Povo Gamela retoma nova fazenda no Maranhão
No fim da tarde de terça-feira (1º/12), indígenas do povo Gamela realizaram a retomada de mais uma fazenda no Maranhão. É a segunda retomada feita nesta semana pelos Gamela, que já haviam retomado uma fazenda na madrugada da última segunda-feira (30/11). Carros estranhos rondam a região, e os indígenas, ainda sem a presença da Funai, temem possíveis ataques de pistoleiros.
A ação do povo Gamela no Maranhão é motivada pela falta de providências da Funai para abrir o processo demarcatório de seu território tradicional. As duas fazendas retomadas incidem sobre o território tradicional do povo Gamela e, segundo denúncia dos indígenas, são fruto de grilagem.
O território tradicional reivindicado pelo povo Gamela compreende uma área de 14 mil hectares doada aos indígenas pelo Estado do Brasil ainda no período colonial, no ano de 1759. Desde então, o território foi sendo invadido e grilado, e o povo Gamela foi sendo confinado em um espaço cada vez menor.
Atualmente, mais de 700 famílias do povo Gamela vivem numa área de apenas 530 hectares, sem espaço para praticar agricultura e, ainda, sofrendo com a grilagem e a destruição de árvores e plantas importantes para sua sobrevivência, como é o caso dos açaizais, utilizados para alimentação, e dos guarimãs, cuja palha é utilizada para confecção de artesanatos. Segundo os indígenas, a destruição destas culturas ocorre também de forma criminosa, com a intenção de retirar sua autonomia e seus meios de sobrevivência.
A fazenda retomada na terça-feira, conforme os indígenas, pertence ao ex-prefeito da cidade de Viana, Benito Filho, e é vizinha à área retomada na segunda-feira. Os proprietários de ambas as terras denunciadas por grilagem moram em outras casas, fora das fazendas retomadas.
Menos de uma hora após a nova retomada, cinco viaturas da Polícia Militar chegaram à área. Após um acordo, apenas uma viatura permaneceu fazendo rondas na região.
Depois disso, no entanto, indígenas denunciam a presença de quatro carros estranhos rondando as áreas retomadas, os quais eles temem serem de pistoleiros. Os carros estranhos chegaram ontem e, hoje, ainda circulam por lá.
Segundo uma liderança Gamela, não identificada por questões de segurança, o clima está "tenso". Ele conta que o proprietário da primeira fazenda retomada, ao qual os indígenas referem-se como “Castelo”, teria ameaçado os indígenas dizendo que esperassem, porque “a hora de vocês vai chegar”.
A Funai já foi notificada pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Secretaria de Segurança Pública do Maranhão, mas ainda não se manifestou sobre a situação e nem compareceu à retomada indígena.
As ações de retomadas de terras aconteceram após a realização da II Assembleia do povo Gamela, ocorrida durante os dias 27 e 29 de novembro. Para saber mais sobre a assembleia e a outra retomada, ocorrida na segunda-feira, clique aqui.
Foto: Rosimeire Diniz – Cimi MA