Água no céu e na terra
Acabavam de chegar quatro nordestinos. De água e cisternas eles entendem muito. Ainda mais de cisternas de placas e implementação de tecnologia social. Vieram a convite do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) para realizar no nosso espaço de formação uma obra sonhada já há bastante tempo: a captação de água da chuva.
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Fotos: Laila Menezes e Egon Heck/Cimi
Chuva grossa, intermitente. Água se espalhando pelo chão formando verdadeiros rios. Olhar atento. Um sonho rolando no chão agora encharcado. No Centro de Formação Vicente Cañas, o que corre livremente é o anúncio de algo importante está por acontecer. Era dia 12 de janeiro. Era tempo de chuva.
Acabavam de chegar quatro nordestinos. De água e cisternas eles entendem muito. Ainda mais de cisternas de placas e implementação de tecnologia social. Vieram a convite do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) para realizar no nosso espaço de formação uma obra sonhada já há bastante tempo: a captação de água da chuva.
Os jovens nordestinos chegaram e com conhecimento técnico projetaram o seu tempo de serviço: quatro cisternas com a capacidade de armazenamento de 51 mil litros cada. Quatro cisternas levaria quatro semanas para serem concluídas, uma semana para cada.
E assim aconteceu. Dia 12 de fevereiro aí estavam os jovens com orgulho de tudo que fora panejado, hoje concluído. E mais, sorridentes, apesar da saudade dos familiares e amigos transpareciam realização. “Nunca trabalhamos num lugar tão tranquilo e agradável”, afirmou o mais experiente e responsável pelo grupo. E nós que tivemos a felicidade de acompanhar o andar das construções estávamos igualmente contente. Serão um pouco mais de 200 mil litros de água da chuva que estarão disponível para os momentos de maior precisão.
Tempos de escassez e maltrato da água
Quando um amigo que trabalha com sistemas agroflorestais veio passar uns dias conosco ficou impressionado com o Centro de Formação Vicente Cañas. Espaço agradável e aconchegante, dizia. Mas deixou uma observação pertinente. Esse não é um espaço do agronegócio. Ao contrário, é uma forma de produção e vida que busca erradicar tal modelo. O Centro de Formação não é espaço apenas de encontro, mas de troca.
Aqueles que passam por ele deixam marcas e levam esperanças. Portanto, o exemplo das práticas alternativas com relação à água, energia e produção têm que estar presentes nesse espaço. Com as cisternas esperamos estar um passo correto.
Graças ao apoio de amigos e entidades, conhecimentos técnicos, competência e habilidade dos nossos “artistas do nordeste”, estamos dando a nossa contribuição não apenas para o debate e alerta sobre a eminência de uma catástrofe mundial pela escassez de água potável no nosso Planeta Terra, Planeta d’água. Assumimos também um gestos concretos com o cuidado ao bem de vida.
Espaço de resistência
O Centro de Formação Vicente Cañas começou a ser organizado pelo Cimi a partir de 1995, quando foi adquirido o terreno e feitas as primeiras reformas numa precária estrutura ali existente. Foi uma decisão da entidade para dar viabilidade a um as principais linhas de atuação: a formação dos missionários e dos povos indígenas. Além disso, era uma prioridade disponibilizar um espaço de apoio aos povos indígenas na luta por seus direitos.
Centenas de encontros e articulações se realizaram neste local que está prioritariamente voltado para a formação política dos indígenas e dos missionários. Desde 1996 começaram a ser realizados os cursos de formação dos membros do entidade. No início do século, o Centro serviu de espaço para a realização dos Acampamentos Terra Livre, realizados desde 2004. Num desses encontro chegaram a ficar acampados em nosso espaço mais de 700 indígenas.
Brasília e entorno, que nesses últimos anos já estiveram sob regimes de racionamento d’água, estará sediando daqui umas semanas o Encontro Mundial das Águas. Os sedentos de lucro do mundo com as grandes empresas e seus projetos privados virão com o intuito de garantir o domínio sobre as águas. Assim dominarão mais facilmente a vida (ou morte) no planeta terra.
Em resposta a esse projeto, a capital federal realizará concomitantemente o Encontro alternativo das águas. Será o momento de ampliarmos o grito da água, da vida.
Homenagem a uma das maiores personalidades, profeta e poeta desse último meio século, D. Pedro Casaldáliga, que completou 90 anos
De uma vida permanente de luta pelos direitos e vida dos pobres, dos sem terra e especialmente os Povos Indígenas.