10/07/2015

Egydio Schwade, uma homenagem merecida

Egydio Schwade, um dos fundadores do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e da Operação Anchieta (Opan), foi homenageado no dia 07 de julho último pela Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, que lhe outorgou o título de cidadão amazonense. A iniciativa da homenagem partiu do deputado José Ricardo Wendling, do PT.

O gesto fortalece uma perspectiva de Amazônia construída a partir dos povos e comunidades que nela vivem historicamente e que fizeram dela o seu lar, cuidando para que ela pudesse prover sua segurança e a segurança das gerações futuras.

Egydio começou a interagir com a Amazônia e com os seus povos num momento em que ambos estavam sendo dizimados, tendo seus territórios rasgados por estradas, invadidos e saqueados e sendo sistematicamente desqualificados e discriminados nas suas formas de ser e agir. Estava convencido que na experiência milenar destes povos encontravam-se princípios a serem seguidos para assegurar o futuro.

Como Secretário Nacional do Cimi, na década de 1970, andou por diversas regiões da Amazônia, levantando informações e denunciando as  violências praticadas contra os povos indígenas, no contexto do Plano de Integração Nacional da ditadura militar.

A presença de Egydio na Amazônia e o seu olhar sobre a região é marcado pela convicção de que a causa dos povos que aqui vivem vale a pena. Muito diferente do olhar de muitos que chegam na Amazônia e a veem como se ela fosse um estoque de riquezas a ser saqueado ou então uma oportunidade de grandes negócios, perspectiva esta que infelizmente orienta, ainda hoje, muitas políticas governamentais.

Quando em 1980 resolveu fixar residência na Amazônia, escolheu juntamente com sua esposa Doroty, já falecida, (outra bonita história de compromisso com a vida) a região do território histórico do povo indígena Waimiri Atroari, primeiro em Itacoatiara e posteriormente em Presidente Figueiredo, no Amazonas. Era uma região que havia sido tomada de assalto por forasteiros, apoiados pela ditadura militar, que massacraram o povo Waimiri Atroari, destinaram suas terras para a Mineração Paranapanema, para a construção da hidrelétrica de Balbina e distribuíram uma parte das mesmas para “empresários paulistas”. Para facilitar o esbulho, atravessaram-nas com a rodovia BR 174. Chamaram isso de desenvolvimento.

Pode-se por isso dizer que Egydio veio para o Amazonas para lutar contra o desenvolvimento calcado na destruição das experiências milenares de convivência humana harmônica com a natureza. Todas as suas iniciativas foram tomadas para reforçar outra perspectiva de futuro para a Amazônia, na qual necessariamente os povos indígenas teriam um papel fundamental.

Daí se explica o seu empenho, ainda como secretário executivo do Cimi, para a realização das primeiras Assembleias Indígenas interpovos, que possibilitaram a articulação política desses povos na defesa de seus direitos; a convivência dele e da sua família com o povo Waimiri Atroari e o processo de alfabetização ali iniciado, enquanto estratégias de fortalecimento do protagonismo daquele povo na reação ao processo violento de ocupação de suas terras; a criação do Marewa (Movimento de Apoio a Resistência Waimiri Atroari) juntando forças, no apoio aos Waimiri Atroari, e na luta de resistência ao modelo de exploração e depredação; a construção da Casa da Cultura do Urubui e o envolvimento no Comitê pela Verdade e Justiça do Amazonas, para fazer a memória permanente de uma história incômoda para a elite econômica e política que ainda hoje teima em seguir por este caminho.

A prática em favor da vida de Egydio e de sua família, no entanto, não param nessas contribuições. Uma perspectiva de Amazônia diferente da lógica do desenvolvimento, que certamente tem muito a ver com o aprendizado com os povos indígenas, é facilmente percebida por aqueles/as que tiveram oportunidade de visitá-los em Presidente Figueiredo. Os sinais são visíveis em toda parte, nas relações humanas, na acolhida, na agricultura tropical que praticam, enriquecendo a biodiversidade em vez de destruí-la, na abundância e variedade de alimentos, na solidariedade e compromisso com as causas populares.

Egydio, nascido em Feliz/RS, completou 80 anos de vida no dia em que o recebeu o título de Cidadão do Amazonas. Muito mais do que um cidadão do Amazonas, é uma personalidade dos povos do mundo.

Fonte: Guenter Francisco Loebens - Cimi Norte I
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