A Grande Aldeia Celeste acolherá a guerreira Rosane Kaingang
A luta deve seguir, pois embora a dor a vida segue.
Deixou-nos neste domingo, dia 16, viajando para a Grande Aldeia Celeste a incansável Rosane Kaingang, nascida em Cacique Doble, no Rio Grande do Sul, onde seu corpo físico irá repousar. Forte presença em Brasília, em nome da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul), e com presença constante junto à Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).
Rosane marcou sua presença com o acompanhamento intenso junto aos Três Poderes. Em debates e audiências da Câmara Federal ao STF, sempre teve posição firme e inquestionável na defesa dos direitos dos povos indígenas. Assim era com Rosane, independente de quem fosse o interlocutor: um ministro do STF, um deputado, um senador, um ministro de Estado.
Chegava à sede do Cimi sempre com alguma informação ou preocupação com relação a episódios de violência contra algum povo que não apenas os Kaingang. Tinha uma postura digna ao não se adequar a convenções determinadas pelo "branco". Dizia: "É assim que aprendi a ser com o meu povo Kaingang. Não vai ser o branco que vai me dizer como tenho que ser". Também sempre demonstrou consciência de classe: defendia em suas posições quilombolas, pescadores, sem terras.
Em audiência com o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, de forma emocionada, Rosane relatou a vida de indígenas sob lonas, às margens de rodovias, sofrendo assassinatos, vendo a morte de crianças e estupros. Disse ela: “O senhor é evangélico. Nossos povos têm religião forte. Então sabemos da missão de Deus para nós: cuidar um dos outros. Para o caixão o senhor não vai levar seus carros, apartamentos e dinheiro. Faça o certo”, cobrava ela durante incidência na Câmara contra a PEC 215.
O câncer a levou numa última batalha, mais dura que a luta pelos direitos dos Povos Indígenas, seus Parentes. A luta em Brasília e no Brasil amanheceu com menos uma no campo. Mas teremos mais uma estrela a iluminar a resistência em busca do Bem Viver, para Tod@s!!!
Como não poderia ser diferente, Rosane não viajaria em um dia comum. Na noite deste mesmo dia 16 de outubro, o céu de Brasília se iluminou com a força de uma lua mais perto da Terra. Talvez, Kysã, o sol que virou lua na história Kaingang, quis estender seu braço de luz e garantir que esta Kaingang guerreira não se distraísse em outras lutas pelo caminho.
Esteja em Paz Rosane, duras foram suas batalhas. Verdadeiras suas palavras. Agora poderá tornar-se krĩg, um estrela para brilhar com Kysã.
Brasília, 17 de outubro de 2016
Conselho Indigenista Missionário (Cimi)
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