26/04/2017

Operação de guerra é mobilizada no MS, destrói acampamento Guarani Kaiowá e apreende duas armas de brinquedo










Comunidade do tekoha Tey’i Kue. Crédito da foto: Ana Mendes/Cimi

Uma operação de guerra eclodiu nesta terça-feira, 26, na demarcação Dourados Amambai-Peguá I, do povo Guarani e Kaiowá, município de Caarapó (MS). Ao menos 200 policiais e soldados do Exército, em caminhonetes, cavalos e helicóptero, entraram na aldeia com o objetivo de recuperar produtos de roubo e furto supostamente realizados durante retomadas indígenas a três fazendas incidentes no tekoha Tey’i Kue, em 2016. O resultado foi constrangedor e trágico: duas armas de brinquedo apreendidas e o acampamento dos indígenas destruído.

Conforme declarou à imprensa sul-mato-grossense o comandante da chamada Operação Caarapó I, coronel Ary Carlos Barbosa, a ação "visou trazer uma maior sensação de segurança aos moradores". O Ministério Público Federal (MPF) e a Fundação Nacional do Índio (Funai) não foram informadas da busca que apresentou como saldo a apreensão de duas réplicas de arma de fogo, um estojo de munição e um coldre. Não há informações sobre a recuperação de objetos supostamente roubados; ninguém foi preso.  

Apesar do resultado ter sido desproporcional ao tamanho da operação, os Guarani e Kaiowá denunciam "a completa destruição do acampamento na retomada de Tey’i Kue". De acordo com liderança indígena ouvida e que pediu para não ser identificada por razões de segurança, "os policiais quebraram barracos, reviraram pertences pessoais, destruíram material de reza".

Na declaração sobre o saldo da operação, os policiais frisaram que viram marcas de tiros, aparentemente de calibre 12, nas portas das casas. "Será que não sabem que pistoleiro ataca o acampamento a mando do fazendeiro? Essa operação tá mais pra uma retaliação pelo fato da gente seguir na nossa terra mesmo depois dos assassinatos, ataques e ameaças", afirma a liderança.

Em junho de 2016, o agente de saúde Guarani e Kaiowá Clodiodi Aquileu de Souza foi assassinado e outros nove indígenas ficaram feridos com armas de fogo durante ataque de fazendeiros e pistoleiros à Fazenda Yvu – retomada pelos Guarani Kaiowá e onde fica o tekoha Tey’i Kue. Outros episódios de ameaças, racismo e violência se seguiram ao ataque fortemente armado dos fazendeiros – um grupo chegou a ser preso responsabilizado pela violência contra os indígenas.

O episódio ocorre durante a realização da 14º Acampamento Terra Livre (ATL), em Brasília. Mais de 3 mil indígenas, representando cerca de uma centena de povos, estão desde segunda-feira, 24, na Capital Federal reivindicando o direito à terra, às demarcações, denunciando o desmonte da Funai com o loteamento de cargos pelos ruralistas e contra a retirada de direitos fundamentais – caso das reformas da Previdência e Trabalhista.

Conversa com Lula: faltou autocrítica

Para Elizeu Guarani e Kaiowá, porta-voz da Aty Guasu, principal organização política do povo, "a operação é o resultado da falta de demarcação". Integrante do Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI), Elizeu esteve reunido na noite anterior à Operação Caarapó com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, junto com uma comitiva do ATL. A reunião foi uma solicitação do Instituto Lula.

"Falei para o presidente que o governo dele foi muito ruim para os povos indígenas. O da Dilma também. Não avançou as demarcações. Agora com o Temer é que piorou de vez, mas já vem de anos de desrespeitos aos nossos direitos. Estamos resistindo, e isso nos mantém vivos", relata Elizeu Guarani e Kaiowá. Fome, agrotóxicos lançados nas aldeias, polícia, pistoleiros: "Essa é a realidade no Mato Grosso do Sul".


De acordo com o indígena, Lula afirmou estar ciente do quadro, mas não se posicionou de maneira autocrítica e foi acompanhando pela senadora Gleisi Hoffmann (PT/PR), que em 2013, quando ministra da Casa Civil, usou um power point da Embrapa para afirmar que no Paraná não havia índios, e se existissem eram paraguaios. Outro fato embaraçoso é a relação de Lula com José Carlos Bumlai, que possui uma usina de cana em terras tradicionais Guarani e Kaiowá na região de Dourados.

Fonte: Mobilização Nacional Indígena
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