Ato político e inter-religioso marca 22º dia da Greve de Fome por justiça no STF
Com saúde cada vez mais fragilizada, grevistas ainda aguardam serem recebidos por ministros e ministras do STF
Em perspectiva da democracia, a Greve de Fome chega ao 22º dia com forte militância em ato político e inter-religioso em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). São 22 dias da “greve de fome contra a fome”, com apelo sistemático à presidente do STF, a ministra Cármen Lúcia, pela votação das ações declaratórias de constitucionalidade (ADCs) e revisão do cumprimento de pena após condenação em segunda instância. Movimentos populares nacionais e internacionais também fortaleceram a reivindicação dos grevistas.
Paralelo aos atos inter-religiosos realizados em frente ao STF, em Brasília/DF, movimentos sociais e sindicais também encamparam atos em solidariedade à resistência da Greve de Fome em diversos estados no Brasil. Também nesta terça-feira (21), militantes realizaram vigília em frente à casa do ministro Edson Fachin, em Curitiba/PR.
Maria Kazé, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), destacou que o momento de luta se faz necessário tendo em vista a ausência de resposta dos ministros do STF. “Nós fomos recebidos pelos ministros Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia, em outra audiência, que se comprometeram em receber os sete grevistas, mas até o momento já passaram 22 dias e nenhum posicionamento foi apresentado. Além de ser um desrespeito político com estes que representam o povo brasileiro é um ato desumano. A ministra Cármen Lúcia e demais ministros dessa Casa, presenciaram na frente do STF, nesta Praça dos Três Poderes, um ato como este. É de indignar qualquer cidadão, qualquer brasileiro. Por isso, mais uma vez, a gente apela para que este Supremo tenha sensibilidade e respeito pelo povo brasileiro”, pontuou.
A vice-presidente da Cáritas Brasileira e coordenadora do Projeto Esperança/Cooesperança, irmã Lourdes Dill, marcou presença nos atos com representantes de todas as regionais do país, cerca de 50 pessoas, em defesa da democracia e da justiça no STF.
“Hoje, reforçamos nossa solidariedade a esse grupo de grevistas, profético, persistente e perseverante, que lutam pela transformação do nosso país. Em nome dos movimentos sociais – indígenas, famintos do Brasil, moradores de rua, catadores, ribeirinhos, entre outros – nós clamamos por vida digna e em abundância, pelo direito à democracia. Não esperávamos passar por um momento tão difícil como este, semelhante à ditadura militar. Esperamos que o STF escute o clamor do povo brasileiro e dos companheiros grevistas que estão dando o testemunho de fé. Justiça!”, ressaltou.
O Frei Sérgio Görgen encerrou a mobilização reiterando que a Greve de Fome não reivindica nada de extraordinário, apenas exige do STF o cumprimento da Constituição Federal. “Os onze ministros desta Casa são responsáveis pela ferida e pela dor que o povo brasileiro está sofrendo. Os ministros são coniventes com a nossa Constituição Federal rasgada. É dever do STF preservar e honrar a Constituição. Honrar o ofício que o povo brasileiro deu para eles, de cuidar da nossa nação. Esperamos que os ministros dessa Casa ainda tenham o mínimo de sensibilidade. O STF pode ser o Judas do povo brasileiro, mas também podem ser o Pedro – que errou, mas depois que o galo cantou, se corrigiu. E, neste momento, o galo está cantando para o STF”, concluiu.
Grevista de fome passa mal em frente ao STF
A repercussão dos atos públicos programados para esta terça-feira, 21, com a participação dos sete grevistas de fome que representam organizações e movimentos populares vinculados à Frente Brasil Popular e Via Campesina, bem como os dois grevistas que utilizam a mesma técnica de ação individualmente, em frente a Supremo Tribunal Federal, ficaram em segundo plano por conta de uma intercorrência de saúde. A grevista Zonália Santos passou mal no final do primeiro ato e precisou ser atendida inicialmente pelos médicos Ronald Wolff e Maria da Paz, que integram a Rede de Médicos e Médicas Populares e, depois, também pelos paramédicos do SAMU.
– Zonália apresentou uma hipotensão postural bastante acentuada, foi acometida por uma síncope e perdeu os sentidos -, explica Wolff. “Colocamos ela ao chão, elevamos as pernas e passamos afazer manobras para que ela recuperasse os sentidos”, acrescentou, explicando ainda que a grevista estava com o pulso filiforme (fraco), pouco propulsivo. Segundo o médico popular, com as manobras ela foi retomando os sentidos até que chegasse o atendimento pré-hospitalar móvel, a ambulância. “Quando chegaram ela já havia acordado, conseguimos pegar um acesso venoso, colocar soro e ela reagiu relativamente bem, então foi conduzida de ambulância para o hospital”.
A situação de risco iminente de intercorrências de saúde junto aos grevistas têm sido alertadas pelos médicos populares que revezam-se para acompanhar os grevistas em tempo integral, desde que o movimento foi deflagrado, em 31 de julho. Embora já tenham sido alertados para os riscos, os sete seguem irredutíveis em seus propósitos e prometem ir até as últimas consequências. Dirigentes ligados ao movimento mostraram-se revoltados com a insensibilidade dos ministros do Supremo, que até o momento em sua maior parte resistem inclusive a receber os grevistas para que comuniquem suas pautas.
– A culpa dessa situação é do Supremo Tribunal Federal, que não demonstrou até agora um mínimo sinal de sensibilidade para com estes companheiros e companheiras que estão há 22 dias esperando dolorosamente para serem recebidos por um ministro, por uma ministra -, desabafou Maria Kazé, dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
“Isso além e ser um desrespeito político com estes trabalhadores, que representam o povo brasileiro é um ato desumano”, acrescentou. “A Ministra Cármen Lúcia presencia na frente do STF um fato como esse que aconteceu aqui é de indignar qualquer cidadão, qualquer brasileiro”, arrematou.
Após receber atendimento médico no Hospital Regional Asa Norte, Zonália retornou ao Centro Cultural de Brasil, onde permanece em repouso e segue sob observação da Equipe de Saúde da Greve de Fome.