21/08/2018

21º Dia da Greve de Fome por Justiça no STF: em resistência a greve continua por justiça no STF

Grevistas receberam visitas de representantes de diversos organismos, pastorais e entidades, e no fim do dia realizaram ato inter-religioso em frente ao STF

Ato inter-religioso em frente ao STF marcou 21º dia de greve. Foto: Michelle Callazans/Cimi

Ato inter-religioso em frente ao STF marcou 21º dia de greve. Foto: Michelle Calazans/Cimi

Por Michelle Calazans, da Ascom/Cimi

Militantes em Greve de Fome por justiça no Supremo Tribunal Federal (STF) chegam ao vigésimo primeiro dia de resistência com forte apoio. Nessa segunda-feira (20), os grevistas receberam, no Centro Cultural de Brasília (CCB) onde estão desde o dia 31 de julho, visitas de representantes de diversos organismos, pastorais e entidades, e no fim do dia realizaram ato inter-religioso em frente ao STF.

Os grevistas receberam carta de apoio e solidariedades da Comunhão Mundial de Igrejas Reformadas (CMIR) e a Aliança de Igrejas Presbiterianas e Reformadas da América Latina (AMIR). O documento foi assinado pelo Reverendo Chris Ferguson (Secretário Geral) e pelo Reverendo Darío Barolin (Secretário Executivo).

O vigésimo primeiro dia da Greve de Fome também foi marcado pela visita solidária de representantes da Cáritas Brasileira e do Conselho Nacional do Laicato do Brasil. A visita reforçou a perspectiva da democracia e a luta contra a omissão da justiça praticada na atual conjuntura nacional. Na ocasião, a Cáritas Brasileira entregou uma carta de apoio aos grevistas, fortalecendo assim a resistência à Greve de Fome. De mãos dadas, os sete militantes em greve se uniram aos visitantes em oração.

Visita de Stefan Kramer, da Agência Misereor. Foto: Michelle Callazans/Cimi

Visita de Stefan Kramer, da Agência Misereor. Foto: Michelle Calazans/Cimi

O representante da Agência Misereor no Brasil, Stefan Kramer, também visitou os grevistas para expressar total solidariedade e preocupação aos militantes. “Estamos angustiados com os acontecimentos no Brasil nos últimos dois anos. A greve de fome por democracia e justiça é pautada também no exterior, com forte defesa. Hoje, entregamos um pano da Campanha da Fraternidade 2018 – Fraternidade e superação da violência, realizada em fevereiro deste ano, que tem a figura de dois homens e representa de igual para igual. Além disso, apoiamos o grito da ONU, pelo direito à candidatura de Luís Inácio Lula da Silva”, ressaltou.

No início da noite, às 18h, foi realizado o ato inter-religioso em frente ao STF para fortalecer a reivindicação por justiça. Mais uma vez, Frei Sérgio Görgen e Rafaela Alves (ambos do Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA), Gegê Gonzaga (da Central dos Movimentos Populares – CMP), Zonália Santos e Vilmar Pacífico (ambos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST) e Leonardo Soares (do Levante Popular da Juventude) reforçaram a insensibilidade e ausência de resposta por parte do STF, após o protocolo, no dia 9 de agosto, de 11 pedidos de audiência, com encaminhamento para cada ministro, e o diálogo com a presidente da Casa, Carmen Lúcia. O ato inter-religioso reitera a exigência por votação das ações declaratórias de constitucionalidade (ADCs) e revisão do cumprimento de pena após condenação em segunda instância.

Ato inter-religioso em frente ao STF no entarder desta segunda (20). Foto: Michelle Calazans/Cimi

Ato inter-religioso em frente ao STF no entarder desta segunda (20). Foto: Michelle Calazans/Cimi

No ato, o Frei Wilson Zanatta ratificou que o atual momento de mobilização por transformação social representa o sagrado ao lado do povo, em prol da vida. Para ele, a fé e a vida caminham juntas, não podem se separar. O reverendo Luis Sabaray acrescentou: “o clamor é por justiça e democracia. Não podemos permitir que volte a fome e a miséria. Esse ato inter-religioso é de resistência e esperança para transformar o Brasil em um país melhor para todos”.

A grevista Rafaela Alves, do Movimento dos Pequenos Agricultores, reitera que o momento é de luta e sacrifício até que as grandes transformações sejam conquistadas. “Estamos construindo neste momento difícil da história o reino de Deus, do céu na terra, que é o esforço cotidiano, que se coloca como cristão e cidadão, que assina seu nome nas páginas da história. Falamos de um evangelho vivo, um Deus vivo e de um povo vivo que se dispõe à luta no nível que é necessária. E as vezes é o sacrifício que é necessário. Esperamos seguir firmes na nossa tarefa que é de lutar e ensinar os irmãos a lutarem. E até que conseguimos fazer grandes transformações, nossa tarefa é lutar e morrer feliz porque lutamos até o fim. Sejamos firmes e incansáveis”, completou.

Após o ato inter-religioso, as atividades do 21º dia de greve por justiça no STF foram encerradas com a visita dos violeiros Zé Mulato e Cassiano, que se apresentaram em apoio ao movimento.

De mãos dadas, os sete militantes em greve se uniram aos visitantes em oração. Foto: Michele Calazans/Cimi

De mãos dadas, os sete militantes em greve se uniram aos visitantes em oração. Foto: Michelle Calazans/Cimi

Equipe de saúde apresenta avaliação médica dos grevistas de fome que chegam ao 21º dia de resistência

No vigésimo primeiro dia da Greve de Fome, a equipe de saúde responsável por acompanhar os grevistas – composta por três médicos e seis psicólogos -, trabalha em sistema de plantão para garantir qualidade no bem-estar dos grevistas e os cuidadores.

A médica especialista em Medicina de Família e Comunidade, Maria da Paz, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, explica que, apesar do quadro de saúde fragilizado, os grevistas recebem suporte 24h. “Neste momento, a preocupação é redobrada com os grevistas, pois o estado é considerado crítico e de alto risco, tendo em vista a vulnerabilidade às infecções gerada pela imunidade baixa. Para aliviar as dores musculares, que estão cada dia mais intensas, os grevistas têm acesso a massagem, acupuntura e reiki”, esclareceu.

Outro elemento dos 21 dias da greve de fome são as alterações de pressão, explica Maria da Paz, que deixa os grevistas mais sonolentos. Bem como os picos de hipoglicemia, que é a diminuição de açúcar no sangue. “O olhar está mais atento para uma das grevistas que apresenta sangramento e instabilidade de pressão e hipoglicemia”, pontou.

Segundo a psicóloga Carolina Saraiva, os grevistas apresentam sintomas esperados para uma greve de fome prolongada. “A situação é delicada no âmbito clínico, físico e emocional. Além do intenso trabalho voltado para os membros da greve, a orientação psicológica também integra os familiares que estão em constante comunicação. Emocionalmente, no quadro geral, o nível de ansiedade está latente, o humor rebaixado e as tristezas estão em evidência. Alguns apresentam um quadro de fragilidade maior, por isso o alerta é maior neste momento”, completou.

Por fim, a equipe de saúde reitera o forte trabalho desenvolvido em regime de plantão, com atendimento individual diário e monitoramento constante em prol da qualidade do bem-estar dos grevistas.

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