Belo Monte: o pesadelo da perda lenta do lar de Antônia Melo
Entre os cadastrados para remoção pela Norte Energia, a família de Antônia Melo, coordenadora do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, está se preparando para deixar sua casa na rua Sete de Setembro, bairro Centro, em Altamira (PA). Notificada diversas vezes de que teria que se retirar para que sua casa possa ser demolida, Antônia Melo recebeu um aviso definitivo de que terá que sair até esta terça, dia 08 de setembro. Ela, no entanto, ainda não definiu seu lugar de destino e informou hoje à Norte Energia que precisa de mais três dias para fazer a mudança. Entre casas distantes de onde mora atualmente, Melo procura uma nova moradia que possua quintal para que ela possa plantar. Até agora, nada.
Quem conhece a casa dela, sabe que ela cultiva um enorme jardim com diversas árvores frutíferas, que foram cultivadas por toda sua vida naquele quintal. Carinho e dor se misturam no olhar da Melo quando ela fala de seu terreno e de sua casa. Sobre a mudança, ela disse esses dias que não há uma casa dos seus sonhos que não aquela em que ela mora hoje e que está prestes a deixar.
Terra arrasada
Quase todas as construções na rua de Antônia já foram demolidas, só sobraram a casa dela e de dois vizinhos. A pressão é grande, a fiação elétrica foi destruída – e religada apenas uma semana depois -, e o muro de atrás também já foi derrubado, ainda que a família não tenha deixado a propriedade. Todo dia o pomar de Antônia é invadido e “assaltado” por estranhos que estão colhendo as frutas de suas árvores. O técnico que operava o trator no dia dessa demolição irresponsável disse que “estava apenas cumprindo ordens”.
Mas histórias como a da Melo tem se repetido por Altamira. O ritmo acelerado das máquinas tem arrastado experiências e lembranças e acumulado injustiças entre os escombros das casas demolidas. A área do açaizal, onde mora Antônia Melo, deve ser transformado num projeto de “requalificação urbana”, uma área de lazer e recreação com praça e outros equipamentos. Ela afirma que está em curso um violento processo de limpeza social, expulsando os indesejados de Altamira das áreas centrais para lugares cada vez mais distantes e para os reassentamentos da Norte Energia. Muitas dessas áreas não têm transporte público e a locomoção depende de táxis e mototaxis, que cobram entre 20 e 30 reais de acordo com o destino. Muitos dizem que os “pobres” da cidade só voltarão a frequentar as áreas da orla em datas como natal e réveillon.
Esta é Altamira hoje, aquela que nasceu às margens do Xingu, sendo completamente privada de chegar perto de seu rio. O governo federal e a Norte Energia transformam, dia a dia, toda uma viva e grandiosa paisagem em morte e destruição.