Criança Kaingang de dois anos morre após ser atingida por roda de carro no RS
Uma criança Kaingang de dois anos morreu na manhã da última terça-feira (25) após ser atingida por roda de carro, na BR-386, no município de Estrela, Rio Grande do Sul. Uma das rodas traseiras de um veículo Gol se desprendeu e atingiu a cabeça da criança, arremessando-a para o acostamento. No momento da colisão, a vítima, cujo nome é Maria Eduarda estava com os pais em um ponto de ônibus próximo à BR. Os pais da criança, João Luiz Santos e Claudete Melo sofreram ferimentos leves, mas passam bem.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) do Rio Grande do Sul afirma que já foi instalado um inquérito para investigar o caso e que o incidente ocorreu devido ao desprendimento de uma roda, ocasionado pela falha mecânica do veículo. O proprietário do carro, segundo a PRF prestou socorro à vítima.
A família de Maria Eduarda é da Aldeia do Coqueiro, terra reivindicada pelo povo Kaingang, onde cerca de 150 estão acampados há mais de 40 anos, em 14 hectares. Desde 2010, quando a Fundação Nacional do Índio publicou a Portaria da criação do Grupo de Trabalho (GT), eles aguardam a demarcação de sua terra tradicional. No entanto, o processo está parado.
A morte de Maria Eduarda não é um caso isolado. Atropelamentos são frequentes na região, onde os veículos passam em alta velocidade. A falta de segurança e de redutores de velocidade têm colocado em risco a vida dos Kaingang que vão frequentemente à cidade para vender artesanato, a principal fonte de renda dos indígenas.
A duplicação do trecho interligando Tabaí a Estrela na BR-386 sempre afetou o modo de vida dos indígenas. O projeto começou a ser executado em 2010 pelo Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit). Foram previstos 35 km, destes 33 km saíram do papel, os 2 km restantes constituem a área onde os Kaingang resistem atualmente.
Foto: Carlos Latuff
Os indígenas pedem a demarcação de seu território tradicional e que sejam construídas escolas, novas casas e postos de artesanato, mas o Dnit não cumpriu o prometido. “A gente tem pedido mais segurança, porque próximo da Aldeia do Coqueiro tem uma curva seguido por descida e os carros passam muito rápido. Os acidentes acontecem em função disso. Não é por nossa causa”, denuncia o cacique Valdomiro Vergueiro Kaingang.
Entres os dias 16 e 21 de março, uma delegação de 50 Kaingang esteve em Brasília a fim de reivindicar o aceleramento da regularização de suas terras e denunciaram também a morosidade dos órgãos no reconhecimento de seus territórios tradicionais
Às margens de rodovias, os povos indígenas no Sul do Brasil esperam a demarcação de suas terras, sob frio intenso e atropelamentos. Os acampamentos de lona e madeira explicitam triste realidade a que os povos indígenas estão submetidos. Constituem pequenos espaços de terra onde dezenas de comunidades indígenas estão abandonadas. Na maioria das terras a Funai iniciou o processo de demarcação, porém sem finalização do processo administrativo.