Professores do AM divulgam documento final do 1º Fórum de Educação Escolar Indígena
Apesar de termos nossos direitos assegurados nos artigos 210, 215, 231 e 232 da Constituição Federal, assim como os artigos 26, 32,78 e 79 da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), bem como no Parecer 14 e Resolução 3, ambos do Conselho Nacional de Educação, constatamos que tais direitos não são respeitados. Sabemos que é dever do Estado ofertar uma educação de qualidade em todos os níveis nas comunidades indígenas, que respeite sua organização social e o modo próprio de aprendizagem com uma educação especifica e diferenciada, conforme a realidade de cada povo. Entretanto, as aldeias acima citadas têm que se adequar ao sistema de ensino das escolas municipais da zona rural, pois a Secretaria de Educação do Município não oferece meios para que sejam elaboradas – em parceria com os gestores, professores e comunidades indígenas – políticas públicas que atendam as demandas de educação escolar indígena, levando em conta sua língua materna, costumes, tradições, organização social, modo de viver de cada povo e festas tradicionais.
A partir das apresentações das realidades da educação escolar indígena nas aldeias do município de Tefé, constatou-se que a deficiência e o descaso por parte do poder público com a Educação Escolar Indígena é geral, havendo enormes conflitos e contradições a serem superados, entre eles:
O desconhecimento sobre a estrutura e funcionamento das escolas indígenas e da especificidade da EEI, por parte da Secretaria Municipal de Educação;
Falta de formação e capacitação para os professores indígenas;
Infra-estrutura precária e, em algumas comunidades, a escola funciona em locais improvisados (casa comunitária, igreja, casa de comunitários).
Faltam equipamentos e instrumentos que facilitem os trabalhos dos professores (impressora, computadores, etc.)
Material didático insuficiente para a demanda dos alunos e que não vai ao encontro da realidade do povo.
O transporte escolar que não é disponibilizado para os alunos, sendo que em algumas aldeias necessitam tanto o fluvial, quanto o terrestre.
Falta o reconhecimento e valorização da escola indígena e do professor como categoria profissional;
O poder público municipal não respeita e nem acata as decisões dos povos indígenas;
As escolas indígenas não dispõem de um calendário especifico e diferenciado;
Recursos humanos insuficientes para o funcionamento das escolas indígenas, além da desvalorização salarial de funcionários.
Falta de merenda escolar suficiente para atender a demanda dos alunos.
Assim, considerando o exposto, pedimos:
A ampliação da participação dos professores e lideranças indígenas nos espaços de Controle Social (Conselho Municipal de Educação), tendo em vista o processo de democratização da gestão do ensino público, nos estabelecimentos oficiais, respeitando a participação das comunidades em conselhos escolares ou equivalente;
A construção, reforma e estruturação das escolas indígenas;
A formação e a capacitação dos professores indígenas, especialmente no que diz respeito aos conhecimentos relativos aos processos escolares de ensino-aprendizagem, alfabetização, a construção coletiva de conhecimento na escola e a valorização do patrimônio cultural da população indígena;
O acompanhamento pedagógico aos professores indígenas para contribuir no desenvolvimento e na melhoria e qualidade de ensino;A criação da categoria de escola indígena, respeitando a autonomia da comunidade na elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP);
A criação da categoria de professor indígena, com respectivo plano de carreira;
A contratação de profissionais (merendeira/o, serviços gerais, secretário/a, vigia) para contribuir no funcionamento das escolas indígenas;
Materiais didáticos suficientes e específicos para cada aldeia;
Melhor distribuição e regionalização da merenda escolar nas aldeias;
O incentivo de programas voltados à produção e publicação de materiais didáticos e pedagógicos específicos para os povos indígenas, incluindo livros, vídeos, dicionários e outros elaborados por professores indígenas juntamente com os seus alunos e comunidade;
Ainda, exigimos o respeito à Coordenação de Educação Escolar Indígena (CEEI), que busca se inserir e se envolver nas discussões que se refere a educação escolar indígena nas aldeias e na cidade, servindo como mediador entre as comunidades indígenas e o poder público municipal.Por fim, ressaltamos que o Fórum de Educação Escolar Indígena, foi pensado e realizado com a intenção de facilitar o diálogo entre os povos indígenas e o poder público para a construção e efetivação de políticas públicas voltadas para a educação escolar indígena, no entanto, não houve a participação de representantes da Câmara Municipal de Vereadores, Secretaria Municipal de Educação, Prefeitura Municipal de Tefé e SEDUC, o que inviabilizou encaminhamentos concretos em relação a um planejamento voltado para a Educação Escolar Indígena. Contudo, as discussões durante os dias de evento foram de singular importância para o fortalecimento de estratégias e articulação em busca da concretização de políticas de educação indígena.
Frente a essa situação exigimos dos vários órgãos, das diferentes instâncias que têm ligação direta ou indireta com a educação escolar indígena, providências para que sejam respeitados e garantidos nossos direitos, em especial o direito a uma educação própria – específica e diferenciada, de acordo com a legislação em vigor, com destaque a Constituição Federal.
Tefé, 06 de Julho de 2014.