23/08/2018

Grevistas de fome chegam ao 23º dia de resistência

“O gesto extremo dos grevistas também alcançou repercussão junto aos ministros do STF. Segundo porta-vozes, a ministra Rosa Weber ouviu atentamente as considerações dos militantes”.

Foto: Michelle Calazans/ Ascom Cimi

Por: Comunicação da Greve de Fome

Os militantes em Greve de Fome completam 23 dias de resistência na luta por justiça no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quarta-feira (22). A solidariedade aos grevistas ganhou forte adesão dos movimentos populares do campo e da cidade. Entre as reivindicações apresentadas, os grevistas cobram a inclusão na pauta de votações do STF as ADCs, 43, 44 e 54, que questionam a constitucionalidade da prisão de condenados em 2ª instância. Conforme prevê a lei, nenhum brasileiro pode ser preso ou ter seus direitos políticos caçados, antes que sejam julgados todos os recursos.

Foto: Adilvane Spezia | MPA e Rede Soberania

Na manhã do 23º dia de greve, o ex-ministro José Dirceu, fez uma visita de apoio e solidariedade aos sete grevistas – Frei Sérgio Görgen e Rafaela Alves (do Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA), Luiz Gonzdo aga, o Gegê (da Central dos Movimentos Populares – CMP), Jaime Amorim, Zonália Santos e Vilmar Pacífico (do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST) e Leonardo Soares (do Levante Popular da Juventude).

Em seguida, o pastor evangélico Ariovaldo Ramos, da Comunidade Evangélica Cristã Reformada e líder da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, também ressaltou seu total apoio ao ato dos grevistas. Ariovaldo Ramos leu um trecho do Sermão da Montanha – localizado no evangelho de Mateus 5 – onde o próprio Jesus Cristo disse que são bem-aventurados “os que têm fome e sede de justiça” (Mateus 5:1) e os “perseguidos por causa da justiça” (Mateus 5:10).

O que vocês estão fazendo é um grito por justiça, liberdade e retomada da democracia. Foto: Michelle Calazans / Ascom Cimi

“Percebo que essa fome e sede de justiça que vocês têm os levou a se sacrificar, em busca de uma resposta para um povo sofrido. O que vocês estão fazendo é um grito por justiça, liberdade e retomada da democracia. O que acontece hoje com o presidente Lula é uma agressão a todo o povo pobre brasileiro que não tem como se defender. E quando se percebe que o judiciário está tomando decisões ao arrepio da lei, fica a convicção de que não tem saída para o pobre, para o camponês e o proletário, porque não há fidelidade da justiça à lei”, lamentou Ariovaldo Ramos.

O gesto extremo dos grevistas também alcançou repercussão junto aos ministros do STF. Após terem sido recebidos pelo ministro Ricardo Lewandowski e ter um representante presente em diálogo de organizações – sociais, artísticas e intelectuais – com a presidenta do STF, Cármen Lúcia, os grevistas foram recebidos neste 23º dia de greve pela ministra Rosa Weber em seu gabinete. A exceção foi a grevista Zonália Santos, que na noite anterior teve complicações em seu quadro de saúde e foi aconselhada a ficar em repouso. Segundo porta-vozes, a ministra Rosa Weber ouviu atentamente as considerações dos militantes. E, apesar dos grevistas já terem reforçado o pedido para serem recebidos pelo ministro Luis Barrosos anteriormente, foi a chefe de gabinete do ministro, Renata Saraiva, que recebeu os grevistas na antessala do gabinete e acolheu os pleitos apresentados nesta quarta-feira (22). No entanto, os militantes fortaleceram a necessidade do diálogo com o ministro Barroso.

No início da noite, foi realizado o ato inter-religioso em frente ao STF para consolidar as atividades do 23º dia da Greve de Fome. Excepcionalmente, o ato aconteceu sem a presença dos grevistas que estavam reunidos, no mesmo momento, com a ministra Rosa Weber e a chefia do gabinete do ministro Luis Barroso. Dentro do STF, a articulação seguiu intensa, enquanto do lado de fora a palavra de ordem seguia aguerrida por democracia e justiça.

O Frei Wilson Zanatta, Capuchinho, e o Reverendo Luis Sabanay, da Igreja Presbiteriana, conduziram o ato inter-religioso em frente ao STF enquanto os grevistas estavam reunidos com a ministra Rosa Weber e destacaram que a palavra de Deus celebra a vida dos oprimidos. “Que a vida dos pobres seja clareada por Deus e que os homens injustos tenham coração mole para que possam fazer justiça para tanta gente que vive em sofrimento”, pontuou.

O presidente do Conselho Nacional de Saúde, Ronald Ferreira dos Santos, participou do ato para expressar total apoio dos militantes que defendem o Sistema Único de Saúde (SUS), que segundo ele, foi uma importante conquista do povo brasileiro. “É preciso respeitar a soberania da vontade popular, expressada nas pesquisas, em que o Lula tem a maioria dos votos para presidente. Por isso, só existe um caminho, ele é Lula Livre. Essa luta dos grevistas representa a defesa da democracia. Neste tempo em que estamos vivendo, dois elementos são fundamentais: a defesa da vida e da democracia”, ratificou.

Essa luta dos grevistas representa a defesa da democracia.

No ato, a professora Cátia Garcia, que trabalha no sistema prisional brasileiro, declamou o poema “Hoje eu durmo no cárcere”, que retrata a trajetória do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e as conquistas que ele proporcionou ao país no período de sua gestão. A leitura também trouxe reflexão sobre a denúncia da prisão ilegítima de Lula.

A professora aposentada, Dina Marilene, relatou que todos os dias ao passar pela Esplanada, a caminho da faculdade dos seus filhos, relembra a luta do ex-presidente Lula para transformar o Brasil e pede misericórdia à Deus. “Entre as lutas de Lula, ele só queria que nós, brasileiros, tivéssemos três refeições ao dia. Por isso, neste ato por justiça no STF ressalto a palavra de Isaías 40:31 que fala “…os que esperam no senhor renovarão as suas forças”. Essa é a minha esperança, porque hoje nós sabemos quem são os inimigos do nosso país. Vamos acreditar e tomar as ruas novamente. Acompanhei a luta dos grevistas no sétimo dia e hoje estou aqui novamente. Algumas vezes é preciso radicalizar em defesa de uma causa. Nosso país voltou para o mapa da fome e isso não é de Deus”, ressaltou.

Foto: Michelle Calazans/ Ascom Cimi

A militante Irene Madeira ratificou que o momento é de ruptura no país. “Precisamos saber qual é o nosso lado. Se os progressistas ganharem essa vitória e preciso ter claro que esse é apenas um passo e, portanto, precisamos seguir na luta. Com a força de todos juntos, vamos em frente”, enfatizou.

Apoio por justiça no STF
Em vídeo, movimentos Sociais e Sindicais da América Latina expressam sua solidariedade aos grevistas. Além dos amigos da Terra América Latina e Caribe; Sindicatos Globales (Confederação Sindical de Trabalhadores/ as das Américas, ISP Regional Américas, UNI Américas); FES Sindical e Via Campesina.

Paralelo ao ato inter-religioso, militantes e dirigentes de Belo Horizonte/MG se uniram em ato de solidariedade aos grevistas. Manifestantes estiveram reunidos em frente ao Palácio da Justiça, no Centro da capital mineira, para uma vigília e cerimônia religiosa. Com bandeiras, faixas, velas acesas e música, eles demonstraram apoio e respeito aos militantes.

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