15/02/2017

Viva, Raposa Serra do Sol desafia interesses e bajuladores do agribusiness

                                               Produção de Artesanato Maturuca. Crédito: Arquivo/Cimi

Por Cleber César Buzatto, Licenciado em Filosofia e Secretário Executivo do Cimi


Sete anos após ser confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol continua sendo torpedeada por setores comprometidos com interesses do capital, especialmente ligados ao Agronegócio e à mineração.

Há alguns dias, o jornal O Estado de São Paulo, o Estadão, em seu editorial, ao defender a publicação da Portaria 80/17, pelo Ministério da Justiça (MJ), e a aprovação da PEC 215/00, pela Câmara dos Deputados, responsabilizou a demarcação de Raposa Serra do Sol pela redução do valor advindo da produção agropecuária do estado de Roraima e pela dependência deste em relação ao governo federal.

A TV Band veiculou, no dia 07 de fevereiro, em seu principal programa noticioso, o Jornal da Band, reportagem em que, mais uma vez, a demarcação de Raposa Serra do Sol é acusada de ter provocado o empobrecimento do estado de Roraima, além de insistir na tese comprovadamente falaciosa de que a demarcação representaria risco à soberania nacional, dentre outros absurdos indignantes para quem conhece a realidade.

Nos dias 8 a 10 de fevereiro, tivemos a alegria e a honra de visitar a Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Encontramo-nos com alguns dos tantos tuxauas (lideranças) das mais de 200 comunidades dos cinco diferentes povos que vivem na referida terra indígena. Pudemos verificar que na Raposa Serra do Sol tem Caxiri na Cuia. Tem melancia, caju, manga, jamelão. Tem o lago Caracaranã e tantos outros com suas histórias revigoradas. Tem água pura nos rios que nascem e são bem cuidados na terra indígena, ajudando a servir as pessoas que vivem, inclusive, na cidade de Boa Vista, capital do estado de Roraima. Tem pinturas, guerreiros, guerreiras, muitas corres. Tem crianças, jovens, adultos, idosos manifestando-se de acordo com seus usos, costumes, crenças e tradições. E tem também milhares de cidadãos brasileiros preocupados com o interesse ruralista de autorizar a venda do território brasileiro para estrangeiros (PL 4059/12).

Diante disso, nos perguntamos: por que Raposa Serra do Sol continua sendo recorrente e tão duramente atacada? Não pode haver outra resposta: a tentativa desesperada de desqualificar a demarcação de Raposa Serra do Sol visa a desqualificação e a consequente inviabilização da demarcação de todas as demais terras indígenas do país. Colocada em contexto, a ofensiva contra Raposa Serra do Sol ocorre para dar aparente legitimidade e justificativa ideológica ao ataque contra os direitos dos povos indígenas no Brasil. Ataque que é patrocinado pelas corporações empresariais, de capital nacional e internacional, e posto em prática por representantes do ruralismo nos diferentes Poderes do Estado brasileiro.

Enquanto crescem os narizes dos bandeirantes contemporâneos, Macunaíma segue livre distribuindo vida na sua terra e para seus povos. Povos em luta, construindo seus projetos de futuro.

Viva, Raposa Serra do Sol desafia interesses e bajuladores do agribusiness.

Fonte: Por Cleber César Buzatto, Licenciado em Filosofia e Secretário Executivo do Cimi
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