28/08/2014

Irmã Beatriz, uma guerreira que nos deixou

Toda morte é sempre uma perda que nos abala, sobretudo, quando vem de forma repentina e leva pessoas no vigor da existência. Foi o que ocorreu com a partida da Irmã Beatriz Maestri, da Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas, que nos deixou no dia 1º de agosto, vítima de um acidente doméstico.

Após oito anos de trabalho em São Paulo, pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), junto aos povos indígenas, especialmente os que vivem fora de suas aldeias, ela voltou a Blumenau (SC) para assumir a coordenação provincial de sua congregação.

Nesse período pudemos conhecê-la de perto e admirar sua dedicação e garra, apoiando essas comunidades que tanto lutam para ver alguns de seus direitos reconhecidos. Não media esforços e nem se assustava com as distâncias, enfrentando muitas vezes incompreensões de pessoas ou o desgaste da burocracia e lentidão do poder público.

Além de ajudar a consolidar a comunidade Pankararé, em Osasco, uma de suas lutas foi acreditar na viabilidade de um conjunto habitacional para o povo Pankararu, que vive no contexto urbano, numa metrópole como São Paulo, onde o metro quadrado é extremamente disputado. Morreu sem ver esse sonho realizado, mas que certamente em breve se tornará realidade.

Uma das características da Igreja de nosso continente é ser uma “Igreja de mártires”. Ao longo desses últimos 50 anos muitos sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos e até alguns bispos, com seu sangue uniram-se à causa dos excluídos. Beatriz foi sempre presente na Celebração dos Mártires, que anualmente as comunidades cristãs de São Paulo celebram. E grande participação teve na organização da Tenda dos Mártires, erguida durante a Conferência do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), em Aparecida.

Ela não foi vítima da violência urbana ou política de nosso tempo, mas sua morte foi banhada de sangue, nesse acidente doméstico inexplicável, mas que pode ter um forte simbolismo. O apóstolo Paulo escrevia que na antiga Lei “todas as coisas eram purificadas com sangue e sem derramamento de sangue não existe perdão” (Hb, 9, 22). Beatriz não necessitava de perdão, mas uniu-se a milhares de outros que deixam essa vida de forma inexplicável, rápida e em pleno vigor dos anos.

Um poema que escreveu revela seu compromisso de guerreira cristã:

“Se a Vida me chamar, estarei alerta!

Com as “armas” da garra, da persistência e da esperança,

sem medo de ousar, arriscar novos traçados,

sem medo de levantar a voz contra as injustiças,

contra todo tipo de opressão e exploração.

Se a Vida me chamar, estarei amando e semeando sonhos!

A chama acesa e o coração ardendo de paixão por Jesus Cristo

e pelo Reino, acontecendo no hoje da história.”

Fonte: Benedito Prezia, da Pastoral Indigenista
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