Grevistas de fome chegam ao 25º dia de resistência
De velas acesas, braços dados e corações unidos, manifestantes de todo o país clamam por democracia
Por: Comunicação da Greve de Fome
A Greve de Fome por Justiça no Supremo Tribunal Federal (STF) completa 25 dias de resistência com intenso apoio nacional. Mobilizações de solidariedade de militantes do campo e da cidade chegam a todo momento aos grevistas de fome. De velas acesas, braços dados e corações unidos, manifestantes de todo o país clamam por democracia: “Acorda Cármen Lúcia, a justiça bateu na sua porta”.
Em Belo Horizonte, movimentos populares e sindicais que integram a Frente Brasil Popular realizaram vigília “Lulaço em apoio à Greve de Fome”, em frente à residência da Ministra do STF, Cármen Lúcia. Desde a noite da última segunda-feira (20), movimentos populares realizam uma vigília de solidariedade à greve de fome por justiça no Superior Tribunal Federal, em frente ao Palácio da Justiça de Minas Gerais.
No Rio de Janeiro, a mobilização também segue aguerrida em frente ao Tribunal Regional Federal da 2º Região. Manifestantes realizaram vigília em solidariedade aos companheiros e companheiras em Greve de Fome.
Em solidariedade aos militantes em greve de fome, a organização alemã Misereor enviou apelo aos ministros do STF. “No nível internacional circulam diariamente mensagens que nos mostram a situação precária na qual o país está. Os/as grevistas estão dando um rosto ainda mais concreto a este cenário chocante do Brasil onde a Ação Misereor já atua há quase seis décadas apoiando as justas causas dos grupos marginalizados como os povos indígenas, as comunidades tradicionais, as populações nas periferias urbanas e muitos outros grupos, temos um conhecimento amplo e profundo da conjuntura atual”, destacou.
Em solidariedade aos militantes em greve de fome, a organização alemã Misereor enviou apelo aos ministros do STF
A agência de cooperação da Alemanha que há décadas apoia projetos de diversas entidades brasileiras, como a Comissão Pastoral da Terra (CPT) também aponta, no documento, o Mapa da Violência que retrata o quadro alarmante de 63.880 pessoas assassinadas durante o ano passado e os números sobem cada dia mais. “Diariamente mais de 175 pessoas são assassinadas, sendo que entre elas o grupo de negros, jovens e de mulheres se destaca. O Relatório Periódico Universal (RPU) 2017 confirmou que o Brasil é um país onde os direitos humanos estão sendo desrespeitados”, acrescentou.
Militantes do Movimento dos Atingidos por Barragens, também estão mobilizados pela causa. “É na busca por justiça ao presidente Lula e com ele de tantas e tantos condenados injustamente no Brasil, por uma justiça que sistematicamente privilegia, como tem feito sempre aos mais ricos, e golpeia os mais pobres. Essa greve marcha junto ao povo brasileiro rumo à utopia. Como temos feito recentemente em Brasília e continuaremos fazendo na construção de uma sociedade sem explorados nem exploradores”, ressaltou.
Em vídeo, artistas pressionam a ministra Cármen Lúcia para que coloque em votação a ADC 54 sobre presunção de inocência. Otto, Tonico Pereira, Bete Mendes, Ana Cañas, Siba, Osmar Prado, Cristina Pereira, Pedro Munhoz e Chico César enviaram mensagens de solidariedade aos militantes em greve de fome.
No início da tarde, às 18h, foi iniciado o Ato Inter-religioso em frente ao STF. O reverendo Luis Sabanay, da Igreja Presbiteriana, abriu o ato com a citação da parábola do fermento (Mateus 13:33): “O reino dos céus é semelhante ao fermento, que uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado”. Em analogia, o reverendo Luis Sabanay esclarece que assim como o fermento, que penetra e se espalha dentro da massa e a faz crescer, é preciso construir uma nova realidade a partir dos elementos que se tem hoje. Assim como o fermento que leveda muitas massas, esperamos que esse momento de luta fermente a alma do povo brasileiro contra a injustiça praticada ao povo brasileiro. Que a graça da fertilidade da terra, dos mares e rios nos encha de graça para continuar a lutar”, enfatizou.
O grevista de fome, Leonardo Soares, do Levante Popular da Juventude, fez uma reflexão acerca das diversas culturas do povo brasileiro, da realidade atual e dos desafios que são enfrentados todos os dias. “A nossa luta não pode ser travada somente nos tribunais. Os tribunais não vão entregar a justiça, pelo contrário, ele tem entregado a injustiça. A justiça na verdade virá das ruas, que é a justiça do povo. Como foi dito pelo reverendo Luis Sabanay, a massa precisa do fermento para crescer. Que as manifestações e o nossa Greve de Fome possam ser o fermento da vida, para que possamos partilhar esse pão e partilhar a verdadeira justiça”, pontuou.
Em representação do candomblé brasileiro, Odeilson Barreto e Benedita Moura participaram do ato em apoio à greve. “Os nossos ancestrais atravessaram o oceano e estão protegendo e nos dando força até os dias de hoje. Oxalá, Deus da força, resiliência e tranquilidade que possam cuidar a cada dia mais dos filhos combatentes nesta missão de paz. Essa luta que estamos travando vai muito além de uma perspectiva contra as diversas formas de opressão. Que Olodum, Orixá de guerra e Xangô, Orixá da justiça, possam colocar um chamado na frente das nossas lutas e tudo que vier de mal. E que Iemanjá possa lavar nossa alma e acolher nossos corações. Sigamos firmes e solidários”, reiterou Odeilson Barreto.
O presidente da Fundação Perseu Abramo, Hamilton Pereira (Pedro Tierra), fez a leitura de uma poesia que retrata o 13º dia da Greve de Fome, realizada durante o período da Ditadura Militar, em 1974. Importante paralelo de resistência com a atual luta dos grevistas, segundo o militante. “…nesse momento, se distribui sementes de fogo para iluminar aqueles que estão à frente da batalha. Nesses dias de luta tênue entre o limite da vida e o limite da história, vertiginoso desafio contra a morte…” A leitura expressou profunda reflexão sobre a luta por direitos em ambas as épocas – na Ditadura Militar e os dias de hoje.
O ex-ministro de governo, Gilberto Carvalho, explicou que essa greve transcende muito além do que se vê hoje. “Essa Greve de Fome alcançou e vai alcançar objetivo que não podemos imaginar. A articulação dos grevistas com os ministros do STF representa uma grande conquista do povo brasileiro. É a primeira vez no Brasil que um instrumento de mobilização tão forte como essa greve consegue tamanha abertura no Supremo, que é a articulação popular. O atual cenário nos faz entender o porquê Lula está preso e porque não querem que ele se candidate. Essa greve inova os instrumentos de resistência e luta social, do ponto de vista da ética e das consciências. Hoje, renovamos a esperança em nossos corações e o nosso compromisso de luta. Os grevistas nos mostraram a força da razão, da história e do povo. Nossa luta segue”, completou.
No ato, também foi lembrado sobre a recente carta que o ex-presidente Lula escreveu a próprio punho aos grevistas. No texto, que foi entregue aos grevistas o ex-presidente agradece o gesto e responde comprometendo-se com as pautas da luta popular. Ao referir-se à candidatura, garante que ela não representa interesse de cunho pessoal e sim uma causa.
Por fim, foi anunciado o Ato de Solidariedade à Greve de Fome aos sete manifestantes que será realizado amanhã (25). O Ato Político que tem por objetivos homenagear os sete manifestantes será realizado no Centro Cultural de Brasília (CCB), situado na L2 Norte, quadra 601, com a presença dos Movimentos Populares, religiosos, juristas, artistas, apoiadores e simpatizante da causa.
A mobilização por justiça no STF também ganhou voz no Twitter, com a #FomePorJustiça. Militantes de todo o país abraçaram as reivindicações dos grevistas de fome e enviaram mensagens de apoio e esperança utilizando a hastag. O Twitaço #FomePorJustiça, lançado às 18h, durante o Ato Inter-Religioso, ficou entre os cinco assuntos mais comentados do dia na plataforma digital.
Após o ato, no retorno ao alojamento no CCB, os grevistas receberam a visita de apoio e solidariedade do secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Leonardo Steiner.