20/10/2015

Jogos Mundiais Indígenas: promessas não cumpridas

Na semana da abertura do I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMPI), Palmas é marcada pela correria e pelos custos adicionais. Ainda está muito vivo na memória das populações das cidades que sediaram os jogos da Copa do Mundo, no ano passado, os transtornos e o festival de obras inacabadas. Tudo indica que desta vez também não será diferente. Obras permanentes prometidas e projetadas, como um museu do índio e uma piscina olímpica, ficaram apenas no imaginário e no desejo da população. Ficam no ar as perguntas: “será que o dinheiro fugiu? algum ralo se abriu? alguma conta bancária engordou?” Ou será que foi mesmo blefe, com total desconsideração para com os povos indígenas e a população de Palmas.

Apesar deste evento ter sido adiado duas vezes, a infraestrutura, que ficou por conta da prefeitura de Palmas, parece ter sido postergada até os últimos dias antes dos jogos. São melancólicas, para não dizer tétricas, as paisagens do ambiente dos jogos, cheias de tocos de árvores arrancadas, que nada têm a ver com a mensagem de vida e respeito à natureza que os povos indígenas trazem para o mundo e o planeta Terra.

Nos bastidores

Começam a circular, no calor de Palmas, (na chegada, o copiloto anunciou que a temperatura na capital do Tocantins era de 42 graus!), as denúncias em relação ao tratamento dispensado aos voluntários indígenas. Segundo essas informações, dos 550 voluntários cadastrados, 250 estão em Palmas. Os depoimentos afirmam que há uma generalizada desorganização e muita falta de atenção e consideração para com os voluntários. Os voluntários atribuem a responsabilidade à prefeitura, que os colocou em local inadequado para hospedagem e não providencia alimentação suficiente.

“Tem voluntários indígenas que chegaram sem ter pra onde ir e dormir. Eles negaram a estes voluntários que ficassem hospedados com os parentes das delegações que participação dos jogos (que vão ficar numa área restrita que eles, como voluntários, não poderão acessar). E ficam jogando um pra cima do outro, prefeitura, Comitê, PNUD… Só estando aqui para acreditar nisso”. O pessoal da União dos Estudantes Indígenas manifesta sua profunda insatisfação.

 

Ainda em relação às reclamações em relação ao descaso e ao tratamento que a prefeitura de Palmas dispensou aos voluntários, afirmaram: “Chegamos aqui e a prefeitura [que ficou responsável pela gestão dos recursos do Ministério dos Esportes para aplicar na infraestrutura, inclusive para os voluntários] colocou a gente num camping que não dava para dormir, por causa do intenso calor, sem árvore nenhuma e em cima de asfalto. Não tinha sequer água nos banheiros… Fora a alimentação… Ontem conseguimos ter uma reunião com a secretaria e eles vão dar mais de uma refeição pra gente. Eles disseram que se a gente quisesse mais de uma refeição, a gente teria que trabalhar em mais de um turno. Difícil, né?!”

Boas Vindas

Incrivelmente, apesar de todas as denúncias já feitas e da desistência de alguns povos de participar deste evento, o slogan do I JMPI é “Somos todos índios”.

Até parece que, por encanto, encontramos nossas raízes comuns e nos reconhecemos todos como parentes, irmãos, índios. Quem dera… Quiçá, apesar de todas – ou até mesmo devido – às atuais ameaças físicas e aos direitos constitucionais indígenas, seja esse um momento para iniciarmos um processo de mudança de mentalidade, superando nossos preconceitos, racismo, descolonizando nossas mentes e nosso ser.

Com os povos indígenas do mundo, façamos a solene declaração do Conselho Mundial dos Povos Indígenas, de 1975:

“Nós, povos indígenas do mundo, unidos numa grande assembleia de homens sábios, declaramos a todas as nações

Quando a Terra Mãe era nosso alimento

Quando a noite escura formava o nosso teto,

Quando o céu e a lua eram nossos pais,

Quando todos éramos irmãos e irmãs,

Quando os nossos caciques e anciões eram grandes líderes,

Quando justiça dirigia a lei e sua execução,

Aí, outras civilizações chegaram,

E mesmo que nosso universo inteiro seja destruído,

NÓS VIVEREMOS

Por mais tempo que o império da morte”

Fonte: Egon Heck, do Secretariado Nacional do Cimi, e Cimi Regional Goiás/Tocantins
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