Violência no campo: novos recordes
Relatório “Conflitos no campo Brasil 2017”, lançado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), registra maior número de assassinatos no campo desde 2003, com assustador aumento de massacres
2017 escancara o alto preço que as populações do campo, estão pagando como resultado do golpe político-parlamentar-midiático desfechado contra a democracia. Crescem de modo assustador os números da violência. 71 assassinatos (número atualizado após o lançamento dos dados em 16 de abril de 2018) é o maior número registrado desde 2003, quando se computaram 73 vítimas. É 16,4% maior que em 2016, quando houve o registro de 61 assassinatos e é praticamente o dobro de 2014, que registrou 36 vítimas.
E esse número é ainda mais gritante se se levar em conta que o número total de conflitos em 2017, 1.431 é 6,8% menor do que em 2016, quando ocorreram 1.536 conflitos. Em 2017, o número corresponde a um assassinato a cada 20 conflitos, enquanto em 2016, correspondia um assassinato a cada 25 conflitos. O índice de 2017 é maior do que em 2003, quando os 73 assassinatos ocorreram num total de 1.639 conflitos. Igual a um assassinato a cada 22 conflitos. Mas o lado mais macabro dos assassinatos em 2017 são os massacres. Cinco massacres com 31 vítimas.
Violência contra a pessoa
Mas não foram só os assassinatos que cresceram. Praticamente todas as demais formas de violência contra a pessoa cresceram em relação ao ano de 2016. As tentativas de assassinato passaram de 74 para 120 – um crescimento de 63% e um número que corresponde a uma tentativa a cada três dias. As ameaças de morte aumentaram de 200 para 226. O número de pessoas torturadas passou de 1 para 6. E o de presos foi de 228 para 263.
Um caso, que poderia ter sido mais um massacre em 2017, aterrorizou a todos pelo alto grau de brutalidade e crueldade. No dia 30 de abril, em Viana, no Maranhão, indígenas Gamela sofreram um terrível ataque em que 22 indígenas foram feridos. Dois tiveram as mãos decepadas. O ataque foi insuflado por políticos e ruralistas que não aceitam que os indígenas reivindicam o território que lhes pertence e sobre o qual há um documento do tempo do império. A Polícia Militar que estava próxima do local da tragédia não tomou nenhuma providência. Os gamela continuam tendo seu território e suas vidas ameaçadas.
O professor Carlos Walter pôs em evidência o que os números escondem. Analisando o período de 2015-2017, que ele caracteriza como período de ruptura política, e comparando-os com outros períodos anteriores, fica patente o aumento exponencial da violência neste período. Nos anos da ruptura política, 2015-2017, a média anual de assassinatos saltou para 60,6. No período de 2003 a 2006, primeiro ano do governo Lula, a média foi de 47,2; entre 2007 e 2010, segundo mandato de Lula, a média refluiu para 28,7; e entre 2011-2014, governo Dilma, a média foi de 33,7.
Também 2017 registrou uma drástica diminuição nos números de combate ao trabalho escravo. As tentativas de modificar o conceito de trabalho escravo para agradar a bancada ruralista vieram acompanhadas de orçamentos cada vez mais reduzidos e da diminuição no número de fiscais. Isso explica a redução nos números de combate ao trabalho escravo. 66 ocorrências em 2017, com 386 trabalhadores resgatados no campo. A média de ocorrências no período 2005 a 2014 foi de 226, já no período da ruptura política, 2015-2017, esta média caiu para 71.