21/04/2015

Awá contatada segue à beira da morte enquanto Funai e Sesai decidem quem, como e onde deve atendê-la

O estado de saúde de Jakarewỹj (foto, sentada na rede), indígena contatada pelos Awá no final do ano passado, é grave e espera, urgentemente, por providências concretas para que sua vida seja preservada. Ela se encontra na aldeia Tiracambu, na Terra Indígena Caru, no Maranhão, bastante doente. Jakarewỹj foi levada para a aldeia Awá, junto com seu filho e outra mulher, no final de dezembro.

Os três foram avistados por outros Awá, que caçavam na cabeceira do igarapé Presídio. O grupo avisou os demais Awá na aldeia e voltou com duas dezenas de outros Awá dispostos a estabelecerem o contato. O fato ocorreu no dia 27 de dezembrode 2014, na aldeia Awá.

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Os três indígenas são Amakaria (mulher, na foto com o papagaio na mão direita), Jakarewỹj (mulher) e Irahoa (homem), filho de Jakarewỹj. Os Awá contam que, entre as décadas de 1980 e 1990, Amakaria se recusou a permanecer com o povo após o contato feito pela Fundação Nacional do Índio (Funai), e em uma noite ela voltou para a floresta acompanhada de outros indígenas. Lá eles permaneceram até o final do ano passado.

Funai e Sesai não se entendem 

Desde o último dia 9 de março, por ocasião de uma oficina de capacitação da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), a equipe do DSEI-MA diagnosticou que Jakarewỹj está com uma grave pneumonia. A Survival International divulgou fotos e reportagem alertando a urgência e gravidade do estado de saúde de Jakarewỹj. 

Grave e criminoso é constatar que desde o dia 9, Sesai e a Funai estão em conflito, o que pode levar Jakarewỹj a pagar com a vida enquanto segue definhando perante todos os seus parentes. Um órgão joga para o outro a responsabilidades no atendimento à saúde desses indígenas em situação de contato inicial.

Demonstrando o quanto o Estado não está preparado para atender estes povos, os órgãos dividem opinião entre cuidar na aldeia ou transferi-los para a cidade, onde as condições de infeções seriam maiores. No caso da Funai, virou rotina a preocupação de seus gestores concentrada no próprio temperamento em detrimento daquilo que é mais fundamental aos povos indígenas. A Funai e a Sesai possuem responsabilidades diretas sobre a saúde indígena, portanto é preciso resolver a questão de forma objetiva.

Os dois órgãos assumiram publicamente o desentendimento, pelo qual Jakarewỹj não pode esperar e nem pagar com a vida. Informações levantadas por nossos missionários em área dão conta de que a Sesai pretende fazer a remoção da indígena para a cidade de Santa Inês, mas a Funai é contra.

História repetida

O Cimi denuncia o que ocorre e ao mesmo tempo chama a atenção para evitar que aconteça com Karawaỹj o que já aconteceu como outros Awá. Um exemplo foi a morte de Ajrua, por leishmaniose, uma doença tratável. Até o momento ninguém foi responsabilizado.

Será que uma pneumonia não tem mesmo condições de ser tratada na aldeia Awá, em pleno século XXI, pela Sesai? E a falta de recursos para garantir à Jakarewỹj condições adequadas de restabelecimento da saúde enquanto viveu na floresta?

De acordo com o médico sanitarista Istivan Ivarga, especialista em saúde indígena, “uma pneumonia tem condições de ser tratada na aldeia e caso esteja em estado mais avançado, a Sesai possui condições também para realizar o tratamento em área”.

O Cimi já notificou o procurador da República no Maranhão. O caso de Jakarewỹj nos remete, mais uma vez, a duas reflexões necessárias: o governo brasileiro se mostra despreparado para atender e assegurar, quando necessário, o contato com indígenas em situação de isolamento voluntário. Se a Sesai não consegue tratar de um caso como o de Jakarewỹj, o que dirá o Instituo Nacional de Saúde Indígena (INSI), que o governo federal pretende criar com recursos públicos da ordem de R$ 1 bilhão, mas administrados pela iniciativa privada.

Fonte: Cimi Regional Maranhão
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