12/02/2015

Boletim Mundo: 10 anos sem Dorothy Stang: para Dom Erwin, muitos envolvidos não foram acusados

Nesta quinta-feira (12) completam 10 anos do assassinato da irmã Dorothy Stang. Sobre o assunto o Amazônia Brasileira desta quarta-feira (11) entrevistou presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e Bispo do Xingu, Dom Erwin Krautler, uma das maiores lideranças da Amazônia. Sempre trabalhando junto às populações tradicionais, ele próprio é obrigado a viver sob escolta policial permanente após as ameças de morte sofridas ao longo dos anos por causa de sua defesa da floresta e dos pobres que nela habitam.

Ouça aqui a entrevista

O bispo acompanha de perto o trabalho da Comissão Pastoral da Terra (CPT) que revela que quase 70% dos crimes motivados por conflitos agrários aconteceram na Amazônia Legal. Aliás, os dados da CPT são estarrecedores.  De 1985 a 2013, a justiça recebeu 768 inquéritos de assassinatos no campo na região amazônica. Apenas 5% desse total chegou a julgamento, segundo a CPT. Pior: somente 19 mandantes receberam algum tipo de punição, sendo que a maioria responde às acusações em liberdade.

Para o bispo, a ausência do Estado prolongou os conflitos fundiáros na Amazônia. De um lado estão os madereiros e latifundiários, e do outro, os colonos que querem um pedaço de chão para plantar suas roças. Segundo o Dom Erwin, Dorothy defendia esses pobres, e ai começaram as perseguições e ameaças. Ela foi morta no PDS Esperança, um projeto de assentamento que tinha como filosofia o desenvolvimento sustentável, onde a selva exuberante, convivia com áreas de plantação dos assentados. Os moradores, no entanto, vinham sendo assediados por madeireiros, que os coagiam com ameaças e a presença constante de pistoleiros rondando o assentamento.

Dorothy Stang vinha denunciando a violência e as ameaças de morte há pelo menos um ano. Em 2004 a religiosa esteve em Brasília, por mais de uma vez, onde ofereceu denúncias ao Ministério da Justiça, à Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, e participou da CPI Mista da Terra, na Câmara Federal. Nada disso adiantou para evitar seu assassinato. Ela foi alvejada, pelas costas, com seis tiros, e seu corpo tombou sobre a terra pela qual lutara até a morte. Em sua mão, a Bíblia que carregava e que leu para os executores antes de virar-se e dar seus últimos passos.

Dom Erwin Krautle conta que chegou a alertar a irmã. Ele teria dito: "Dorothy você precisa ter muito cuidado porque tem muita gente que não gosta de você", e ela respondeu: “E quem vai matar uma velha como eu”.  Segundo o bispo, ninguém realmente acreditava que as ameaças se cumprissem. Para Dom Erwin Krautle foi formado um consórcio de pessoas interessadas em eliminar a irmã e todas as pessoas que se colocassem no caminho dos grileiros, madereiros e latifundiários. Ele acredita que muitos envolvidos no assassinato sequer foram acusados, e não respondem pela morte da irmã.

Na entrevista, Dom Erwin conta ainda momentos da história da irmã Dorothy no Brasil, desde sua chegada no Pará onde se apresentou a ele dizendo que “gostaria de trabalhar com os mais pobres dentre os pobres” até o momento final quando tombou no chão que tanto amava. Já ameaçada de morte, havia deixado explícito seu desejo de que caso isso acontecesse, de ser enterrada no Pará no lugar onde vivia com a população assentada: os mais pobres dentre os mais pobres.

Além disso, ele fala do próprio cotidiano de andanças pelas perigosas estradas da Amazônia, faz um balanço dos últimos 10 anos na região, da situação atual dos Projetos de Desenvolvimento Sustentável, e do sonho de Dorothy, a irmã que, segundo ele, "não foi enterrada: foi plantada".

No dia 12, Dom Erwin Krautler presidirá a cerimônia religiosa pela passagem do aniversário de morte da Irmã Dorothy, que será realizada no Centro São Rafael, em Anapu, onde está o túmulo da religiosa.

O programa Amazônia Brasileira vai ao ar a partir das 08h na Rádio Nacional da Amazônia, em rede com a Rádio Nacional do Alto Solimões, onde é transmitido ao vivo às 05h. A produção e a apresentação são de Beth Begonha.

Fonte: Rádio Nacional da Amazônia
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