Conselho Nacional de Direitos Humanos manifesta pesar e indignação pela execução da vereadora Marielle Franco
Vereadora era crítica da intervenção federal no RJ e vinha denunciando abusos e violência policial em favelas. Anderson Pedro Gomes, motorista, também foi morto
O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) emitiu uma nota de pesar e indignação pelo assassinato da vereadora Marielle Franco, do PSOL do Rio de Janeiro. Ela foi assassinada na noite desta quarta (14), quando retornava do evento “Jovens Negras Movendo as Estruturas”. Foi atingida por quatro tiros na cabeça, disparados a partir de um carro que parou ao lado do seu. Os projéteis alvejaram o local em que Marielle estava sentada. Na linha dos disparos, no banco da frente, o motorista Anderson Pedro Gomes também foi atingido por três tiros e morreu.
Mulher negra, do complexo da Maré, Marielle atuava em defesa dos direitos humanos e das minorias, e vinha denunciando os abusos e a violência policial contra a população negra e pobre do Rio de Janeiro.
Há duas semanas, ela havia assumido a relatoria da Comissão da Câmara de Vereadores do Rio criada para fiscalizar a intervenção federal no estado – medida contra a qual vinha se posicionando firmemente.
“Vigorosa defensora dos direitos humanos no seu estado, especialmente dos direitos de negras e negros, mulheres, lésbicas, jovens e moradoras e moradores das favelas do Rio de Janeiro, Marielle Franco vinha denunciando as violações decorrentes dos abusos e truculências da Polícia Militar, especialmente contra a juventude negra”
Quatro dias atrás, Marielle repercutiu denúncias de violações praticadas pela polícia militar em operações na Favela de Acari, na Zona Norte do Rio.
“O 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando moradores de Acari. Nessa semana dois jovens foram mortos e jogados em um valão. Hoje a polícia andou pelas ruas ameaçando os moradores. Acontece desde sempre e com a intervenção ficou ainda pior”, publicou a vereadora em suas redes sociais.
O Batalhão denunciado por Marielle é o que mais matou no Rio de Janeiro nos últimos três anos. Em 2015, num caso que ganhou notoriedade, policiais do 41º Batalhão assassinaram cinco jovens negros desarmados, metralhando o carro em que estavam.
“Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?”, havia questionado Marielle em seu twitter, apenas um dia antes de entrar também para as estatísticas da violência no Rio e engrossar os dados que indicam um aumento de homicídios contra mulheres negras no Brasil.
O CNDH, do qual o Cimi é membro, exige “apuração imparcial e efetiva do caso” e comunica “imediato deslocamento de comitiva ao Rio de Janeiro” para prestar solidariedade aos familiares das vítimas e testemunhas e as investigações. Em todo o país, diversos atos estão sendo marcados em homenagem a Marielle.
Baixe aqui a nota em pdf ou confira abaixo, na íntegra:
NOTA PÚBLICA DE PESAR E INDIGNAÇÃO PELA EXECUÇÃO BRUTAL DA VEREADORA CARIOCA MARIELLE FRANCO
O Conselho Nacional dos Direitos Humanos – CNDH, órgão autônomo criado pela Lei nº 12.986/2014, vem a público manifestar profundo pesar e extrema indignação pela execução brutal da vereadora carioca Marielle Franco, e de Anderson Pedro Gomes, motorista que a acompanhava.
Vigorosa defensora dos direitos humanos no seu estado, especialmente dos direitos de negras e negros, mulheres, lésbicas, jovens e moradoras e moradores das favelas do Rio de Janeiro, Marielle Franco vinha denunciando de forma reiterada as violações de direitos humanos decorrentes dos abusos e truculências da Polícia Militar em suas abordagens contra moradoras e moradores das comunidades cariocas, especialmente contra a juventude negra.
Mulher negra, mãe, filha da favela da Maré, Marielle foi a 5ª vereadora mais votada do município do Rio de Janeiro em 2016. Coordenou a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e, atualmente, presidia a Comissão da Mulher e era relatora da Comissão Especial sobre a Intervenção Federal na Câmara de Vereadores do Rio, posição assumida, inclusive, pelas reiteradas denúncias do Estado policial arbitrário vigente no Rio de Janeiro.
O crime, que ceifa de forma covarde e brutal a vida de uma importante referência na luta em defesa dos direitos humanos, poderia ser compreendido como uma intimidação a outras defensoras e defensores que, como Marielle, vêm denunciando as reiteradas violações de direitos humanos no Brasil. Entretanto, fatos como este, só aumentam e impulsionam a resistência em defesa desses direitos. Não nos curvaremos nem nos calaremos diante do império do medo e da violência. Seguimos lutando por todos os direitos para todas as pessoas.
O CNDH exige apuração imparcial e efetiva do caso, ao tempo em que comunica imediato deslocamento de comitiva ao Rio de Janeiro para prestar solidariedade aos familiares das vitimas e testemunhas, e para acompanhar as investigações e seus desdobramentos.
Salvador-BA, 15 de março de 2018
CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS – CNDH