Em solidariedade ao povo Guarani-Kaiowá e contra a PEC 215, MST bloqueia BR no MS
A BR-262, no trecho que liga o município de Terenos a capital Campo Grande (MS), amanheceu totalmente paralisada, desde as 6h, pelo MST, que trancou a rodovia em solidariedade aos povos Indígenas e em reivindicação a retomada da Reforma Agrária.
De acordo com a direção estadual do Movimento, a questão das terras indígenas no estado precisa ser resolvida antes que mais sangue inocente seja derramado.
Os Sem Terra de Mato Grosso do Sul reivindicam que os poderes constituídos tomem providências cabíveis e emergenciais para resolver o conflito.
A ação também demonstra o posicionamento contrário do Movimento em relação à PEC 215, que prevê submeter ao Congresso Nacional a decisão final sobre a demarcação de áreas indígenas, atualmente de responsabilidade do Executivo.
A mobilização denuncia principalmente a situação que estão vivendo os indígenas de Caarapó, que ocupam a área tekoha Tey’i Jusu, na margem da Reserva Tey’ikue e estão cercados por capangas armados, que acampam ao lado da ocupação.
Recentemente, lideranças indígenas foram alvos de tiros de arma de fogo e uma jovem de 17 anos foi ferida e desapareceu do local. Há denúncias de que seu corpo tenha sido arrastado por uma caminhonete.
Segundo Dinho Lopes, da direção estadual do Movimento, o MST não é apenas solidário à luta pelo reconhecimento do território indígena, como irá batalhar lado a lado por justiça social.
“Há anos assistimos o sangue dos indígenas escorrerem nas mãos do latifúndio ou das forças armadas, assim como muito dos nossos que tombaram na luta por terra e justiça social. Tudo isso por omissão dos poderes constituídos, responsáveis por agir concretamente na demarcação e na Reforma Agrária. Por isso estamos realizando essa ação, e realizaremos quantas mais forem necessárias para chamarmos a atenção dos que precisam resolver essa situação alarmante, antes que uma guerra se instaure em nosso estado”, afirma.
Lopes também chamou a atenção para a paralisação da Reforma Agrária no estado.
“Temos milhares de famílias acampadas, debaixo da lona, enquanto os processos de divisão de terra estão mofando nas gavetas do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e dos órgãos responsáveis”.
O Sem Terra também destaca para o novo tipo de Reforma Agrária exigido pelo Movimento: a Reforma Agrária Popular. “Não basta apenas dividir a terra, mas tem que dar condições para que as famílias plantem alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos e consigam vender sua produção, promovendo assim a auto sustentação por meio da agricultura familiar digna”, explicou.