“Um ano depois do assassinato de Eusébio Ka’apor, direitos indígenas continuam sendo violados no Maranhão e no Brasil”
O Conselho de Gestão Ka’apor divulgou uma nota nesta terça (26), lembrando o assassinato de Eusébio Ka’apor, que completa um ano hoje. Eusébio, que era da aldeia Xiborendá, da Terra Indígena Alto Turiaçu, era agente indígena de saneamento e foi assassinado em uma emboscada no dia 26 de abril de 2015.
Na nota, os indígenas pedem a punição dos assassinos e reafirmam sua determinação de viver conforme seus próprios princípios. “Vamos continuar lutando na vigilância, fiscalização e desenvolvendo nossas atividades produtivas, respeitando a nossa casa que é a floresta. Não vamos deixar que ninguém mude o nosso plano de vida. Não aceitamos que o Estado diga como temos que viver dentro de nosso território. Nós somos Ka’apor, povo da floresta”.
Leia, abaixo, a nota na íntegra:
Um ano depois do assassinato de Eusébio Ka’apor, direitos humanos indígenas continuam sendo violados no Maranhão e no Brasil
Dia 26 de abril de 2015, a 4 km de sua aldeia, Eusebio Ka’apor foi covardemente assassinado com um tiro pelas costas. Dois homens não identificados a mando de madeireiros da região cometeram esse crime brutal a um pai de família e liderança da Aldeia Ximborenda, município de Maranhãozinho, noroeste maranhense.
Ação criminosa articulada e arquitetada por madeireiros que contam com a omissão do Estado e conivência de fazendeiros, parlamentares e prefeitos que tem na atividade madeireira seu negócio garantido.
No terceiro dia após o assassinato, diferentes órgãos de segurança e Funai estiveram na aldeia da liderança e, para não comprometerem os grupos que dão sustentação a política eleitoreira e clientelista na região criaram a tese de latrocínio que depois foi derrubada ao identificarem suspeitos do crime com relação a ação madeireira. Pois, estamos tratando de uma região que possui a última área de reserva florestal ou mosaico ambiental da Amazônia Oriental. A polícia civil de forma inexplicável repassou o inquérito para a polícia federal, que aguardaria uma decisão judicial para poder prosseguir as investigações por se caracterizar conflito de competências. O assassino e mandantes estão soltos e aterrorizando a vida de lideranças indígenas e defensores de direitos humanos na região.
Nunca tivemos qualquer manifestação do governo do Estado e suas instâncias de segurança e direitos humanos, assim como, nenhuma posição de instâncias do governo federal, como a Funai do Maranhão, em punir os criminosos. Os Ka’apor continuam realizando ações autônoma de proteção territorial mesmo correndo risco de vida diante das constantes ameaças, perseguições e agressões dos madeireiros na região. Além do assassinato de Eusebio Ka’apor, nenhuma providência foi tomada para punir os autores dos tiros a dois guardas agroflorestais Ka’apor no conflito do dia 20 de dezembro de 2015 e invasão da aldeia Turizinho por cerca de 60 madeireiros no dia 21 de dezembro de 2015. Ha dois meses, uma adolescente, Irauna Kaapor, foi sequestrada por pessoas ligadas aos madeireiros na região de Centro do Guilherme e, ninguém consegue ter informações sobre o caso.
Vamos continuar lutando na vigilância, fiscalização e desenvolvendo nossas atividades produtivas, respeitando a nossa casa que é a floresta. Não vamos deixar que ninguém mude o nosso plano de vida.
Nao aceitamos que o Estado diga como temos que viver dentro de nosso território. Nós somos Ka’apor, povo da floresta.
Só ela nos ensina e garante nossa vida.
Queremos a prisão, punição de todos que mandaram matar e mataram nossos parentes esses últimos 5 anos por causa da madeira e exigimos uma ação responsável do governo do Maranhão e governo federal para a proteção de nossas lideranças e território.
Conselho de Gestão Ka’apor.
foto: Ruy Sposati