25/04/2018

Jovens indígenas realizam sua primeira plenária no Acampamento Terra Livre

“Temos um número muito expressivo de jovens participando. Nós temos uma força, sabedoria e vitalidade muito importantes para o movimento indígena”, disse Patrícia Juruna

Juventude indígena discutiu protagonismo politico. Foto: MNI

Juventude indígena discutiu protagonismo politico. Foto: MNI

O Acampamento Terra Livre (ATL) 2018 teve, na noite desta terça (24/4), uma plenária inédita: pela primeira vez, depois de 15 edições, os jovens indígenas articularam um espaço próprio oficial para discutir seus desafios e problemas.

O ATL está montado no Memorial de Povos Indígenas, em Brasília, e já conta com a participação de 3,5 mil índios de mais de cem povos, de todas as regiões do país. A mobilização vai até a próxima sexta, 27/4.

“Temos um número muito expressivo de jovens participando. Nós temos uma força, sabedoria e vitalidade muito importantes para o movimento indígena”, disse Patrícia Juruna, da Comissão Nacional da Juventude Indígena. “A gente se soma com o acesso às novas tecnologias. Reforçamos a luta dos nossos povos”, conclui.

Também membro da mesma comissão, Erisvan Guajajara conta que a juventude tem ocupado novos espaços, inspirada em “novas ideias”, para fortalecer as estratégias de luta de seus antepassados. Com acesso às tecnologias de comunicação, os jovens indígenas possibilitaram uma maior velocidade na conexão entre os povos de diferentes regiões, afastados por longas distâncias, mas unidos por pautas em comum.

Um dos resultados desse processo é a própria Rede de Juventude Indígena (Rejuind) que, com o uso da internet e das redes sociais, “fortaleceu o processo de comunicação entre os indígenas”, conta Raiane Baré.

Durante a plenária, diversos jovens da plateia também apontaram articulações locais e regionais que foram feitas nos últimos anos por via da criação de redes e fóruns de juventude. “[ A Rejuind] já teve várias ações de incidência local, regional, nacional e internacional”, informa Raiane. Ela cita as últimas ações da juventude indígena em plenárias fora do Brasil, reverberando a luta indígena para outros fóruns de participação pública.

Não à toa, o encontro neste ATL trouxe representações da juventude indígena de outros países latino-americanos. “A nossa luta é uma só”, disse Rosário Ferreira, da Bolívia. Para o peruano Jhomar Maynas, “nosso compromisso como jovens é extravasar como nossos líderes. Nosso sangue são de guerreiros dos antepassados”.

Na Guatemala, Carolina Alvarado conta que os jovens foram essenciais para mostrar aos governantes sua capacidade de gerir as próprias terras.

“Colocaram uma indústria pra administrar nossa floresta e nós falamos que nós mesmos somos capazes de gerir nosso território”, conta Carolina. “Os jovens são capazes de fazer isso, criar nossas próprias organizações e recursos”, completa.

Ocupação universitária

Tsitsina Xavante, que mediou a plenária, reforçou a universidade como um espaço de circulação de saberes para os jovens, mas destacou que para os povos indígenas existem outros também muito importantes.

“Nossa universidade é aqui”, foi o coro repetido na plenária. A própria universidade, contudo, tem acumulado experiências de incidência política com o ingresso de indígenas. Durante o ATL, foram apresentadas iniciativas como a articulação de estudantes indígenas e quilombolas. De acordo com os jovens indígenas, a Universidade de Brasília (UnB) também tem gerado, por meio dos próprios estudantes, ações de inserção dos saberes tradicionais no ambiente acadêmico.

Erisvan Guajajara fala que o fortalecimento da juventude não se opõe à luta de seus pais e ancestrais. “A juventude precisa sempre ouvir seus caciques e unir forças”.

Para Giuseppe Villalaz, do Panamá, “esse é o momento da juventude caminhar ao lado dos avôs e avós, de conhecermos nossa história e nossa cultura”.

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