25/05/2016

No Amazonas, povo Madija Kulina realiza sua primeira Assembleia Indígena

O povo Kulina é um povo numeroso que tem suas aldeias e terras indígenas distribuídas na calha do rio Juruá e também nas margens dos rios Purus e Jutaí. Os Kulina se autodenominam madija e falam a língua própria que pertence à família linguística arawa.


Os constantes deslocamentos dos Kulina – motivados por questões culturais – se intensificaram a partir do contato com os colonizadores da região. Atualmente, temos algumas terras indígenas demarcadas para o usufruto exclusivo desse povo indígena. Contudo, esse modelo de territorialidade, na medida em que garante o direito a terra, também condiciona vários subgrupos Kulina a conviverem e dividirem o mesmo território. Esse modelo também impossibilita ou dificulta os deslocamentos.

Nesse sentido, a homologação da Terra Indígena (TI) Kumaru do lago Ualá, como território Kulina, representou uma grande conquista. Porém, a falta de políticas públicas visando o reconhecimento e a proteção territorial, bem como o desenvolvimento de ações integrais nas áreas de saúde, educação escolar, apoio a geração de renda… Acabou garantindo apenas o território, deixando esse povo a mercê de vários tipos de explorações e violências. A introdução sistemática (e histórica) de bebidas alcoólicas, na vida dos Kulina, foi utilizada como um mecanismo chave de dominação e de afirmação de velhos preconceitos sofrido pelos indígenas. Nos últimos anos, a população da TI Kumaru tem sido vítima de uma série de assassinatos e afogamentos decorrentes do consumo de bebidas alcoólicas.

Perante o cenário de abandono e descaso, como forma de fazer resistência e enfrentamento às problemáticas existentes e constantemente vivenciadas pelo povo,  Lideranças indígenas Kulina das oito aldeias que compreendem a Terra Indígena Kumarú do Lago do Ualá, em parceria e com o apoio do Conselho Distrital de Saúde Indígena (CONDISI médio rio Solimões e afluentes), da Associação de Mulheres Indígenas do Médio Solimões e Afluentes, da equipe do Conselho Indigenista Missionário – CIMI da Prelazia de Tefé e do Distrito Sanitário Especial Indígena do Médio Rio Solimões e Afluentes, convocaram e protagonizaram a Assembleia Indígena do Povo Madija Kulina, que aconteceu nos dias 12 e 13 de maio de 2016, na aldeia Pau – Pixuna, a qual teve como objetivo discutir a questão do consumo de bebidas alcoólicas; os assassinatos e mortes envolvendo Kulina; a educação escolar indígena; a proteção territorial; os benefícios sociais e o reconhecimento étnico.


A assembleia contou com a participação de aproximadamente 90 pessoas. Estiveram presentes representantes várias entidades e órgãos públicos ( FUNAI – SEDE/Brasilia, Coordenação Regional da Funai do Alto e Médio Solimões – Tabatinga, Coordenação Tecnica Local da Funai de Juruá, Ministério da Saúde, SESAI Brasília, Representante da Prefeitura Municipal de Juruá, AMIMSA, UNIPI-MSA e DSEI – MRSA), bem como as lideranças de todas as aldeias da TI (Lago Preto, Pau-Pixuna, Boca do Pau-Pixuna, Campina, Beiradao, Marupa, Morada Nova e Mapiranga).
Durante a assembleia, foi traçado um plano de ação que tem como foco o enfrentamento do problema da alcoolização como uma questão coletiva. No final do evento foi aprovada uma carta final com os principais encaminhamentos acerca das discussões.

Para o Povo Madija Kulina a assembleia foi um momento de revitalizar, motivar e fortalecer cada um/a e principalmente coletivamente para lidarem com as problemáticas existentes nas aldeias, de festejarem com a dança do Ajié, com a parceria dos aliados, o povo possa retomar sua autoestima e poderem vivenciarem o Bem Viver.

Clique aqui para ler, na íntegra, a carta aberta elaborada pelo povo Madija Kulina ao final de sua primeira assembleia.

Genoveva Amorim – Indigenista
Francisco Amaral e Fábio Pereira – Cimi/Prelazia de Tefé

Fonte: Francisco Amaral e Fábio Pereira (Cimi/Prelazia de Tefé) e Genoveva Amorim
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