12/04/2016

Comunidade católica do Xingu homenageia dom Erwin Kräutler

No dia 3 de abril, um domingo, dom Erwin Kraütler despediu-se da Prelazia do Xingu, sediada em Altamira (PA), onde vive há 50 anos – 35 dos quais como bispo da Prelazia. Em seu lugar, assumiu o maranhense dom João Muniz Alves.

Por 17 anos, Dom Erwin foi também presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), um ciclo que se encerrou em 2015, quando Dom Roque Paloschi assumiu a presidência da entidade.

Na cerimônia de despedida, a comunidade católica da região do Xingu leu um texto em homenagem ao bispo, agradecendo pelos anos de dedicação à população do Xingu e pela mensagem de amor e respeito transmitida ao longo desse tempo. O texto de homenagem está reproduzido na íntegra, logo abaixo:


Homenagem a D. Erwin

Estimados Arcebispos, bispos, padres, religiosas, religiosos e amado Povo de Deus do Maranhão e do Xingu, peço um momento de vossa atenção e a permissão para pronunciar umas breves palavras.

A Dom João Muniz Alves:

O povo de Deus do Xingu diz: seja muito bem-vindo ao nosso solo sagrado e sinta desde já o carinho desse povo em recebê-lo e tê-lo como nosso bispo. Conte sempre com nossas orações, nosso apoio na missão de cuidar e guiar esse povo que Deus lhe confiou.

Peço sua permissão para que o Povo de Deus do Xingu possa nesse momento fazer uma breve homenagem a um pai, um irmão, um amigo e um bispo muito especial em nossas vidas, em nosso coração e em nossa caminhada de fé no Xingu nesses 50 anos.

Lembrando que desses 50 anos, 35, quase 36, foram como Bispo do Xingu. E cada um que está aqui tem momentos vivenciados com esse amado bispo, que marcou profundamente suas vidas. Por isso se faz necessário dizer essas palavras… dizem que as palavras conseguem expressar o que a alma e o coração sentem quando se ama…

Nosso Amado bispo Dom Erwin,

Hoje é um dia muito especial em nossas vidas no Xingu, voltamos a tempos passados, no ano de 1965, quando motivado desde pequeno pelas histórias contada por seu tio, escolheu vir para o Brasil, após três meses de ordenado. Antes de chegar a essas terras, desembarcou e foi acolhido justamente em São Luís do Maranhão na casa da Ordem Franciscana Menor, a mesma casa de onde vem D. João Muniz. Mera coincidência ou providência divina?

A quem crer que o amor é a maior vocação… e se o amor é a maior das vocações, sabe que o amor de Deus faz maravilhas… e esta é uma das maravilhas!

E o senhor escolheu por amor permanecer aqui no Xingu, desamarrou as sandálias e descansou nesse solo sagrado e aqui realizou por amor a mais bela história missionária de um servo de Deus.

Ao ser ordenado bispo em 1981, simplesmente perguntou ao povo: que bispo o povo gostaria de ter? E o povo prontamente afirmou: “um bispo que vá ao encontro do povo e viva junto e com o povo. E o senhor seguiu à risca essa orientação que este povo do Xingu pediu. Não teve um único dia que faltou a esse compromisso seu com Deus, com o povo e com sua missão. Se olharmos o tempo, é incontável os segundos, os minutos, as horas, os dias, os meses e os anos vivenciados na fé e no amor junto conosco na vivencia dessa missão.

Nesses anos, viveu-se muitos momentos difíceis de tristezas, perdas e angustias, mas esses momentos tornam-se pequeno diante da quantidade de momentos de alegrias e de esperanças provindos dos avanços pastorais, gestos, atitudes e ações incansáveis realizadas por sua pessoa junto com o povo na organização da nossa caminhada missionária no Xingu: organização administrativa e pastoral e já como bispo avançou na criação de mais 13 paróquias, 2 áreas pastorais, 786 comunidades eclesiais de base, implantações de serviços pastorais e organismos sociais. Organizou e implantou nossa instancia maior de decisões e encaminhamentos pastorais “As assembleias do Povo de Deus” onde representantes de todas nossas comunidades decidem as prioridades  de ação pastoral de nossa prelazia, somados a inúmeras lutas em defesa da vida, da conquista dos Direitos humanos, do Estatuto dos povos indígena, da demarcação de terras indígenas…no acompanhamento ao Cimi, na missão de animar a missionariedade no Brasil e junto aos missionários brasileiros além fronteira e também  foi e é a voz profética do Xingu ao mundo. Isso fez toda a diferença, não é? Isso é a marca de sua missão.

São marcos históricos de nossa caminhada, como uma Igreja local fiel à missão profética e à prática libertadora de Jesus que tanto o senhor nos ensinou no anúncio, no diálogo, no serviço e no testemunho de fé e vida.

Agora falar de sua vida e missão como bispo, dizer nosso muito eterno obrigado e obrigada vai mais além dos registros, da história e dos dados estatísticos.

É preciso adentrar o coração de cada um que forma o povo de Deus do Xingu e ao adentrar encontramos em nossos corações o seu coração e nele a pulsar e a ecoar esta mensagem que tão bem nos transmitiu:

“Compreendemos o que é o amor, porque Jesus deu a sua vida por nós; portanto nos também devemos doar a vida pelas irmãs e pelos irmãos…

Ser Servo de Cristo Jesus..”.

Sua vida e missão se resume em compreender o amor e amar ao ponto de doar-se até o fim, foi e é servo para amar, ama incondicionalmente e misericordiosamente, a ponto de doar seu coração as vitimas da miséria… E isto sabemos o quanto o senhor é samaritano, o quanto nesses anos sentiu, compadeceu e teve compaixão diante das dores da injustiça cometida contra o povo ao qual Deus lhe confiou, e foi voz profética desse povo.

Foi Servo que aprendeu a amar, amar sem distinção, ama até os que o caluniaram, ama por compaixão. É servo comunitário que brota sua alegria da vivência comunitária com o povo nas diversas visitas pastorais ao longo desses anos e são tantas histórias a contar!!!

Ama porque ama a graça de Deus, a mesma graça que um dia lhe chamou e prontamente disse: “aqui estou, meu Senhor!”
Foi esse amor a graça de Deus que o fez escutar o Chamado, através de Santa Teresinha;

Foi por amor que disse sim ao chamado e decidiu ser servo de Cristo Jesus.

Tonou-se amor, tornou-se apóstolo: anunciou a Boa Nova sendo profético quando era preciso denunciar tudo aquilo que não condiz com a defesa da vida e com Deus. Isso lhe trouxe critica, calúnias, perseguições e ameaças… mas lhe fortaleceu na fé e na coragem, porque sabia e sabe em quem confiou e depositou sua fé.

Toda sua missão é uma doação de vida pelo Evangelho de Deus, servo orante e contemplativo. Quando anuncia o evangelho de Deus anuncia com convicção, paixão pela causa, a graça divina resplandece no amor que tem ao falar das escrituras ao povo, faz arder nossos corações. É um servo que se nutre da Palavra para ser, falar, fazer e agir em nome de Jesus Cristo. Pertence exclusivamente ao Senhor, foi e é submisso, obediente e fiel a Cristo.

Tornou-se instrumento nas mãos do Senhor, um servo de Deus que adentrou no meio do povo e agradou ao Senhor ao cumprir a missão até o fim, e cumprir essa missão fez-lhe aceitar todo tipo de sofrimento, tortura, injuria e ameaça de morte, mas isso lhe fez aproximar-se mais de Cristo, sentido de pertença ao Senhor.

É a essência da humilde e a certeza da confiança em Deus, porque é servo por vocação, em todas as tribulações nunca saiu de cena mesmo desafiado pelas adversidades, pelo contrário, sempre encontrou força e a palavra certa, na hora certa, no local certo para as pessoas certas no intuito sempre de defender e fortalecer o povo na caminhada da luta por justiça e na defesa da vida. É um servo profético promovedor da paz.

É um servo missionário, resplandece uma missionariedade que fluir do fundo da alma, serve além do extremo, tornou seu coração repleto da vontade de Deus, é um amor gentil, autentico e verdadeiro.

Renunciou sua autonomia, mas não perdeu sua identidade. É claro que, no senhor, é Cristo que vive pela fé, amigo pela fé e graça é servo de Cristo Jesus que entregou-se totalmente por amor. É por esse amor que superou tantos contratempos e sofrimentos sem esmorecer, sem perder o entusiasmo, sem apagar o ardor, sem esfriar a paixão. Não pode ser outra a não se promessa do Senhor! O senhor foi e é dádiva de Deus para nós!

D. Erwin, nossa eterna gratidão, nosso eterno amor que nos ensinou sempre a amar…

E sua missão de servo junto a nós,  povo de Deus do Xingu, ensinou-nos  a sermos missionárias e missionários fazendo de nossas vidas missão aqui nesse solo sagrado. Tornamo-nos junto com senhor  mensageiros de um Deus que é irmão e toda vez que ecoarmos e cantarmos a UTOPIA em nosso olhar brilhará a certeza do irmão e da irmã, reinado do povo.

Foto: Marizilde Cruppe/Projeto Colabora

Fonte: Assessoria de Comunicação do Cimi
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