26/11/2013

Xakriabá ocupam Dsei de Governador Valadares (MG)

Aproximadamente 100 indígenas Xakriabá ocuparam a sede do Distrito Sanitário Especial de Saúde Indígena (Dsei) em Governador Valadares (MG), na manhã desta terça-feira (26), com o objetivo de denunciar a desassistência à saúde indígena e o desrespeito com a organização social dos povos, caracterizado pela falta de diálogo e por decisões autoritárias por parte da Coordenação do órgão.

 

Segundo o Cacique Domingos Nunes de Oliveira, as lideranças Xakriabá sempre foram consultadas e ouvidas pelos responsáveis pelos órgãos da saúde, o que não acontece na atual gestão. “Pelo contrário, temos sido atropelados por decisões que prejudicam nossas comunidades e não contribuem para a solução de problemas bastante graves, como a precariedade do saneamento básico e do fornecimento de água. Sem falar que a própria saúde da população é precária. Ainda temos um índice alto de doenças como leishmanionse e Chagas”, declara o Cacique. Por estes motivos, os indígenas pedem a saída da atual Coordenadora, Elizabeth Stheling, que, segundo eles, teria sido indicada por um político que é contrário aos indígenas.

 

“Aqui em Minas Gerais acontece o que vem ocorrendo no Brasil todo: coordenadores do Dsei têm sido definidos a partir de alianças político partidárias, o que faz com que coordenadores sem nenhum conhecimento de saúde indígena assumam estes cargos”, analisa Antônio Eduardo Cerqueira de Oliveira, Coordenador do Cimi Regional Leste.

 

 

Leia abaixo a Carta escrita pelos Xakriabá:

 

Documento do Povo Xakriabá

 

Território Xakriabá, São João das Missões MG, 26 de Novembro de 2013

 

Assunto: Denúncia de falta de atendimento a saúde.

 

Nós, Caciques, lideranças e povo Xakriabá, viemos através deste comunicar as decisões do nosso povo no que se refere ao atendimento executado pelo Distrito Sanitário Especial de Saúde Indígena (DSEI) lotado em Governador Valadares (MG), na pessoa de Elizabeth Stheling.

 

A atual estrutura do Distrito Especial de Saúde Indígena composta pelos estados de Minas Gerais e Espírito Santo vem sendo fragmentada, dificultando o acesso do nosso povo a um atendimento digno de assistência à nossa saúde. Além disso, as intervenções e o atendimento estão sendo realizados sem o devido conhecimento da nossa realidade e com total desrespeito à nossa organização interna.

 

A atuação da coordenação do DSEI tem se prestado a atender interesses políticos, estabelecer conflitos e desrespeitar a nossa organização interna, causando sofrimento ao nosso povo e acelerando o processo de desassistência à nossa saúde diferenciada, fortalecendo a ideia da municipalização da nossa saúde.

 

Durante todo o período em que a atual Coordenadora tem estado à frente do DSEI procuramos dialogar no intuito de encontrarmos uma solução para os diversos problemas que afetam o nosso povo no que se refere ao atendimento a nossa saúde. Vários entendimentos foram construídos e documentados com a atual Coordenadora e, no entanto, os desmandos e o desrespeito com o nosso povo têm prevalecido.

 

Não concordamos com decisões autoritárias que têm por objetivo atender a interesses pessoais e políticos, que nada somam para uma melhoria da qualidade de vida do nosso povo, a exemplo da nomeação de cargos e mudanças, que muito têm nos afetado e contribuído para o acirramento de conflitos dentro do nosso povo.

 

As nossas reivindicações sempre caminharam amparadas por direitos legalmente constituídos, a exemplo da nossa participação no controle social das políticas públicas direcionadas ao nosso povo, fato este constantemente desrespeitado pela atual coordenação do DSEI.

 

Diante do exposto, informamos o fechamento do diálogo com esta Coordenação por entendermos que já utilizamos de todos os espaços possíveis para a construção de entendimentos.

 

Solicitamos a intervenção da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) sob a Coordenação do Dr. Antônio Alves, no intuito de avançarmos na melhoria e efetivação da política pública de Saúde Indígena junto ao nosso povo.

 

 

Povo Xakriabá, em 26 de Novembro de 2013

Fonte: Cimi Regional Leste
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