05/05/2015

Lutar não foi em vão

Linda celebração, comovente. A catedral repleta de gente se juntando em hinos de gratidão e louvor a Deus pelo testemunho e profeta D. Tomás Baldoino. Um ano transcorreu desde sua partida para a morada do Pai, aonde, com todos os povos, vamos um dia nos encontrar. Cheia, a lua veio se juntar ao coro da gente e da natureza num grande momento da memória perigosa de um guerreiro destemido. Assim foi a celebração em homenagem ao ano de falecimento de D. Tomás Baldoino, que aconteceu na catedral da cidade de Goiás, no último domingo (03).

D. Eugênio, bispo da diocese de Goiás, expressou sua admiração pelo profeta Tomás, reafirmando que a melhor maneira de fazermos a memória e honrar essa bonita e radical obra de um homem de fé, é dando continuidade às suas obras e sonhos, principalmente na luta pela terra e os que a amam e respeitam, como os povos indígenas, as populações tradicionais, os sem terra e todos os expulsos da terra. Manifestou também o compromisso assumido pela diocese de Goiás em dar continuidade à luta de D. Tomás no apoio incondicional dos povos indígenas na luta por seus direitos, especialmente o direito à terra/território.

Canutto, em nome da CPT nacional lembrou que a Comissão Pastoral da Terra, tem se sentido um tanto órfã, com a morte de D. Tomás. Mas que ao contrário de sentir-se inibida em sua missão de luta pela terra, reforma agrária e justiça no campo, tem a certeza que essa luta está se fortalecendo, agora com a intercessão de Dom Tomás.

Em nome do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), destaquei a importância da celebração dessa memória perigosa do profeta Tomás. Como contribuição a essa memória, relatei o fato ocorrido em 11 de janeiro de 1977:

“Naquela ocasião se realizava na missão Surumu, em Roraima, uma das primeiras Assembleias de tuxauas (caciques) e lideranças indígenas daquele Território Federal. No reinício dos trabalhos da tarde, uma surpresa: dois representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai), junto com a polícia, dirigiram-se à Assembleia dizendo que exigiam a retirada de D. Tomás, presidente do Cimi, do recinto. Caso contrário, o encontro seria dissolvido. A ordem era do general Ismarth de Araújo, presidente da Funai. Após o impacto de ameaça, o presidente do Cimi se levantou dizendo “Daqui só saio preso”! Instantes de perplexidade . Os índios confabularam entre si, decidindo pela retirada de todos do local. Eles foram concluir sua Assembleia em outro local. Só assim Dom Tomas e Egydio também se retiraram do local”.

Um representante dos acampamentos e assentamentos da região ressaltou a insistência de D. Tomás de que a Igreja deveria estar junto do povo e com ele fazer a caminhada de libertação. E como fruto dessa sua opção foram se criando os grupos de vivência do Evangelho e as Comunidades  Eclesiais de base. Relatou também momentos impressionantes em que se manifestou profundamente a fé e luta de D. Tomás.

No final da emocionante celebração ecoaram canções que expressam a igreja peregrina, para a qual lutar não foi em vão.  Ao contrário, aí estão os testemunhos de uma Igreja que caminha com o povo em suas lutas por direitos, justiça e libertação. Também foi entoada uma canção feita em memória do lutador, de maneira especial dentro do grande número de mártires e profetas da atualidade: “Um silêncio que se faz, cai a tarde, bate o sino, segue em frente, vai em paz, para sempre, Baldoino”.

 

Urubu-ka’apor – em pé de guerra

Essa é a manchete que se podia ver na imprensa em agosto do ano 2.000 (Folha do Paraná – 24/08/2000), seguido da explicitação “Índios vão aos EUA denunciar invasão de áreas”. Na matéria, três caciques da nação Urubu-ka’apor relatam os objetivos da viagem: “vão denunciar, no Museu do Índio Americano e na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, a invasão de suas terras por fazendeiros e madeireiros e o descaso das autoridades brasileiras quando à demarcação de suas terras. A cada dia, aumenta o número de invasores para roubar madeira. É a nossa última tentativa de chamar atenção da opinião pública brasileira e estrangeira para os problemas que estamos enfrentando. Desde 1991 existe uma liminar de reintegração de posse concedida pela Justiça Federal do Maranhão em favor dos índios. Essa liminar já foi revalidada cinco vezes, mas não cumprida.”. (idem)

Quinze anos depois, uma delegação de indígenas brasileiros e aliados denuncia, na ONU, o assassinato de Euzébio ka’apor em função de sua luta contra o esbulho da madeira pelos madeireiros invasores. O secretário do Cimi, Cleber Buzatto, em sua fala no Fórum Permanente da Questão Indígena, ocorrido na última semana, na ONU, manifestou a indignação dos povos indígenas do Brasil por mais essa violência e crueldade. Pediu que o governo faça uma rigorosa investigação e puna dos responsáveis pelo crime.  Além disso, salientou que a única forma de evitar com que esse tipo de violência continue é a imediata retomada da demarcação das terras indígenas por parte do governo.

 

Fonte: Por Egon Heck - secretariado do Cimi
Share this: