Guarani-Kaiowá são novamente atacados a tiros por fazendeiros no Mato Grosso do Sul
Indígenas do tekoha Guyra Kambi’y. Fotos: Egon Heck. |
Ataque paramilitar ruralista desrespeita pacto pela paz firmado com ministro da Justiça, na tarde de quarta-feira
Fazendeiros desferem novo ataque paramilitar na noite desta quinta-feira, 03, no estado do Mato Grosso do Sul, contra outro grupo Guarani-Kaiowá. O ataque dá-se contra o tekoha Guyra Kambi’y, localizado entre os municípios de Douradina e Itaporã, distante cerca de 30 km de Dourados. O fato ocorre apenas cinco dias após a investida criminosa organizada por fazendeiros, parlamentares e sindicalistas rurais contra a terra indígena de Nanderu Marangatu, no município de Antônio João, que culminou com o assassinato de Simião Vilhalva, 24 anos.
Sob chuva de tiros advindos de uma milícia rural, os indígenas se esconderam como puderam em pequenas picadas de mato, estando até o momento impossibilitados de retornar até suas casas, onde teriam maiores possibilidades de proteção contra o fogo aberto pelos fazendeiros e jagunços.
A pedido das famílias indígenas de Guyra Kambi’y, a Funai informou, em tempo hábil, a Polícia Federal de Dourados sobre o aglomeramento de caminhonetes e de um grupo armado nas imediações de onde se encontravam os indígenas. A Polícia Federal, porém, negou-se a prestar atendimento e garantir destacamento para realização de diligências e proteção dos indígenas.
Para entender:
Guyra Kambi’y é um tekoha (lugar onde se é) localizado dentro do território indígena de Lagoa Rica/Panambi, com extensão de 12.169 hectares, devidamente identificado, delimitado e reconhecido pelo Estado brasileiro, através da portaria nº 524, da Funai, de 12 de dezembro de 2012.
Os Guarani-Kaiowá foram removidos, na década de 1940, da região onde está localizada hoje Guyra Kambi’y e deslocados para a reserva de Dourados. Em 2005, as famílias indígenas iniciaram um grande movimento de retorno e luta pela identificação de Lagoa Rica. Em 2008, após as retomadas de Guyra Kambi’y e Itay, terras indígenas que ficam dentro deste território maior, os estudos da Funai se iniciaram sendo conclusos em 2011 quando foi publicado o relatório antropológico que delimitou o território de Panambi/Lagoa Rica, com de 12.196 hectares.
Após brigas judiciais travadas entre o órgão indigenista e o Sindicato Rural de Itaporã durante mais de três anos em que o procedimento demarcatório ficou suspenso, o Tribunal Regional Federal, 3ª. Região, decidiu, em 2014, por manter a determinação atual que garante os efeitos dos procedimentos demarcatórios de maneira plena. Desde 2008, mais de 15 famílias viviam enclausuradas em cerca de apenas dois hectares.
Com a inércia do Governo em resolver a questão da demarcação, os indígenas retomaram, há dois dias, um pedaço mais amplo de seu tekoha Guyra Kambi’y. Ignorando as advertências e o acordo de paz firmado com o ministro da Justiça, nesta quarta-feira, 02, quando o mesmo esteve no MS, mais uma vez forças paramilitares ruralistas decidiram atacar as famílias Guarani-Kaiowá que buscam apenas sua sobrevivência. Não há notícias, no momento, sobre indígenas feridos.
Brasília, 03 de setembro de 2015.
Cimi – Conselho Indigenista Missionário