Cinco minutos de insanidade: aprovação do relatório da CPI do Cimi desmascara parlamentares ruralistas
Cai a máscara. Entram em cena os atores. Três dos cinco membros da CPI do Cimi fazem uma sessão relâmpago e aprovam um relatório. Ou melhor, apenas oficializam o que tentaram construir em cinco meses: a criminalização dos povos indígenas e seus aliados.
O relatório de 222 páginas, que conforme a ruralista Mara Caseiro, presidente da CPI, será enviado a inúmeros órgãos e entidades, desde a Presidência da República ao Vaticano, é eivado de afirmações tendenciosas, sendo o Cimi citado como "Organização criminosa", cuja atuação desestabiliza o agronegócio (Agora MS 11/05/2016).
Em vários momentos, o deputado Pedro Kemp observou a tendenciosidade dos trabalhos, pois o objetivo das oitivas parecia se limitar a tese já construída contra o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Quem minimamente acompanhou as oitivas durante mais de quatro meses não tem dúvidas de que se pretendeu apenas retardar o reconhecimento dos territórios dos povos indígenas, fazendo acusações contra lideranças indígenas e seus aliados.
As perguntas dos ruralistas que comandavam as sessões incluíam depois de acusações, impreterivelmente, o mesmo julgamento pré-estabelecido: “Então vocês concordam que o Cimi incita e apoia financeiramente a invasão de terras?”. A CPI do Cimi nada investigou, apenas tentou transferir o ônus da acusação para o acusado. O relatório final demonstra que até mesmo tal estratégia acabou sendo um fiasco: como o Cimi havia antecipado, nada seria encontrado para coadunar a entidade com as esdrúxulas acusações ruralistas.
O Cimi, em nota pública, manifestou: “Consideramos que o conteúdo do relatório preliminar se mostra inteiramente fantasioso na identificação dos reais motivos e da origem dos conflitos fundiários envolvendo os povos indígenas e latifundiários do estado do Mato Grosso do Sul e completamente ineficaz no que tange à proposição de soluções efetivas para tema”.
As pedaladas anti-indígenas de Cunha
Meu radinho anunciava um fato importante. Entre chiados e interferências, só consegui entender que Cunha caiu. Até aí ainda parecia dentro de um contexto de normalidade, pois o país não comportava mais ter um de seus poderes comandado por pessoa acusada de tamanhos desmandos. Apesar do aumento do chiado, ainda consegui ouvir o placar esmagador. Com 11 votos a zeros, o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou o afastamento de Eduardo Cunha.
Ao deligar o radinho em Terra Ronca (BA), minha única forma de comunicação durante aquela semana, fui dormir com o coração aliviado. Recordava o ditado da minha infância: a Justiça tarda, mas não falha. E o Brasil voltou a ampliar seu espaço de esperança.
Cunha se notabilizou por atitudes anti-indígenas, dando a impressão de que não apenas transmitia com fidelidade os intentos da bancada ruralista, mas demonstrava incumbir-se da missão com grande esmero. Inúmeras foram as vezes que indígenas foram barrados na entrada da dita “Casa do Povo”, sendo recepcionados quase sempre por policiais e/ou seguranças. Foi Cunha que liberou a instalação da CPI da Funai e do Incra que tenta, a todo custo, atacar organizações do campo.