Impactos graves e irreversíveis: único legado dos mega empreendimentos para os indígenas
Como parte do “Seminário Internacional Carajás 30 anos, resistências e mobilizações frente a projetos de desenvolvimento na Amazônia Oriental”, aconteceu na tarde do dia 6 de maio, um debate sobre o histórico e as experiências dos povos indígenas diante do modelo desenvolvimentista. Reunindo mais de mil participantes de doze países, o Seminário teve início no último dia 5 e segue até amanhã,
No seminário, uma das expressivas referências do avanço do modelo econômico brasileiro fundamentado na exploração de recursos naturais, especificamente a mineração, é o projeto Ferro Carajás S11 D, maior investimento da Vale e da indústria global de minério de ferro e deverá mais do que dobrar a produção da companhia, para uma produção de 230 milhões de toneladas ao ano, a partir de 2016.
Neste contexto, Rosana Diniz, representante do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), afirmou em sua fala que para os povos indígenas e movimentos sociais o pioneiro Projeto Carajás causa severos impactos desde a década de 1970. Segundo ela, as comunidades indígenas perderam, ou tiveram totalmente alterados, seu modo de ser e viver. Enquanto, antes, ocupavam territórios em que não careciam de nada, com a chegada dos empreendimentos, ficaram sem casa, sem autonomia alimentar, sem saúde, sem dignidade,sem terem sua dignidade respeitada e até mesmo sem território, em alguns casos. Além disso, ainda convivem com o racismo e ameaças de genocídio. “É preciso explicitar que os povos indígenas não estabelecem relação nenhuma com os empreendimentos. O que acontece é a imposição de um projeto de forma totalmente impositiva e assimétrica, em que só resta aos indígenas resistir”, afirmou Rosana.
A antropóloga e professa da Universidade Federal Fluminense (UFF) Eliane Cantarino abordou o papel do Estado na relação com os Awá-Guajá, do Maranhão e a imposição de uma nova ordenação territorial que separou grupos e, através da Fundação Nacional do Índio (Funai), os forçou a se fixarem em aldeias destacou as ameaças ao modo de vida. Ela tamém destacou a importância que a construção do Projeto Ferro Carajás teve na destruição do modo de vida dos Awá e da intensificação da ação madeireira na região. Por último, Eliane ressaltou a postura dos Awá de se recusarem a aceitar este modo de vida evolucionista, fundamentado no integracionismo, proposto pelo Estado Nação.
Representante dos povos indígenas, Elton John Oliveira Suruí, do estado do Pará, relatou os diversos problemas causados pela Vale na região como, por exemplo, os decorrentes dos recursos repassados aos povos Gavião e Xikrim, como forma de compensar os impactos causados pela mineradora. Segundo ele, os recursos causam muita briga interna e impede totalmente a participação destes povos em qualquer protesto contra a Vale, mesmo que não estejam satisfeitos. Por outro lado, inúmeros outros povos afetados pela mineradora não recebem nenhum tipo de conpensação.
“Foi impressionante ver como, durante o debate, várias lideranças jovens, mas com muita maturidade, expressaram profunda indignação com o atual contexto de violação de direitos e, convidando todos para a luta, manifestaram sua disposição para o enfrentamento e reações diante desta situação”, relatou Rosana Diniz.
Para saber mais sobre o Seminário Carajás 30 Anos, acesse: www.seminariocarajas30anos.org