Um ritual Mamaindê contra a PEC 215 e pelos direitos indígenas, quilombolas e de comunidades tradicionais
Os pajés e as pajés do povo Mamaindê se reuniram na aldeia Central, Mato Grosso, durante terça, 9, e quarta, 10, desta semana, para um ritual contra Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215 e em defesa dos direitos e da vida dos povos indígenas do Brasil. “Invocamos os espíritos de todos os guerreiros e guerreiras para formar uma grande corrente com os demais povos do país”, explica a pajé Elizabete Mamaindê (na foto abaixo). Brasil afora mobilizações em defesa dos direitos indígenas ocorreram nos últimos dias em posição contrária à PEC 215.
As demarcações de terras indígenas e quilombolas, o respeito aos territórios dos pescadores e pescadoras artesanais, além de solidariedade especial ao povo Guarani e Kaiowá foram outras demandas presentes nos dois dias de rituais no terreiro da aldeia Central. “Nosso ritual é também para sensibilizar o Estado para garantir melhores condições de saúde e educação. Somos contra a municipalização delas”, acrescenta a pajé.
“Nós, povo Mamaindê, somos os donos verdadeiros desta terra. Foi Deus mesmo que deixou pra nós, não comprada com dinheiro. A terra é nossa mãe e nós vamos defender a nossa mãe. Vocês governantes fazem um monte de leis e coloca no papel; não serve pra nada. Vocês não cumprem o que vocês mesmo fazem. Ninguém vai comer dinheiro, a gente precisa d aterra pra poder alimentar nossos filhos”, diz a pajé Elizabete.
Para a pajé, os brancos derrubam toda a floresta, matam a água e o rio. Por não pensar que a terra precisa de cuidados, a Mamaindê afirma que os brancos prejudicarão todo o mundo. E não é apenas a terra que os Mamaindê apontam que vem sendo destruída. Seus defensores também, por isso o ritual lembrou dos assassinatos de lideranças indígenas, camponesas e populares. Invasões de terras indígenas e as commodities exportadas pelo agronegócio violando direitos humanos e praticando violências também foram mencionadas durante o ritual.
“O descaso dos Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) com os povos indígenas chegou num limite. Ano a ano temos nossos territórios sagrados violados e invadidos, sem que seja tomada alguma providência. Não vamos desistir da luta. Temos pajés fortes, que combatem conosco e se juntam com outros pajés em defesa da terra”, declara a liderança Manoel Mamaindê. O indígena cita o Marco Temporal. A tese defendida por ruralistas foi anexada à PEC 215. Nela a demarcação de terras indígenas estaria submetida à promulgação da Constituição Federal 5 de outubro de 1988, ou seja, territórios só podem ser demarcados caso nessa data os povos que os reivindicam comprovem presença física nas áreas ou disputa judicial por elas.
Fotos: Volmir Bovareseo