Indígenas pedem que países suspendam importação de commodities brasileiras
Cerca de 150 lideranças indígenas manifestaram-se na manhã desta terça (5) na avenida das nações, em Brasília (DF). Em diversas embaixadas, eles entregaram um documento denunciando os ataques de ruralistas contra seus direitos e solicitando aos estrangeiros que suspendam as importações de commodities brasileiras. Os indígenas pedem que os países importadores condicionem a compra de produtos do agronegócio brasileiro à mudança de postura dos ruralistas e de suas entidades representativas.
“Inicialmente, informamos as embaixadas as situações que os povos indígenas vêm sofrendo por causa do agronegócio. A exportação ajuda a financiar o agronegócio, então financia o genocídio dos nossos povos, a pistolagem que vem atacando e ferindo as nossas lideranças e financia de fato a morte dos nossos povos”, afirma Kâhu Pataxó. “Então, viemos trazer essa informação e pedir que eles possam dialogar com o governo brasileiro e com as empresas em seus países, para que essas exportações que eles fazem tenham condicionantes: que elas não sejam feitas dentro de áreas indígenas, que não sejam oriundas dessa situação de massacre dos povos indígenas, para que a gente possa garantir a vida dos nossos povos”.
Pela manhã, os indígenas visitaram as embaixadas de Portugal, Rússia, Estados Unidos, Países Baixos, Canadá, França e China. No documento protocolado junto às embaixadas, os povos originários denunciam os ataques dos ruralistas, articulados por meio da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) e do Instituto Pensar Agropecuária (IPA), contra seus direitos constitucionais. O ofício cita como exemplo desta articulação a recente Pauta Positiva 2016/2017 da FPA e do IPA, conjunto de reivindicações entregues ao vice-presidente Michel Temer ainda antes do afastamento de Dilma Rousseff.
Entre medidas como a descaracterização do trabalho escravo e a liberação da compra de terras para empresas com capital estrangeiro, as cerca de 38 organizações e entidades que compõem a FPA e o IPA reivindicam, num item chamado “Direito de Propriedade e Segurança Jurídica”, a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215 e a revisão das demarcações de terras indígenas, entre outras medidas contrárias aos direitos indígenas.
Os indígenas também denunciaram aos diplomatas os atentados que tem sido realizados contra comunidades e lideranças, como no caso do recente massacre de Caarapó. “Há uma organização muito bem estabelecida na condução desses ataques”, afirmam no documento, citando a “incitação explícita ao ódio e ao uso da violência contra os povos indígenas feita por dois deputados federais expoentes membros da FPA”.
"Vamos esperar as respostas mais tarde, mas começamos a divulgar o que acontece com a gente. Falta de respeito com nossos direitos, direitos indígenas, direito de ir e vir, direito à terra, direito de viver com tranquilidade dentro do seu território, a criminalização, os assassinatos, tudo está ficando impune e ninguém sabe. Colocando isso pra fora do Brasil, você tá mostrando a cara de como o Brasil trata os povos”, afirma Maria Valdelice, cacique da Terra Indígena Tupinambá de Olivença.
"Não contribua para a continuidade do roubo de nossas terras, do aprisionamento e da morte de nossas lideranças”, apelam os indígenas, ao final do documento que pede o estabelecimento de uma moratória para a importação de commodities agrícolas brasileiras.
Delegação em Brasília
O ato reuniu lideranças indígenas da delegação dos povos Pataxó, Tupinambá de Olivença, Tupinambá de Belmonte e Tumbalalá, os quais saíram de diferentes regiões da Bahia e devem permanecer durante toda esta semana em Brasília, e professores indígenas de todas as regiões do país, que estão em Brasília nesta semana para o Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena.
Durante a semana, os indígenas da delegação vinda da Bahia realizarão diversas agendas em órgãos do Legislativo, do Judiciário e do Executivo. Apesar da predominância dos povos do sul, extremo sul e norte da Bahia na ação desta manhã, as reivindicações não foram apresentadas apenas em nome destes povos. “Como a gente é atingido e nossos parentes também, a gente fez um documento em nome de todos os povos, porque a dor dos nossos parentes é a nossa dor também”, afirma Kâhu Pataxó.