22/02/2018

Água no céu e na terra

Acabavam de chegar quatro nordestinos. De água e cisternas eles entendem muito. Ainda mais de cisternas de placas e implementação de tecnologia social. Vieram a convite do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) para realizar no nosso espaço de formação uma obra sonhada já há bastante tempo: a captação de água da chuva.

Fotos: Laila Menezes e Egon Heck/Cimi

Por Egon Heck, Secretariado Nacional Cimi

Chuva grossa, intermitente. Água se espalhando pelo chão formando verdadeiros rios. Olhar atento. Um sonho rolando no chão agora encharcado. No Centro de Formação Vicente Cañas, o que corre livremente é o anúncio de algo importante está por acontecer. Era dia 12 de janeiro. Era tempo de chuva.

Acabavam de chegar quatro nordestinos. De água e cisternas eles entendem muito. Ainda mais de cisternas de placas e implementação de tecnologia social. Vieram a convite do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) para realizar no nosso espaço de formação uma obra sonhada já há bastante tempo: a captação de água da chuva.

Os jovens nordestinos chegaram  e com conhecimento técnico projetaram o seu tempo de serviço: quatro cisternas com a capacidade de armazenamento de 51 mil litros cada. Quatro cisternas levaria quatro semanas para serem concluídas, uma semana para cada.

E assim aconteceu.  Dia 12 de fevereiro aí estavam os jovens com orgulho de tudo que fora panejado, hoje concluído. E mais, sorridentes, apesar da saudade dos familiares e amigos transpareciam realização. “Nunca trabalhamos num lugar tão tranquilo e agradável”, afirmou o mais experiente e responsável pelo grupo. E nós que tivemos a felicidade de acompanhar o andar das construções estávamos igualmente contente. Serão um pouco mais de 200 mil litros de água da chuva que estarão disponível para os momentos de maior precisão.

Tempos de escassez e maltrato da água

Quando um amigo que trabalha com sistemas agroflorestais veio passar uns dias conosco ficou impressionado com o Centro de Formação Vicente Cañas. Espaço agradável e aconchegante, dizia. Mas deixou uma observação pertinente. Esse não é um espaço do agronegócio. Ao contrário, é uma forma de produção e vida que busca  erradicar tal modelo. O Centro de Formação não é espaço apenas de encontro, mas de troca.

Aqueles que passam por ele deixam marcas e levam esperanças. Portanto, o exemplo das práticas alternativas com relação à água, energia e produção têm que estar presentes nesse espaço. Com as cisternas esperamos estar um passo correto.

Graças ao apoio de amigos e entidades, conhecimentos técnicos, competência e habilidade dos nossos “artistas do nordeste”, estamos dando a nossa contribuição não apenas para o debate e alerta sobre a eminência de uma catástrofe mundial pela escassez de água potável no nosso Planeta Terra, Planeta d’água. Assumimos também um gestos concretos com o cuidado ao bem de vida.

Espaço de resistência

O Centro de Formação Vicente Cañas começou a ser organizado pelo Cimi a partir de 1995, quando foi adquirido o terreno e feitas as primeiras reformas numa  precária estrutura ali existente. Foi uma decisão da entidade para dar viabilidade a um as principais linhas de atuação: a formação dos missionários e dos povos indígenas. Além disso, era uma prioridade disponibilizar um espaço de apoio aos povos indígenas na luta por seus direitos.

Centenas de encontros e articulações se realizaram neste local que está prioritariamente voltado para a formação política dos indígenas e dos missionários. Desde 1996 começaram a ser realizados os cursos de formação dos membros do entidade.  No início do século, o Centro serviu de espaço para a realização dos Acampamentos Terra Livre, realizados desde 2004. Num desses encontro chegaram a ficar acampados em nosso espaço mais de 700 indígenas.

Brasília e entorno, que nesses últimos anos já estiveram sob regimes de racionamento d’água, estará sediando daqui umas semanas o Encontro Mundial das Águas. Os sedentos de lucro do mundo com as grandes empresas e seus projetos privados virão com o intuito de garantir o domínio sobre as águas. Assim dominarão mais facilmente a vida (ou morte) no planeta terra.

Em resposta a esse projeto, a capital federal realizará concomitantemente o Encontro alternativo das águas. Será o momento de ampliarmos o grito da água, da vida.

Homenagem a uma das maiores personalidades, profeta e poeta desse último meio século, D. Pedro Casaldáliga, que completou 90 anos
De  uma vida permanente de luta pelos direitos e vida dos pobres, dos sem terra e especialmente os Povos Indígenas.

Share this:
Tags: