, aos organismos internacionais e à sociedade em geral o seguinte

PRONUNCIAMENTO

  1. É totalmente inaceitável e inconcebível que, mesmo após o flagelo de Mariana em 2015, episódio semelhante e ampliado tenha se repetido em Brumadinho, ceifando centenas de vidas, destruindo famílias e atividades produtivas, causando danos irreversíveis ao Rio Paraopeba e a todo o seu entorno, tornando estéreis terras outrora produtivas e que eram sustento de inúmeras famílias, contaminando a água e matando animais domésticos e silvestres de diversas espécies;
  2. A tragédia de Brumadinho não foi um acidente casual e imprevisível, mas um crime fruto do descaso e da falta de compromisso com a vida em seu sentido mais amplo (vida humana, vida da flora e da fauna) da mineradora Vale que privilegiou a contenção de despesas com segurança das barragens, com o fito de gerar mais dividendos para seus investidores/especuladores;
  3. É sabido por meio da imprensa e da mídia alternativa que a mineradora Vale tinha pleno conhecimento dos iminentes riscos de rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão e nem por isso tomou as providências necessárias para que tal flagelo não acontecesse;
  4. Exigimos do Ministério Público, do Legislativo, do Judiciário e dos Executivos municipal, estadual e federal a tomada de todas as medidas cabíveis para a apuração desse crime, punição dos responsáveis e ressarcimento e indenização condignos ao irreversível sofrimento causado às famílias e às comunidades, como, por exemplo, a comunidade indígena de São Joaquim de Bicas;
  5. Aguardamos do Legislativo a aprovação de leis rígidas que coloquem a vida acima dos interesses dos especuladores, leis essas que extingam essa prática torpe e gananciosa de praticar a atividade de mineração e que privilegie novas práticas sustentáveis ambientalmente e que preservem a vida;
  6. Esperamos dos executivos municipal, estadual e federal a efetiva fiscalização e cumprimento das normas de segurança das novas práticas de mineração que, esperamos, sejam urgentemente aprovadas.

Conclamamos a sociedade brumadinense, o povo de Minas Gerais, os cidadãos e cidadãs brasileiras, todas as organizações civis de interesse na causa da vida que se unam a nós neste esforço, para que episódios como os de Mariana e Brumadinho não se repitam nunca mais!

Brumadinho, 11 de fevereiro de 2019

*Integrantes do Fórum Ecumênico e Interreligioso de Vigilância à Mineração – FEIVIM

  • Cáritas/Regional Minas Gerais
  • CONIC/MG: Conselho Nacional de Igrejas Cristãs/Seção Minas Gerais composto
  • pela Igreja Católica Apostólica Romana – ICAR, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil – IEAB e Igreja Presbiteriana Unida do Brasil – IPU;
  • CESE: Coordenadoria Ecumênica de Serviço;
  • CIMI: Conselho Indigenista Missionário;
  • MAB: Movimento dos Atingidos por Barragens;
  • MAM: Movimento dos Atingidos pela Mineração
  • Rede Igreja e Mineração

*Estagiária sob supervisão de Tiago Miotto

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