31/07/2018

Movimento indígena perde Pedro Inácio Tikuna

Ngematücü, como era chamado na língua do povo Tikuna, lutou pela demarcação dos territórios de seu povo quando setores militares do governo brasileiro tentavam inviabilizar demarcações nas áreas de fronteira

Pedro Inácio Tikuna (à direita). Foto: Seind/AM

Pedro Inácio Tikuna (à direita). Foto: Seind/AM

Por J. Rosha, do Cimi Norte I

No final da década de 1980, em Brasília, um líder indígena ameaçava pular do alto do prédio da Fundação Nacional do Índio (Funai), onde acontecia reunião para discutir a demarcação das terras do povo Tikuna que ficam localizadas na região do Alto Solimões, no oeste do Estado do Amazonas. A intenção daquele indígena era protestar contra o protelamento da regularização da terra indígena.

“Ele chegou a subir na janela da sala do presidente da Funai que ficava no quarto andar. Em vista disso o documento teve que ser assinado”, relata Joseney Lira, à época missionário que acompanhava as lutas do Tikuna.

O indígena se chamava Ngematücü, na língua do povo Tikuna e, para os não indígenas, chamava-se Pedro Inácio Pinheiro, liderança que se forjou na aldeia Vendaval, no município de São Paulo de Olivença – situado a cerca de 980 quilômetros em linha reta de Manaus, a capital amazonense. Ele foi fundador do Conselho Geral da Tribo Tikuna (CGTT),  organização criada para lutar pela demarcação dos territórios daquele povo em uma época em que setores militares do governo brasileiro  tentavam inviabilizar a demarcação nas áreas de fronteira.

Pedro Inácio Pinheiro faleceu na madrugada do último dia 25, num leito da Fundação Centro de Controle de Oncologia (Fcecon), em Manaus.

“Pedro Inácio foi um grande líder Tikuna. Foi fundamental na união do povo Tikuna na luta pela demarcação e garantia das terras e não mediu esforços para que isso acontecesse”, diz o indigenista Guenter Francisco Loebens, o Chico, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Regional Norte I, que abrange os estados do Amazonas e Roraima. À época na função de coordenador Regional do Cimi, Chico participou de muitos momentos na luta dos Tikuna pela garantia dos direitos territoriais.

“Ele estava disposto a fazer a autodemarcação e a expulsar todos os funcionários da Funai se a demarcação não saísse”, diz Chico acrescentando que Pedro Inácio “foi também um esteio para o movimento indígena na região pela firmeza da sua coerência na defesa dos direitos fundamentais desses povos”.

Joseney Lira destaca, também, a coerência do compromisso do líder indígena com seu povo. “Tentaram cooptá-lo diversas vezes. Chegaram a oferecer cargos na Funai, mas ele se manteve firme na defesa dos Tikuna”, lembra Joseney.

De Manaus, o corpo de Pedro Inácio seguiu para São Paulo de Olivença, onde foi recebido pelos “parentes” e em seguida sepultado na aldeia Vendaval.

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