Lideranças Matís ameaçam ocupar Funai se nomeação de servidor for mantida no Vale do Javari
Lideranças do povo Matís divulgaram em nota pública contrariedade ao retorno do servidor Bruno da Cunha Araújo Pereira, da Fundação Nacional do Índio (Funai), à Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari, no Amazonas. A região possui conflitos entre populações indígenas em situação de isolamento voluntário com povos de recente contato. Uma das razões que motivam os desentendimentos envolve intervenções desastradas da Funai no Vale do Javari. Os indígenas ameaçam ocupar a sede da Funai em Atalaia do Norte (AM) se a nomeação for mantida.
A própria Funai, há algumas semanas, divulgou uma nota criminalizando o povo Matís. A postura do órgão indigenista estatal gerou revolta e tensão na região. De acordo com a União dos dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava) a nomeação do servidor irá agravar ainda mais os conflitos e há tempos os indígenas vinham sinalizando que não aceitariam a nomeação de servidores que possuem histórico de alimentar desentendimentos, ao invés de saná-los.
Leia na íntegra:
NOTA DOS MATÍS
Nós Matís reunimos na sede da FUNAI dia 26 de Maio de 2016, para exigir do Coordenador interino da Coordenação da FUNAI de Atalaia do Norte – AM, o Senhor Junior Nazaré, tendo em vista a portaria que remove o Bruno da Cunha Araújo:
“PORTARIA Nº 450/PRES, de 12 de maio de 2016, do PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO – FUNAI, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo Estatuto, aprovado pelo Decreto nº 7.778, de 27 de julho de 2012, com base no inciso II do parágrafo único do art. 36 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, resolve: Art. 1º Remover, a pedido, o servidor BRUNO DA CUNHA ARAÚJO PEREIRA, Agente em Indigenismo, NI-A-V, matrícula nº 1821374, da Coordenação Regional do Vale do Javari-AM, para a Coordenação da Frente de Proteção Etnoambiemtal Vale do Javari-AM. Art. 2º Estabelecer o período de 30 (trinta) dias, incluindo o trânsito, a partir da publicação desta Portaria, para que o servidor se apresente na nova unidade de lotação. Art. 3º Será facultado ao servidor declinar do prazo estabelecido no artigo anterior. Art. “4º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação”
Por não aceitarmos a volta do BRUNO DA CUNHA ARAÚJO PEREIRA, para a FPEAVJ, levando em consideração que na reunião com o presidente da FUNAI João Pedro na câmara dos Vereadores, no dia 06/03/2016, onde nós Matís e demais lideranças presentes, pedimos que o presidente levasse o Bruno para Brasília, se o presidente estava gostando do servidor, porque esse servidor já tem criado problemas com todas as etnias.
Na reunião com o coordenador interino Sr. Junior Nazaré, pedimos ao Junior que redigisse documento comunicando ao presidente da FUNAI, que nós Matís não queremos a presença do Bruno na Frente de Proteção Etno Ambiental do Vale do Javari – FEAVJ. Caso, o Bruno vier, serão uma afronta e desrespeito com o povo Matís. Durante a reunião nós Matís telefonamos para o Fabricio perante o Junior para saber se o Bruno Cunha ainda permanecia com a portaria acima citado.
Amorim respondeu o nosso telefonema, dizendo que não iria resolver, porque o João Pedro estava saindo da presidência da FUNAI na segunda feira dia 30/05/2016. E que o Bruno não ia voltar agora, iria trabalhar com Riely em outras frentes e depois que nós Matís acalmassem, voltaria para trabalhar na FPEAVJ. Com isso, nós Matís ficamos mais revoltados, e pedimos ao Junior Nazaré fazer documentos sobre a animosidade dos Matís das aldeias do Rio branco, em ocupar a sede da FUNAI. O Junior se negou dizendo que ele não tinha autonomia de fazer esse documento. Com isso, nós Matís pedimos para ele mesmo fazer carta ao presidente da FUNAI para se exonerar do cargo de coordenador interino, porque ele não estava resolvendo nada. Diante disso, a liderança Ivan Matís deu recado ao Junior Nazaré que se ele não tomasse providencia a sede seria novamente ocupado.
A nossa situação estão cada vez mais tensas nas aldeias com a portaria do Bruno, as lideranças tradicionais criaram ódio contra os responsáveis, não querem mais o Bruno na região. As lideranças estão prontas para descer para Atalaia do Norte e ocupar a sede da FUNAI, caso não fosse exonerado o servidor.
Para piorar a situação, nesta segunda feira dia 30/05/2016, ao chegarmos à FUNAI para reunião que ficou marcado, fomos informados pelo vigia que as atividades na FUNAI estavam suspensas e o Junior já tinha abandonado a sede, que o Junior Nazaré comunicou apenas aqueles funcionários do seu grupo, que é o grupo do ex-coordenador. Depois deparamos que o grupo estava despachando e atendendo outros indígenas na casa da Danile Brasileira e Junior Nazaré. Como disseram que a atividade da FUNAI estava suspensa, mas os carros continuam transitando com os servidores desse grupo normalmente.
No dia 26/05/2016, os povos indígenas do Vale do Javari, fizeram uma carta, direcionando ao senhor Exmo. Sr. Artur Nobre – Presidente Interino da Fundação Nacional do Índio – FUNAI:
“Nós povos indígenas do Vale do Javari abaixo representados, reunidos na sede da UNIVAJA – União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, nesta data (26.05.16), na sede do município de Atalaia do Norte, preocupado com atual contexto enfrentado na região, vimos reiterar nossa reivindicação da CARTA N˚006/UNIVAJA/2016datado do dia 02 de março de 2016 e entregue em mãos ao ex-presidente do órgão João Pedro Gonçalves, na ocasião da audiência realizada no dia 06 de março, no plenário da Câmara Municipal de Atalaia do Norte. De imediato, além dos 17 (dezessete) itens acordados com o Presidentedo órgão, pedimos a nomeação do DARCY DUARTE COMAPA para o cargo de Coordenador Regional da CR Vale do Javari e revogação da transferência do ex-coordenador BRUNO DA CUNHA ARAÚJO PEREIRA para Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari, tendo em vista a relação hostil do povo Matís com o referido servidor. Nosso posicionamento quanto a situação mencionada é com intuito de precaver de qualquer atitude que venha acontecer com o tal servidor. Desta forma, pedimos a celeridade do pedido e as providências necessárias quanto ao pleito acordado para que possamos reafirmar nossas parcerias com o órgão indigenista oficial”.
Na tentativa de dialogar com a FUNAI, para evitar qualquer conflito que venha acontecer no futuro. Porém, o presidente da FUNAI João Pedro vem duvidando com nós Matís, desrespeitando a nossa forma de ser, não considerando que somos um povo de recente contato, que merece respeito pela própria FUNAI, mas, estamos prontos para ocupar e revidar qualquer problema que venha acontecer contra o nosso povo.
Nós representantes do Povo Matís estamos exigindo da FUNAI uma atenção para evitar conflito que venha acontecer. Mas, a FUNAI não quer dialogo e não atende o nosso pedido. Para contrariar e se manterem no cargo, os servidores do órgão estão usando índio contra índio, enquanto queremos dialogar e a solução do problema em nosso meio.
Coordenação da AIMA.
Atalaia do Norte – AM, 30 de maio de 2016.