Revisitando o Congresso: sem mobilização não há salvação
Os corredores do Congresso se vestiram de belas e múltiplas cores, nessa manhã de quarta-feira. Olhares curiosos, diante de cenas diferentes. Expressões de admiração, de carinho e de curiosidade, considerado exótico. “Que lindos, um mais lindo que o outro”, é o que exclamou uma anônima funcionária do Congresso. Outros pediam para tirar fotos com os índios. Assim como há vinte e três anos atrás, por ocasião da Constituinte, os indígenas voltam ao Congresso, aos gabinetes dos parlamentares para dizer “estamos aqui. Vocês aprovaram a lei maior, mas não a cumpriram. Estamos em luta pelos nossos direitos. Há mais de duas décadas estivemos aqui, ainda um tanto temerosos, mas combativos. Hoje voltamos indignados e revoltados, porque o Estado brasileiro não cumpriu a lei, e ainda ameaçam suprimir nossos direitos”.
O horizonte ainda se pintava de um forte amarelo/laranja, inspirando extasiante beleza, quando os guerreiros e caciques de Rondônia em Brasília, se enchiam de redobradas energias para mais uma jornada de luta pelos seus direitos. Na agenda um café da manhã com deputados. A rigor denominado de “café contra a PEC 215”, pelo deputado Sarney Filho. Foi um momento de traçar estratégias para os duros embates que os povos indígenas, as populações tradicionais e os pobres desse país irão enfrentar durante esse ano.
Nos gabinetes as cenas se repetem. Olhares curiosos, fotos e manifestação de simpatia pela causa e os direitos indígenas. “É importante vocês fazerem essas visitas aos parlamentares para sensibilizar sobre as lutas e direitos de vocês. Vamos olhar com carinho essa questão”.
Outro deputado, mais expansivo, gritou “que entrem os indígenas”. Pediu que um indígena sentasse em sua cadeira para simbolizar o apoio à causa. Porém mostrou-se desinformado quanto ao tema e confidenciou: “Hoje de manhã (ruralistas) ainda passaram aqui pedindo que apoiasse a urgência na tramitação da PEC 215. Agora estou entendendo melhor a questão. Contem comigo”.
Ao entregar o documento nas lideranças dos partidos, os assessores logo diziam saber do que se trata e que imediatamente fariam chegar o documento e o pedido de rejeição da PEC ao líder do partido.
Sem mobilização não há salvação
Nas manifestações do dia de hoje no Congresso, mais de 20 falas deixaram clara a gravidade do momento. Foram unânimes em afirmar a importância da mobilização indígena, como única forma de fazer o enfrentamento com as forças anti-indígenas. E para isso precisam contar com o máximo de apoio e solidariedade da sociedade brasileira e dos segmentos mais combativos que lutam por um outro modelo de desenvolvimento. Alguns parlamentares se referiram à situação de barbárie e violência institucional que precisa ser combatida.
Chico Alencar salientou que é preciso ampliar as mobilizações das praças aos palácios. Lembrou que o governo é refém dos ruralistas, tornando a correlação de forças péssima, num amplo processo de fechamento.
Outra tecla em que houve insistência foi a necessidade de avançar nas alianças e soma de esforços no enfrentamento. Foi ressaltado que a questão ambiental ficou fortalecida no novo Congresso, mas que é preciso aprofundar as alianças desse setor com os povos indígenas, quilombolas, populações tradicionais dentre outros.
O secretário do Cimi destacou a gama de iniciativas anti-indígenas não apenas no Congresso, mas também no Poder Executivo e algumas decisões do Judiciário.
O que está em jogo não são apenas os territórios indígenas, mas a própria vida no planeta Terra.
Homenagem ao guerreiro e lutador Aniceto Xavante
Neste início de semana faleceu uma das grandes lideranças que se notabilizou nas lutas pela terra de seu povo Xavante e na participação expressiva no início do novo movimento indígena que se forjou a partir do da década de 1970 e teve nas Assembleias Indígenas, seu grande instrumento de combatividade.
Aniceto, em seus 87 anos de vida, não apenas lutou pela terra e direitos do povo Xavante, mas foi protagonista de vários momentos da luta dos povos indígenas, nas Assembleias Indígenas nacionais e quando, em nome dos povos indígenas do Brasil, entregou ao presidente Geisel documento pedindo que rasgasse o famigerado “projeto de emancipação” (roubo das terras indígenas).