08/08/2014

XXXV Assembleia do Cimi Regional Maranhão clama apoio da sociedade aos povos indígenas no estado

Além do contínuo ataque dos madeireiros às terras indígenas da região e dos problemas referentes à desintrusão das àreas onde vivem povos isolados, o tráfico de pessoas, o exílio e as migrações forçadas foram outros importantes temas discutidos na XXXV Assembleia do Cimi Regional Maranhão, realizada entre os dias 4 e 7 de agosto, em São Luís (MA). A carta final da Assembleia afirma que o tráfico, a escravização, as migrações e os exílios forçados são originados pelos programas desenvolvimentistas, impostos pelo Estado e pelos governos sobre os territórios e sobre as vidas de povos originários e das comunidades tradicionais. Desse modo, estes programas exterminam os ecossistemas e modos de vida. Leia abaixo a Carta Final da Assembleia na íntegra:

 

Carta da XXXV Assembléia do Cimi Regional Maranhão à sociedade

 

Nos dias 4 a 7 de agosto do corrente ano, em São Luís (MA), os membros do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), representantes dos povos Krikati, Gavião, KrepumKatejê, Krenyê, Gamela e Guajajara, e demais aliados das lutas sociais, estivemos reunidos para refletir e nos posicionar publicamente sobre o tráfico de pessoas, o exílio e as migrações forçadas a que estão submetidos vários povos indígenas. Realidade reafirmada pelos povos presentes, exilados e forçados a migrarem de suas terras.

Por esse motivo vimos a público denunciar e clamar à sociedade brasileira apoio à causa desses povos, histórica e cotidianamente violentados em sua dignidade de filhos e filhas de Deus, exigindo do governo brasileiro que cumpra as leis, ouça o clamor desses povos e haja com humanidade perante o clamor:

Dos Awá isolados que permanecem sitiados e exilados dentro de sua própria terra. Na mesma região onde, em 2012, o Cimi denunciou o ataque de madeireiros a um de seus acampamentos, na Terra Indígena Araribóia. O Cimi obteve provas da presença desses grupos na área atacada, onde permanecem em ação os madeireiros;

Das famílias retiradas da Terra Indígena Awá, que passados quatro meses da conclusão dos trabalhos de desintrusão continuam sem ter  para onde ir.  Tememos pelo retorno dessas famílias para a Terra Indígena Awá, e que recomecem os conflitos com os Awá Guajá;

Dos Krikati, que após uma decisão judicial, tiveram a desintrusão de sua terra suspensa, optando a Justiça pelo alongamento do conflito.

Ao mesmo tempo queremos anunciar a toda à sociedade brasileira que:

Os indígenas Gamela, considerados extintos oficialmente, reafirmaram, em Assembléia própria, sua identidade e sua disposição em buscar o reconhecimento étnico e territorial;

A luta e a resistência do povo Ka’apor, em processo de autoproteção de sua terra para a retirada dos madeireiros, que mesmo diante das violentas represálias, mantém-se firme e clama pelo fim da complacência do governo brasileiro com a invasão e depredação da terra, cessando sua omissão diante dos apelos por respeito e ajuda.

Denunciamos que o tráfico, a escravização da pessoa humana, reduzida à mercadoria, as migrações e exílios forçados, da negação da dignidade humana são originados pelos programas desenvolvimentistas, impostos pelo Estado e pelos governos sobre os territórios e sobre as vidas de povos originários e comunidades tradicionais, exterminado ecossistemas e modos de vida. Este projeto político econômico de morte encontra abrigo nos diferentes poderes do estado, explicitado publicamente pela bancada ruralista tendo, no estado do Maranhão, representantes como o deputado Weverton Rocha (PDT), que articulam e incitam o racismo contra os povos indígenas e contra as florestas.

Diante dessa realidade, renovamos nosso compromisso com a defesa da vida, das florestas, das águas e da justa distribuição da terra, como defensores e aliados (as) junto às causas dos oprimidos e explorados, como cristãos batizados comprometidos (as) com uma Igreja Povo de Deus, o Deus da Vida.

São Luís, 07 de agosto de 2014

Cimi Regional Maranhão

 

Fonte: Cimi Regional Maranhão
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