28/03/2014

Filme sobre povo Chiquitano foi censurado por Festival de Cinema de Cuiabá

O documentário “Manoel Chiquitano Brasileiro”, dos cineastas Aluízio de Azevedo e Glória Albuez, sofreu censura prévia pelo Festival Mato-grossense de Cinema e Vídeo. O filme retrata a resistência do povo Chiquitano para ter seu território demarcado, enquanto sofrem pressões da classe política e de fazendeiros da região, que alegam que os Chiquitano não são indígenas, e sim bolivianos.

 

A denúncia de censura partiu dos produtores do filme, que não puderam inscrevê-lo no festival porque seu organizador, o cineasta Luis Borges, teria criado impedimentos de última hora para a inscrição da produção.

 

Isso porque Borges teve acesso ao documentário antes do início das inscrições no festival e depois de assisti-lo teria dito a Aluizio de Azevedo que a secretária de Estado de Cultura, Janete Riva, “não ia gostar muito”, porque seu esposo, o deputado estadual José Riva, aparece no filme dando declarações contrárias à demarcação do território chiquitano.

 

Além do deputado, falas de políticos como o ex-governador Blairo Maggi (PR) também fundamentam o discurso anti-chiquitano. “O nosso serviço de inteligência me passou um relatório bastante extenso aonde demonstra claramente as pressões que as pessoas aqui vêm sofrendo, de querer criar aqui uma reserva chiquitana aonde não existem índios, aonde as pessoas não querem ser índios”, disse o então governador do Estado de Mato Grosso, entrevistado no ano de 2005 durante audiência pública para evitar a demarcação do território indígena.

 

O principal impedimento para a inscrição do documentário foi o tempo de duração. Apesar do consenso entre os festivais audiovisuais do país, que determinam 25 minutos para um curta metragem, o edital do Festival de Cinema de Cuiabá decidiu limitar a 20 minutos o tempo máximo para os curtas – e somente das produções locais, os filmes de fora do Estado poderiam ter até 25 minutos.

 

José Santana, do Cimi regional Mato Grosso, considera que a censura é reflexo do tratamento que o povo Chiquitano, muitas vezes nem reconhecido como indígena, recebe no Estado. “A publicação e veiculação do documentário afetaria a imagem deles… Não há explicação para colocarem esse critério de 20 minutos. Essa censura serve para confirmar que o povo Chiquitano continua sendo perseguido na fronteira… Até hoje sofrem por serem considerados ainda bolivianos e não indígenas”.

 

 

Manoel Chiquitano Brasileiro

 

A produção audiovisual foi selecionada como um dos 15 melhores roteiros entre 890 filmes inscritos no festival nacional Etnodoc.

 

  “A gente plantou aqui 240 pés de banana, e quando nós viemos limpar isso aqui o gerente da fazenda veio e impediu. Ele diz também que aqui não existem os índios. Então, por isso, ele não deixa que nós plante. Mas existe sim! Que nós somos e assumimos nossa identidade. Então não tem dúvida de não ter índio mas tem sim!”

Florêncio Urupê – Aldeia Vila Nova Barbecho – trecho extraído dodocumentário “Manoel Chiquitano Brasileiro”

 

Fonte: Assessoria de Comunicação - Cimi
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