Ava-Guarani retomam parte de antigo Tekoha
Texto e fotos do Cimi – Regional Sul
No último dia 26 de janeiro cerca de 10 famílias de Ava-Guarani no Oeste do Paraná, retomaram as terras de um antigo Tekoha. Infelizmente, não puderam retomar a terra em sua totalidade, porque a mesma foi parcialmente alagada pelo represamento do Rio Paraná, quando da Construção da Hidrelétrica Itaipu Binacional. Segunda a Kuña (senhora) Elza Romero, que nasceu ali, a volta para seu antigo lugar é a concretização de um sonho, de ter uma terra para poder viver o pende rekó, a cultura Guarani, própria e autêntica de seus pais e avós. Deseja transmitir aos filhos, netos e sobrinhos a cultura que recebeu dos seus pais. No local onde estava morando até recentemente não dava, porque a terra era pouca para muita gente, “nem árvore existe naquele lugar”, afirmou dona Elza.
Antes do fechamento das comportas, uma grande comunidade vivia nas margens do rio, na aldeia chamada Mokõe Joeguá, localizada no município de Santa Helena (PR). As notícias da construção da hidrelétrica e as ameaças que sofreram levaram ao sarambi, ou seja, a um esparramo total da população. Nunca foram indenizados e sequer considerados pela hidrelétrica.
A terra ocupada no dia 26 está localizada nas margens do lago, é coberta de mata nativa e própria para a agricultura. O cacique Claudio Vogado disse que em breve vão começar a limpeza para plantar as sementes tradicionais, como o awati etei/milho verdadeiro. É nesse local que desejam agora viver livremente a cultura Guarani no Tekoha, “lugar de viver a cultura”.
Os tekoha destruídos por Itaipu
O rio Paraná, que em grande parte do estado do Paraná divide Brasil e Paraguai, nunca foi fronteira para os Guarani, ao contrário, “eram nossos caminhos”, relata o líder Júlio Martinez. Havia mais de 40 aldeias em ambas as margens quando o rio foi fechado, em 1983. Essa população foi totalmente desconsiderada. Depois de muita luta conseguiram que Itaipu devolvesse 1700 hectares de terra no lado brasileiro, porém no lado paraguaio nunca receberam nada.
Construída em plena Ditadura Militar (tanto no Brasil como no Paraguai), não havia possibilidade de diálogo entre comunidades Guarani com Itaipu e Funai, muito menos com os governos. Alguns quilômetros a jusante do Tekoha Mokõe Joeguá, existia o Tekoha Jakutinga, e somente depois de muita luta foram reconhecidas cinco famílias e para estas foram expedidos títulos de terras individuais – juridicamente essas famílias foram consideradas camponesas. Com a indenização dessa área, os Guarani compraram a terra que hoje é o Tekoha Ocoi, em São Miguel do Iguaçu.
Em épocas de democracia, espera-se que Itaipu Binacional reconheça os erros e as violências históricas cometidas e se abra para o diálogo efetivo que leve a devolução das terras aos Ava-Guarani.
Santa Helena, 10 de fevereiro de 2017
Conselho Indigenista Missionário – Cimi – Regional Sul