Avaliação e discernimento sobre o VI Simpósio de Teologia Índia do Celam
VII Encontro Continental de Teologia Índia ocorrido em 2016
Por Paulo Suess e Sara Sanchez
Uma das metas da Teologia Índia é a autodeterminação ideológica dos povos indígenas. Pressuposto dessa meta é a descolonização de sua vida, o reconhecimento de sua alteridade e a construção de um ambiente eclesial, que favorece a reciprocidade e a aliança do ouvir e do falar entre diferentes interlocutores. A finalidade da Teologia Índia, portanto, não é a integração dos povos indígenas no universo católico, mas a releitura do essencial do universo católico em chave indígena.
Hoje se destacam duas caminhadas dessa Teologia Índia, uma, mais solta e ecumenicamente organizada por AELAPI (Articulação Ecumênica Latino-americana da Pastoral indígena) e pelo CLAI (Conselho Latino-americano de Igrejas), que teve seu VIII Encontro Continental, de 27 a 30 de setembro de 2016, em Panajachel/Guatemala, e a outra, convocada pelo CELAM (Conselho Episcopal Latino-americano), da Igreja Católica, cujo VI Simpósio se realizou em Assunção (Paraguai), de 18 a 23 de setembro de 2017. Os participantes, segundo as Conclusões, foram “bispos, sacerdotes, religiosas, religiosos e leigos”, sem destaque para os representantes dos povos indígenas que nas Conclusões são apontados como “eles”.
O tema do Simpósio de Assunção, “Trindade, família e povos originários”, estava desde a sua preparação, mais orientado para a transmissão de mistérios da fé cristã aos povos indígenas do que para a assunção do universo cultural indígena na teologia católica. O objetivo geral foi previamente definido assim: O Simpósio haveria de “prosseguir no caminho do aprofundamento dos conteúdos doutrinais da Teologia Índia para avançar em sua clarificação à luz da Palavra de Deus e do Magistério da Igreja”. Por um lado, caminhamos por veredas pós-conciliares, conquistados nesses 50 anos depois do Vaticano II, e, por outro, presenciamos em diversas instâncias eclesiais ainda estagnação e saudade de um tempo pré-Francisco, que em vários momentos de seu pontificado pediu “propostas corajosas” de renovação. A Teologia Índia necessita essas propostas corajosas para avançar no longo processo de descolonização.
O Simpósio de Assunção deixou caminhos abertos para essas “propostas corajosas”, embora que os guardou in peto. Vale resgatar a afirmação, nas Conclusões do evento, que “o processo de inculturação do Evangelho deve respeitar tempos, espaços, processos, o que exige escutar sem ideias preconcebidas, tendo presente que o Evangelho é uma proposta e não uma imposição”. Isso vale também para “o método da teologia índia”, porque seu método é “fortemente simbólico, narrativo, cósmico e celebrativo”.
As Teologias Índias podem e devem também fecundar a Teologia Cristã. Por isso é “urgente avançar num processo de diálogo intercultural e inter-religioso, para nos enriquecer mutuamente, tendo em conta que nossas teologias não são completas nem definitivas. Por isso é igualmente “urgente enriquecer a compreensão das fontes tradicionais da Teologia Cristã (Bíblia, Tradição e Magistério), e que sejam lidas com outras experiências passadas e presentes dos povos indígenas, como os mitos, ritos”.
Ao conviver com os povos indígenas não devemos apontar as ausências de formulações doutrinárias sobre a Santíssima Trindade, mas enfatizar suas vivências desse mistério trinitário numa profunda “relacionalidade, reciprocidade, complementariedade e comunitariedade”. A inculturação é um processo recíproco e permanente, como o amor.
Paulo Suess, assessor teológico do Cimi
Sara Sanchez, missionária do Cimi/TO