Relatora especial da ONU se solidariza com os Guarani e expressa preocupação com situação dos Guarani-Kaiowá
Após uma reunião com a liderança indígena Eliseu Lopes Guarani-Kaiowá, em Genebra, na Suíça, e por ocasião do encerramento do IV Encontro Intercontinental Guarani, no último dia 24 de setembro, a relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os direitos dos povos indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, enviou uma mensagem, gravada em vídeo, de solidariedade e apoio aos Guarani do continente americano. Ela externou, ainda, sua preocupação com a grave situação vivida pelos Guarani-Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, e afirmou que estará monitorando a realidade destes povos no que tange ao respeito aos seus direitos.
“Desejo toda força e energia para que vocês consigam realizar as metas e os objetivos da Federação dos Guarani dos quatro países. Eu certamente estarei monitorando o que está acontecendo em suas comunidades”, assegurou. O IV Encontro Intercontinental foi realizado entre os dias 21 e 25 de setembro, no tekoha Kaákupe, município de Ruiz de Montoya, na província de Missiones, na Argentina, e reuniu centenas de Guarani da Bolívia, Brasil, Paraguai e do país anfitrião.
“Eu já tive a chance de visitar os Guarani no Paraguai e na Bolívia. E tive bons encontros com eles. Então, eu espero que vocês usem esta oportunidade [referindo-se ao Encontro] para fortalecer ainda mais seus direitos e fortalecer seu trabalho no sentido de pressionar os governos para respeitarem os seus direitos”, expressou a relatora.
Ao concluir sua fala, Victoria insistiu que os povos indígenas enviem a ela todo tipo de informação sobre fatos que estejam acontecendo em suas comunidades para que ela possa levar também essas preocupações aos respectivos governos.
Visita ao Brasil
Uma das demandas apresentadas por Eliseu Lopes em sua fala na 30ª Sessão do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, realizada no último dia 22 em Genebra, é a realização de uma investigação independente sobre o sistemático ataque contra os povos indígenas no Brasil, incluída a responsabilidade do Estado brasileiro, tanto por sua ação como pela sua omissão.
Nesse sentido, desde a realização do Fórum Permanente para Questões Indígenas da ONU, que aconteceu em abril deste ano em Nova Iorque, os indígenas têm demandado que a relatora especial da ONU sobre os direitos dos povos indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, faça uma visita às comunidades indígenas do Brasil.
Naquela ocasião, Eliseu fez um convite em nome do povo Guarani-Kaiowá para que Victoria fizesse uma visita ao estado “para sentir de perto e na pele a realidade que estamos vivenciando e denunciando, o dia-a-dia de fome e tensão do povo Guarani-Kaiowá do Mato Grosso do Sul. Somente assim é possível ver as aldeias onde não cabe mais gente, as retomadas, os acampamentos, nossos barracos de lona, a falta de água, comida e educação… pro mundo todo entender como a gente vive”.
Em nota pública divulgada no dia 21 de abril deste ano, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) também recomendou à mesa diretora “que o Fórum Permanente envie urgentemente observadores ao Brasil para que acompanhem a realidade dos conflitos territoriais e a ofensiva estabelecida contra os direitos indígenas nos distintos poderes do Estado”.
Ainda em abril, ao ressaltar a importância das denúncias feitas pela comitiva do Brasil ao longo do Fórum da ONU, Victoria, afirmou, durante um encontro com lideranças indígenas, que pretendia visitar as comunidades do país tão logo recebesse um convite oficial do governo brasileiro.
Para mostrar a realidade ao mundo
Desde a semana passada, Eliseu Lopes Guarani-Kaiowá tem se reunido com representantes de diversos organismos internacionais na Suíça, Alemanha, Bélgica e Itália com o objetivo de denunciar o severo aumento da violência e das violações de direitos contra os povos indígenas no Brasil, especialmente a situação de extrema barbárie que o povo Guarani-Kaiowá enfrenta atualmente no Mato Grosso do Sul. Esta incidência é uma iniciativa do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e das organizações Franciscanos Internacional, Rede de Ação e Informação “Alimentação Primeiro” (Fian-Brasil), Anistia Internacional e Justiça Global, além das agências de cooperação DKA e a H3000, e conta com apoio da União Europeia.
No último sábado (26), foi realizado em Friburgo, na Alemanha, o lançamento da versão em inglês do Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – dados 2014, publicado pelo Cimi. Exemplares do Relatório foram entregues a representantes da Santa Sé, da União Européia, do Alto Comissariado e de oito relatorias especiais da ONU; deputados e a vice-presidente do Parlamento Europeu também receberam os Relatórios.
Assista o vídeo na íntegra: