17/12/2014

Homens armados são detidos pelos Kaiowá e Guarani em área do tekoha Tey’i Juçu

Quatro homens não identificados foram retidos nesta segunda-feira, 16, pela comunidade do tekoha – lugar onde se é – Tey’i Juçu, município de Caarapó (MS). Os indivíduos circulavam no perímetro da área retomada pelos Kaiowá e Guarani, no último dia 7, e foram apanhados enquanto se dirigiam ao acampamento erguido pelos indígenas. A Polícia Federal foi acionada pela Funai e no final do dia os agentes levaram os quatro homens da terra indígena para a carceragem de Dourados. 

Conforme lideranças Kaiowá e Guarani, os indivíduos estavam armados, dois deles eram paraguaios e teriam sido enviados por fazendeiros para ameaçar e intimidar a comunidade. “Eram pistoleiros, né. Não fizemos maldade não. Apenas pintamos eles, demos cocares e colocamos eles para participar de um ritual e dança do nosso povo. Um deles assumiu que fazendeiro mandou para botar medo, mandar patrício (parentes indígenas) sair”, explica o cacique Lourival Kaiowá e Guarani.

Vander Nishijima, Chefe de Divisão e coordenador interino da Funai em Dourados, solicitou à Polícia Federal o resultado da diligência: “Os indivíduos estavam portando armas de fogo, mas não sabemos de mais detalhes. Quem são, se ficarão presos, ou se trabalham nas fazendas”, diz. Nishijima conta que recebeu uma ligação das lideranças do Tey’i Juçu informando sobre a retenção dos quatro homens. “Então comuniquei aos policiais, que se dirigiram ao local e levaram os indivíduos”, conclui.

As lideranças da terra indígena, que abrange o tekoha Tey’i Juçu, são enfáticas ao dizer que diariamente a comunidade recebe ameaças. Por conta disso os indígenas estavam preparados e aguardando a visita do dia; assim puderam se antecipar e deter o quarteto. Na última sexta-feira, 12, movimentos sociais e organizações de direitos humanos visitaram Tey’i Juçu. “Constatamos um ambiente de vulnerabilidade, como a fome e a falta de acesso a fontes de água potável. As entidades que integraram a visita vão ajudar nisso”, afirma um dos assessores jurídicos do Cimi presente na visita.  

Na última segunda, 15, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) do Mato Grosso do Sul bloqueou por cinco horas a BR-262, na altura do município de Terenos, em defesa da demarcação das terras indígenas e por uma reforma agrária popular, no estado.

“Há anos assistimos o sangue dos indígenas escorrerem nas mãos do latifúndio ou das forças armadas, assim como muitos dos nossos que tombaram na luta por terra e justiça social. Tudo isso por omissão dos poderes constituídos, responsáveis por agir concretamente na demarcação e na Reforma Agrária. Por isso estamos realizando essa ação, e realizaremos quantas mais forem necessárias para chamarmos a atenção dos que precisam resolver essa situação alarmante, antes que uma guerra se instaure em nosso estado”, disse na ocasião Dinho Lopes, da direção estadual do MST-MS.  

A Aty Guasu – grande reunião Kaiowá e Guarani – divulgou uma nota do tekoha Tey’i Juçu sobre a situação da retomada, onde os indígenas reafirmam o que desde o último dia 8 a jovem de 17 anos Julia Venezuela de Almeida está desaparecida depois de ser baleada e ter o corpo sequestrado pelos agressores – fazendeiros, arrendatários e capangas.           

Leia na íntegra a nota da Aty Guasu:

ATY GUASU recebeu e divulga a carta de comunidade Guarani e Kaiowa de tekoha TEY’IJUÇU E PINDO ROKY, CAARAPO-MS-BRASIL.
Carta de comunidade Guarani Kaiowa Tey’i Juçu Pindo Roky/Tey’ikue-Caarapó-MS.

Para: Presidente da República Dilma Rousseff, Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), todas as sociedades nacionais e internacionais, autoridades das Organizações das Nações Unidas- ONU..

Nós representantes e lideranças das comunidades Guarani e Kaiowa reocupantes da terra tekoha tradicional TEY’I JUÇU E PINDO ROKY-Caarapo-MS, vimos através desta carta comunicar as nossas decisões definitivas às todas autoridades sociedades do Brasil e do Mundo. A princípio nós somos um povo indígena/nativo Guarani e Kaiowa, somos originários de nossos territórios tekoha Tey’i Juçu, Pindo Roky, Javorai, somos comunidades ameaçadas de morte sim, resistimos até hoje, os nossos avô e avós foram expulsos e expropriados recentemente de nossas terras tradicionais Tey’i Juçu em meados de 1960, pelos fazendeiros, por essa razão nós reivindicamos a demarcação e devolução de nossas terras desde 1980, mas o governo e justiça federal do Brasil até os dias de hoje não demarcou, afirma e alega que as nossas terras se encontram em estudo, está no TAC, que será demarcada, mas já passaram mais de 20 anos, estamos enganados e fomos enrolados pelo governo do Brasil, cansado de esperar a demarcação, por essa razão, no dia 07 de dezembro de 2014, começamos a reocupar e retomar uma parte de nossas terras tradicionais TEY’I JUÇU, esse movimento de reocupação e retomada de TEY’I JUÇU é a nossa decisão como povo Guarani e Kaiowa, é decisão de comunidade, apoiada sim de todas as comunidades de mais 20 aldeias Guarani e Kaiowa, e de Aty Guasu, hoje somos povos indígenas unidos e resistentes, deixando evidente para todos que essa é a mobilização permanente e decisão definitiva do povo Guarani e Kaiowáa. Esse movimento é do povo indígena Guarani e Kaiowa de Reserva Teyi’kue, apoiadas de mais de 40 mil indígenas, de todas as aldeias e Reservas indígenas. É movimento pela demarcação do tekoha. contra as violências promovidas pelos fazendeiros e suas organizações. Aqui não existem “paraguaios” não! Nem pessoas estranhas não-indios “brancos”. Aqui no tekoha TEY’IJUÇU VOLTARAM REOCUPAR GUARANI E KAIOWA SIM! SOMOS INDÍGENAS GUARANI E KAIOWA, ESTAMOS AQUI RESISTENTES FRENTE A FRENTE COM PISTOLERIOS, NÃO RECUAMOS. Sabemos que os fazendeiros divulgam na imprensa dele, como fossem bonzinhos, alegando que sempre eles seriam bonzinhos com os indígenas. Essa versão dos fazendeiros não são verdades, os fazendeiros já mataram vários indígenas no passado recente, e continuam atacando e assassinado indígenas sim, expulsaram os indígenas de terras indígenas, e continuam massacrando e matando nos indígenas Guarani e Kaiowa, essa é a verdade. Pedimos JUSTIÇA, E PUNIÇÃO AOS FAZENDEIROS ASSASSINOS. No dia 16 de fevereiro de 2013, um dos fazendeiros assassinou o jovem indígena DENILSON BARBOSA. Esse fazendeiro ORLANDINO BEZERRO CARNEIRO declarou e confessou ao delegado da polícia assim: “ eu atirei nos índios e matei o índio sim, fui eu ”, mas não foi punido pela justiça, por isso é mentira quando os fazendeiros divulgam não atacaram às comunidades. De fato, os fazendeiros e seus pistoleiros cercaram e atacaram nós sim, aqui no tekoha TEY’IJUÇU, nos dia 07, 08, e 09 de dezembro de 2014, os três dias consecutivos cercaram nos sim, atiraram em direção das crianças e idosos sim. Durante o ataque e nos meios de tiroteios e fumaças de balas, uma menina indígena Kaiowa sumiu sim! Até hoje não conseguimos localiza-la. Os fazendeiros continuam ameaçando nos sim. Diante desse cerco de pistoleiros e anúncio de mais ataque e ameaça de morte às lideranças e as comunidades por fazendeiros, nos decidimos em permanecer e morar aqui no tekoha TEY’I JUÇU, aqui vamos lutar e resistir, é decisão de um povo Guarani e Kaiowa. Pedimos ao governo federal para demarcar imediatamente o tekoha TEY’I JUÇU, PINDO ROKY, E TODAS OUTRAS TEKOHA GUARANI E KAIOWA. Encaminhamos a nossa decisão a todas as autoridades federais e sociedades, nós Guarani e Kaiowa voltamos sim retomar um pedacinho de nossas terras tradicionais, não vamos aguardar a promessa do governo, so mandar nós esperar eternamente. Antes de continuarmos a retomada de nossas terras aguardamos a posição urgente da presidenta da República Dilma Rousseff. Por fim deixamos claro a todos que aqui no tekoha TEY’I JUÇU recomeça a mobilização das lideranças do Aty Guasu e movimento de RESISTÊNCIA do povo indígena GUARANI, KAIOWA,TERENA, ETC. Sabemos que aqui estamos sofrendo cerco de ameaça de pistoleiros, lá no Congresso e na Câmara Federal os nossos direitos sofrem também ameaça de alteração, por isso, não vamos recuar, vamos lutar firme pelas nossas terras, custe o que custar, nos somos um povos, mais de 50 mil, já convidamos a todos os povos INDÍGENAS como o povo Terena, Kadweu para apoiar nos nessa retomada de terras tradicionais. NOSSA DECISÃO É NÃO RECUAR, VAMOS AVANÇAR NA RECUPERAÇÃO DE NOSSOS TEKOHA SIM.
Atenciosamente,
TEKOHA TEY’IJUÇU, 11 DE DEZEMBRO DE 2014
As lideranças e comunidades do povo Guarani e Kaiowa de tekoha PINDO ROKY, TEY’I KUE, TEY’IJUÇU, Conselho Aty Guasu

 

Fonte: Por Renato Santana, da Assessoria de Comunicação - Cimi
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