Indígena é assassinado em Belo Horizonte
No dia 15/01/2016 mais um indígena foi assassinado em Belo Horizonte, na rua 21 de Abril, na região central da Capital. O indígena de aproximadamente 55 anos de idade, ainda sem identificação, sobrevivia naquela região como morador de rua, reconhecido como uma pessoa tranquila e pacífica, sem antecedentes criminais. Ele dormia na calçada quando um jovem se aproximou e iniciou um ataque covarde e cruel com um chute e mais 20 pisadas em sua cabeça. O indígena ficou agonizando na calçada durante cinco horas. Levado ao hospital, não resistiu aos ferimentos e faleceu. O assassino é um jovem bem apessoado que agiu por ódio, preconceito e racismo, comportamento este que está se tornando comum em nossa sociedade, principalmente contra indígenas, negros, prostitutas, homossexuais, todos cidadãos.
Registrado por câmeras de monitoramento do comércio local, o crime teve repercussão nacional, principalmente pela intencionalidade e crueldade contra uma pessoa indefesa. Apesar de estar sendo divulgado que a vítima tem origem indígena, ainda não há informações concretas sobre sua identidade e nem etnia. Entretanto, trata-se de um crime bárbaro, que poderá ficar sem esclarecimento, assim como outros crimes violentos contra indígenas que têm acontecido em Belo Horizonte, sem providências e punição aos assassinos.
Em julho de 2014, o indígena Samuel Pataxó, de 19 anos, da Aldeia Coroa Vermelha, localizada no município de Santa Cruz Cabrália, veio vender artesanato em Belo Horizonte, foi assassinado com vários tiros, e seu corpo foi encontrado dois dias depois em um matagal.
Em março de 2015, o indígena Genilson Lima dos Santos – Pataxó – de 39 anos, também da Aldeia Coroa Vermelha, foi assassinado com um tiro a queima roupa por um policial no Bairro Paraíso, também em Belo Horizonte.
A cidade de Belo Horizonte tem 3.477 indígenas e na região metropolitana da Grande Belo Horizonte há 7.979 mil indígenas, segundo o último censo do IBGE. A maioria dessa população indígena saiu de suas terras e locais originários, fugindo de conflitos e ameaças na luta por seus territórios e também em busca de melhores condições de vida na região Sudeste, considerada a mais próspera do país. Em Belo Horizonte, os indígenas vivem nas periferias, em condições precárias de sobrevivência, vendendo artesanato, fazendo pequenos “bicos” na construção civil, como vigilantes ou participando das ocupações urbanas, na esperança de um terreno para construir um barraco. Existem também alguns vivendo na rua, pedindo esmolas já em situação deplorável, devido ao uso excessivo de bebidas alcoólicas e outras drogas. Esta foi a situação do indígena assassinado brutal e covardemente na última sexta-feira, dia 15/01/2016, por um jovem, bem apessoado, de cor clara e comportamento frio de um assassino.
É importante salientar que em documentos, audiências, reuniões com autoridades e movimentos sociais os representantes indígenas têm reclamado do preconceito e do comportamento truculento e violento da Polícia Militar e da Guarda Municipal quando são abordados e se identificam como indígenas vendendo seus artesanatos, que são muitas vezes impedidos de entrar no metrô, nos ônibus, nos órgãos públicos, trajando suas pinturas, suas vestes, seus instrumentos. Também reclamam dos órgãos públicos que se negam a cumprir a lei na responsabilidade da assistência, no caso a Funai, a Sesai, as Secretarias de Educação e outros, colocando os indígenas que moram nos centros urbanos em total vulnerabilidade social.
É lamentável que pessoas que sobrevivem com as migalhas da sociedade, nas ruas, nas favelas, nos morros, nos becos, nas estradas, geralmente negras e indígenas, sejam submetidas ao preconceito, à discriminação e até ao racismo, gerando tamanha violência.
É lamentável que no século XXI os poderes constituídos, Executivo, Legislativo e Judiciário, tramem para retirar os poucos direitos constitucionais dessas populações, incitando o ódio e a violência.
Ao completar 21 anos do martírio de Galdino, o índio queimado vivo por três jovens de classe média alta de Brasília; ao completar 30 dias do martírio de Vitor Pinto, a criança indígena de 2 anos, que foi degolada em plena rodoviária de Ibituba, sul de Santa Catarina; ao completar 7 dias do martírio do índio sem nome, que foi assassinado com mais de 20 pontapés na cabeça enquanto dormia no centro de Belo Horizonte, o Conselho Indigenista Missionário vem lamentar, mas também denunciar e exigir providências contra toda a violência praticada por particulares e pelo Estado contra toda a população pobre e desprotegida, alvo do preconceito, discriminação e racismo em nosso país.
Denunciamos que os indígenas estão sendo assassinados em suas terras e fora delas pela ganância do capital e pela imobilidade das estruturas de poder que negociam os seus direitos e por vezes “lavam as mãos”.
Conselho Indigenista Missionário – Regional Leste
Janeiro de 2015