20/11/2013

Nísio vive: na alegria saltitante das crianças, na resistência resoluta dos adultos

Na alegria saltitante das crianças, na resistência resoluta dos adultos, na dor permanente por não poderem ter feito o sepultamento ritual, pois os criminosos mantém ocultado o corpo. Nísio vive nas árvores frondosas que acolhem e envolvem a esperança e os barracos, no vento, na brisa leve que acariciam os corpos guerreiros e nas borboletas coloridas que bailam permanentemente as margens do rio. Nísio vive na continuidade da luta por sua terra tradicional, o tekoha Guaiviry.

 

Dois anos sem o riso e reza do cacique que fazia brotar a alegria em meio à maior carestia, de seu humilde barraco emergia a força e energia da resistência.

 

A recepção ritual conduzida pelas crianças nos enche de emoção. A alegria delas é contagiante. Por um sombreado caminho adentram à mata até um local mais limpo onde duas velas acesas, lembram os dois anos do brutal assassinato. Naquele local, às 6hs30 do dia 18 de novembro de 2011, tombava Nísio Gomes, vítima de balas assassinas de pistoleiros. Para celebrar essa data, o Conselho da Aty Guasu e representantes das comunidades que retornaram às suas terras tradicionais, se reuniram em Guaiviry para avaliar as diversas situações de luta pela terra, aprofundar a união entre as comunidades, traçar as estratégias para a garantia de seus direitos, cobrar justiça prendendo os assassinos para que a impunidade não continue reinando neste estado. Seus inimigos declararam guerra. Será necessário muita reza e a força que vem dos deuses e dos ancestrais. Precisam mais do que nunca da solidariedade e apoio dos amigos e aliados em todo o mundo.

 

Yvy Katu e o fantasma do despejo

 

Quando vejo o “Intimem-se, cumpra-se”, imediatamente vem à mente as imagens da violência do Estado. Batalhões de homens fortemente armados, com escudos, cães, cavalos e artefatos antimotim. Do outro lado, descalços seres humanos armados com seus instrumentos de reza e sobrevivência, mbarakás, takuaras rituais, arcos e flechas e tacapes. Helicópteros fazendo voos rasantes. As crianças choram, os guerreiros sentem-se humilhados e agredidos pela prepotência, enquanto os Nhanderu e Nhandesi seguem irredutíveis em suas rezas por justiça e respeito a seus direitos a seu pedaço de chão. Imagens revoltantes, daquela manhã do dia 15 de dezembro de 2005 na terra indígena Nhahderu Marangatu. O Conselho da Aty Guasu espera que cenas semelhantes não mais se repitam. Estão solidários com seus parentes da Yvy Katu, com os quais estarão diante de mais essa ameaça.

 

Hoje, dia 20, se esgota o prazo. Os Kaiowá Guarani esperam uma decisão da Justiça Federal, 3ª Região, que confirme o direito inquestionável dessa terra já demarcada. Esperam que não se perpetre mais essa vergonhosa violência contra esse povo.

 

Daqui uns dias estarão celebrando os 30 anos do assassinato de Marçal de Souza Tupã’i. Em memória dele e de todos os que tombaram na luta pela terra Guarani nessas últimas três décadas, esperam que o governo cumpra sua obrigação de demarcar e garantir as terras com a máxima urgência.

 

Impunidade e omissão

 

Mais uma vez cobraram energicamente ação urgente do governo federal e da justiça. Há quatro anos o professor Rolindo Vera foi assassinado e seu corpo continua desaparecido. Os familiares angustiados exigem providências. As lideranças denunciaram que um fazendeiro da região voltou a trancar o portão de acesso ao acampamento, com cadeado, descumprindo decisão da justiça.

 

Manifestaram sua revolta pela omissão do governo na publicação dos relatórios e demarcação das terras favorecendo a guerra contra eles.

 

Chatalin, após ocupar um pequeno espaço próximo à terra indígena Dourados e do acampamento Nhu Verá, afirmou: “Não queremos guerra, queremos apenas a nossa terra para plantar e viver. Estávamos em um acampamento pequeno e passando fome. E daqui não vamos sair mais” (Diário MS, 19/11/13).

 

Fonte: Egon Heck/Cimi
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