Agricultura Xukuru e Natureza Sagrada: Pensamentos e práticas em torno da materialização do “Encantamento do Urubá”
O 2° Encontro Urubá Terra acontece dias 27 e 28 de novembro. Diálogos de saberes e as vozes do Ororubá: resgatando a cultura e protegendo a Mãe Natureza, suas sementes e resistência.
Pelo segundo ano o povo indígena Xukuru do Ororubá, município de Pesqueira/PE realizará através do coletivo Jupago Kreká (forma organizativa responsável pela agricultura Xukuru) o Encontro de Agricultura e Feira de Trocas de Sementes tradicionais, na Aldeia Cana Brava, durante os dias de 27 e 28 de novembro.
Agradecendo o apoio da Rel-UITA à causa do povo Xukuru, e desejando força e encantamento, é que Iran Neves, liderança Xukuru, formado em agronomia, faz-nos chegar o seguinte texto informativo sobre a atividade:
“Com a temática Diálogos de saberes e as vozes do Ororubá: resgatando a nossa cultura e protegendo a Mãe Natureza, nossas sementes, nossa resistência, o II Encontro Urubá Terra tem como objetivo principal integrar o conjunto de experiências que vêm sendo desenvolvidas no seu território, além de promover e potencializar processos coletivos de construção e consolidação do projeto de vida Xukuru, utilizando para isso a agricultura Xukuru como elemento de identidade étnica, princípio organizador da nação Xukuru do Ororubá, fundamento do Limolaigo Toipe (Bem Viver Xukuru)
Nos últimos anos, após a reconquista do Território Sagrado, várias foram as experiências e tentativas desenvolvidas junto a grupos produtivos na perspectiva de melhorar a qualidade de vida das famílias envolvidas buscando identificar e implantar programas e projetos que apoiassem processos de produção e comercialização no interior da terra Xukuru.
O povo e as lideranças Xukuru, comprometidos em desenvolver estratégias de combate às ameaças sofridas, como também devido aos desafios frente ao uso e ocupação do território recentemente conquistado, consideram fundamental para a construção do projeto de vida Xukuru, e consequentemente de sua qualidade de vida, a promoção de práticas e procedimentos da agricultura tradicional, por entender que esse modelo de agricultura é fundamental para a vida Xukuru, baseado no entendimento de que a agricultura tradicional é o princípio organizador das sociedades indígenas.
Destacamos como referência os processos de auto formação vivenciados pelo Coletivo Jupago Kreká, que possibilitou formar e/ou fortalecer estruturas de pensamentos referentes à agricultura e sua relação com o projeto de vida Xukuru em construção.
A agricultura Xukuru passa por um processo transformador e desafiador: pensar, redescobrir, fazer e defender agricultura a partir dos Espaços Sagrados (dos terreiros de ritual). Identificando, para isso, pessoas que, através das suas mãos e ações práticas, fazem atividades agrícolas, e principalmente fazem da agricultura seu modo de vida.
Suas práticas nos levam a refletir e analisar e, posteriormente, a compreender, admirar e transformar essa ação em prol de processos contínuos e coletivos de (re)construção e consolidação do projeto de vida Xukuru.
Os saberes e conhecimentos associados revelam olhares que se “territorializando”, também se tornam diversos e diferentes. Nas nossas dinâmicas sociais criam novas resistências e superações frente às desigualdades, preconceitos e indiferenças.
No esforço de promover os saberes associados em torno da agricultura Xukuru através de processos contínuos de comunicação vivenciados nas dinâmicas sociais, buscamos intensificar as práticas que possibilitam a efetivação do Bem Viver Xukuru (Limolaigo Toipe), alimentando a esperança de que é possível “materializar o Encantamento do Urubá’ , conclui o liderança Xukuru.
Luciana Gaffrée
Montevidéu, 26 de novembro de 2014